O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem alguns motivos para comemorar depois da divulgação da nova pesquisa Datafolha desta semana. De acordo com o levantamento, a maioria dos brasileiros está do lado do petista na disputa pela redução da taxa de juros definida pelo Banco Central (BC), que hoje está em 13.75% ao ano.
Segundo a pesquisa, 80% dos brasileiros afirmam que Lula está correto ao questionar a taxa de juros do Banco Central. Nas últimas semanas, muito se discutiu sobre a necessidade de o presidente pressionar o BC para forçar uma redução da taxa. Além dele, vários outros membros do Governo, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin (PT), criticaram o patamar.
Ainda de acordo com os números do Datafolha, 71% dos entrevistados afirmam que a taxa definida pelo BC está acima do que se poderia chamar de aceitável. Por outro lado, apenas 17% dos brasileiros afirmam que a atual taxa de juros definida pelo Banco Central é adequada, enquanto 5% acreditam que a taxa deveria ser ainda mais alta.
Mudanças na prática
Como dito, nos últimos meses o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem sendo um dos alvos preferenciais do presidente Lula. O petista lembra que Neto foi indicado ao cargo ainda pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e que poderia estar atuando para desestabilizar a economia do país.
Contudo, do ponto de vista prático a pressão de Lula não vinha surtindo efeito na redução dos juros. Na última reunião do BC sobre o tema, ficou definido que a taxa seria mantida no mesmo patamar, ou seja, o banco não cedeu à pressão do Governo Federal sobre o tema.
Agora, a nova pesquisa do Datafolha dá mais uma munição a Lula contra o presidente do Banco Central e contra a atual taxa de juros. Analistas, no entanto, acreditam ser pouco provável que a opinião popular seja levada em consideração nas próximas reuniões de Campos Neto.
Vale lembrar ainda que mesmo que Lula goze de uma alta popularidade sobre este assunto específico, no âmbito geral, o presidente vem sofrendo um aumento da desconfiança sobre o futuro da economia. A mesma pesquisa Datafolha indica que a maioria dos cidadãos acredita que o desemprego vai aumentar, por exemplo.
Arcabouço fiscal x juros
Se, por um lado, analistas acreditam que a opinião popular não tem força para reduzir a taxa de juros, por outro há o novo arcabouço fiscal. A regra que foi apresentada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) na última semana.
Na avaliação do Governo Federal, a nova proposta que prevê a criação de um limite para o crescimento dos gastos no próximo ano, pode fazer com que o BC comece a reduzir, mesmo que paulatinamente, a taxa de juros.
Em entrevista à CNN Brasil no final da última semana, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, falou sobre o assunto.
“Existe um espaço para se construir. O BC claramente precisa de ajuda. Se ele for sozinho, vai ter de fazer os juros trabalharem mais. Então, se tiver um apoio fiscal, da mais espaço para os juros não ficarem tão apertados, eu penso que um arcabouço realista pode dar uma contribuição”, disse ele.