Os brasileiros receberam uma notícia bastante positiva nesta quarta-feira (8). A saber, o percentual de endividamento das famílias do país recuou pelo quarto mês consecutivo e atingiu o menor patamar desde fevereiro de 2022, ou seja, em quase dois anos.
Isso mostra que a quantidade de pessoas sofrendo com dívidas e contas atrasadas segue em queda no país. Em resumo, a redução da proporção de endividados é um reflexo da melhora da renda entre os consumidores de renda mais baixa, que passaram a ter mais condições financeiras para honrar seus compromissos.
Embora os dados sejam positivos, os números continuam muito elevados no país. Em outubro, o endividamento atingiu 76,9% das famílias do país. O número caiu meio ponto percentual (p.p.) em relação a setembro (77,4%) e 2,3 p.p. em comparação com outubro de 2022 (79,2%.
No ano passado, o Brasil teve o maior percentual de endividados já registrado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), mas a situação financeira das famílias do país está melhorando gradativamente neste ano.
Endividamento continua elevado no país
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela Peic, o endividamento perdeu força no país nos últimos meses, mas continua muito elevado.
Em suma, o percentual de endividamento cresceu fortemente no Brasil em 2021, refletindo o impacto da pandemia da covid-19, e a trajetória continuou subindo em 2022, até alcançar o seu ponto máximo em setembro do ano passado (79,3%).
O cenário desafiador em que o país se encontrava, com a inflação elevada, pressionou o Banco Central (BC) a aumentar os juros no país, reduzindo o poder de compra do consumidor.
Entre março de 2021 e agosto de 2022, o BC elevou 12 vezes consecutivas a taxa básica de juro da economia, a Selic. Com isso, a taxa chegou a 13,75% ao ano, maior percentual desde novembro 2016. Contudo, no início de agosto, o BC realizou o primeiro corte dos juros em três anos, e já promoveu outras duas reduções, em setembro e novembro.
Variação do endividamento entre as faixas de renda
Segundo a Peic, os consumidores que tiveram as maiores taxas de endividamento em outubro foram os de renda mais baixa. Por outro lado, os consumidores com os rendimentos mais elevados tiveram percentuais menores no mês passado, mas ainda bastante elevados.
Veja os percentuais de endividamento por faixa de renda em outubro:
- Renda de 0 a 3 salários mínimos: 78,7%;
- Renda de 3 a 5 salários mínimos: 77,2%;
- Renda de 5 a 10 salários mínimos: 74,9%;
- Renda superior a 10 salários mínimos: 74,9%.
No mês passado, o endividamento caiu 0,7 p.p. para as famílias que recebiam até 3 salários mínimos e para as que recebiam de 3 a 5 salário mínimos. Apesar das quedas, estas faixas continuaram com os percentuais mais elevados do país.
Em contrapartida, as famílias com renda de 5 a 10 mínimos registraram crescimento 0,6 p.p. do endividamento em outubro. Já a faixa mais elevada apresentou o mesmo percentual observado no mês anterior.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, disse que a queda do endividamento no Brasil é um sinal positivo e muito importante. “No cenário econômico em evolução, o controle da inflação e o mercado de trabalho favorável têm melhorado a renda das famílias brasileiras, levando menos consumidores a buscar o crédito“, explicou.
“No entanto, a gestão eficaz das dívidas e a redução da inadimplência continuam sendo desafios importantes a serem enfrentados no futuro próximo“, alertou Tadros.
Inadimplência também recua em outubro
Da mesma forma que aconteceu com o endividamento, o número de famílias inadimplentes também encolheu em outubro no país. Segundo os dados da Peic, cerca de três em cada dez famílias estavam com dívidas atrasadas no país.
A taxa chegou a 29,7% no mês passado, recuando em relação à taxa de inadimplência registrada em setembro (30,2%). O número também é menor que o observado em outubro de 2022 (30,3%).
As quedas de endividamento e inadimplência nos últimos meses estão sendo possíveis graças a diversos fatores. De acordo com a economista da CNC, Iziz Ferreira, há pontos positivos em várias áreas, incluindo o mercado de trabalho, a inflação e os juros no país.
“As condições de consumo estão mais favoráveis, com a inflação mais baixa, mercado de trabalho formal absorvendo trabalhadores de menor instrução e juros em processo de queda. Esses fatores estão ajudando a melhorar as condições financeiras dos lares, reduzindo a necessidade de recorrer ao crédito“, disse.
“As políticas de transferência de renda, como a valorização do Bolsa Família e os saques alternativos do FGTS, têm contribuído para aumentar a renda disponível e reduzir o número de consumidores endividados“, acrescentou Izis Ferreira.
Cartão de crédito impulsiona endividamento
A Peic ainda revelou quais foram os principais tipos de dívidas dos consumidores do país em outubro. Veja abaixo os percentuais registrados:
- Cartão de crédito: 87,0%;
- Carnês: 17,0%;
- Crédito pessoal: 9,4%;
- Financiamento de casa: 8,0%;
- Financiamento de carro: 7,8%;
- Crédito consignado: 5,3%;
- Cheque especial: 4,6%;
- Outras dívidas: 2,7%;
- Cheque pré-datado: 0,5%.