O dólar iniciou a semana em leve queda, refletindo o otimismo dos investidores após divulgação de projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2023. A cotação da moeda norte-americana também foi pouco influenciada pelo exterior, já que foi feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos.
Em resumo, o dólar comercial recuou 0,12% nesta segunda-feira (4), fechando o dia cotado a R$ 4,9342. Com isso, a divisa passou a acumular queda de 0,32% em setembro, enquanto o recuo em 2023 chega a expressivos 6,51%.
Por falar nisso, o dólar chegou a cair mais de 11% até julho. Contudo, o resultado de agosto beneficiou a moeda americana, que fechou o mês com ganhos de 4,68%, principalmente por causa dos desafios no cenário internacional.
Melhora na projeção para PIB brasileiro enfraquece dólar
O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (4) a mais recente atualização do relatório Focus. Em suma, a publicação traz estimativas de analistas de mais de 100 instituições do mercado financeiro sobre indicadores econômicos do Brasil.
Nesta semana, os analistas elevaram suas projeções para o PIB brasileiro em 2023, de 2,31% para 2,56%. O avanço é considerado bastante significativo, uma vez que a publicação é atualizada semanalmente. Em outras palavras, as taxas tendem a variar mais levemente devido ao curto período entre as estimativas.
A propósito, isso aconteceu porque, na última sexta-feira (1º), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o PIB do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre de 2023, totalizando R$ 2,65 trilhões. O resultado foi bem menor que o registrado nos trimestre anterior, quando a economia cresceu 1,8%.
Contudo, os analistas comemoraram o resultado, pois o avanço foi bem maior que o esperado pelo mercado. Na verdade, a mediana das projeções indicavam um crescimento de 0,4% do PIB no período, mas o resultado foi duas vezes melhor, animando o mercado e o governo federal.
Com as novas projeções apontando para um avanço ainda mais significativo do PIB em 2023, os investidores tiveram coragem para buscar ativos de risco, deixando o dólar de lado.
Inflação no Brasil preocupa e limita queda do dólar
Embora o aumento das projeções para o crescimento do PIB brasileiro em 2023 seja algo positivo, esse fato também trouxe preocupações para o mercado. Em resumo, quanto mais forte a economia, maior a tendência de aumento da inflação no país.
Para conter a taxa inflacionária, o BC aumenta os juros no Brasil. Aliás, foi justamente isso o que aconteceu nos últimos anos, quando a inflação bateu os 10% no país em 2021. Neste ano, a expectativa é que a taxa inflacionária chegue a 4,92%, estourando a meta pelo terceiro ano consecutivo.
Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu uma meta central de 3,25% para a inflação no país. Essa taxa pode variar entre 1,75% e 4,75%, porque a entidade também define um intervalo de 1,5 ponto percentual (p.p.) para a taxa inflacionária, para cima e para baixo.
Com o risco de a inflação estourar a meta, os investidores já começam a se preocupar sobre a redução dos juros no Brasil. Em suma, o BC manteve a taxa básica de juro da economia brasileira em 13,75% entre agosto de 2022 e julho de 2023, maior patamar desde novembro de 2016.
Contudo, no início deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu em 0,50 p.p. a taxa Selic, para 13,25%. A redução foi maior que o esperado, já que o mercado apostava em um corte de 0,25 p.p., mas os juros continuam muito altos no Brasil.
O Copom revelou que, nas próximas reuniões, realizadas a cada 45 dias, devera reduzir em 0,50 p.p. a taxa Selic. Portanto, a expectativa do mercado é que os juros caiam para abaixo de 10% até o final de 2024, mas o fortalecimento da economia brasileira, mesmo com os juros elevados, poderá impedir o BC de cortar a taxa Selic, pois há chances de aumento da inflação.
Contas públicas ainda preocupam
Além disso, o cenário político e fiscal também deverá continuar no foco dos investidores em setembro, assim como ocorreu em agosto. Na última quinta-feira (31), o Governo Federal enviou o Orçamento de 2024 para o Congresso Nacional.
Em síntese, o governo afirmou que irá zerar o déficit público em 2024, mas os analistas consideram esse objetivo muito ousado. Isso só poderá acontecer se o governo elevar a arrecadação federal. Entretanto, o governo está trabalhando para reduzir os gastos, tentando livrar a população mais pobres de impostos.
Por outro lado, os mais ricos deverão ter que pagar mais impostos no país. O mercado segue de olho na medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 28 que cria alíquotas de 15% e 20% sobre os rendimentos dos mais ricos.
Trata-se da tributação dos fundos exclusivos e o capital aplicado em offshores, cuja tema ainda será votado pelo Congresso Nacional. Caso a proposta seja aprovada e comece a vigorar no país, os grandes investidores poderão tirar seus recursos do Brasil para fugir da alta carga tributária, afetando a economia.