O resultado de agosto não foi muito positivo para o mercado de câmbio. O dólar fechou o oitavo mês de 2023 com uma forte alta de 4,68% em relação a julho. O avanço da moeda americana interrompeu uma sequência de cinco meses consecutivos de queda, período em que a divisa caiu 9,5% (ou 50 centavos).
Em resumo, a alta registrada em agosto correspondeu a 22 centavos, ou seja, o avanço mensal fez o dólar recuperar quase metade das perdas registradas nos cinco meses anteriores. No entanto, as expectativas para setembro indicam recuo da moeda norte-americana ante o real.
Fatores internos devem enfraquecer o dólar
Em agosto, o cenário doméstico influenciou positivamente o mercado de câmbio, enfraquecendo o dólar. Isso aconteceu devido a diversos fatores, como o aumento das projeções para o crescimento da economia brasileira e a redução dos juros no país.
Logo no início de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu em 0,50 ponto percentual (p.p.) a taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic. A redução veio mais forte que o esperado e animou o mercado, ainda mais após o Copom emitir um comunicado, afirmando que as próximas reuniões teriam reduções dos juros nesse mesmo nível.
Quanto mais altos os juros estão, mais forte tende a ficar a moeda do país. Inclusive, o dólar se fortaleceu em agosto devido aos juros elevados nos Estados Unidos, que acabam atraindo mais capital para o país, e isso impulsiona a divisa.
No Brasil, a redução dos juros foi vista como algo positivo, pois, quanto menores os juros, mais força a economia tem para crescer, uma vez que os juros reduzem o poder de compra do consumidor. Como a taxa Selic continua muito elevada, mesmo com a recente redução promovida pelo Copom, os analistas não reclamaram da redução.
Pelo contrário, o mercado reagiu positivamente à decisão, elevando as projeções para a economia brasileira em 2023. Em suma, uma economia forte também atrai investidores de todo mundo, e os bons resultados de indicadores brasileiros ajudaram a limitar um pouco do avanço do dólar em agosto.
PIB do Brasil cresce mais que o esperado
Por falar em crescimento econômico, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou na última sexta-feira (1º) que o PIB do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre de 2023. O resultado representa uma forte desaceleração em relação ao avanço observado no 1º trimestre (1,8%), mas não foi isso o que repercutiu entre os analistas.
Na verdade, a desaceleração já era esperada, visto que o resultado do 1º trimestre foi influenciado principalmente pela agropecuária, fortalecida pela produção e colheita recorde da soja. Contudo, os analistas acreditavam em uma redução ainda mais forte, mas o resultado surpreendeu.
A saber, o mercado acreditava em um crescimento de 0,4% do PIB brasileiro no segundo trimestre, mas o resultado veio duas vezes mais forte, animando o mercado e o governo federal. Aliás, o dólar recuou no pregão da sexta-feira (1º), iniciado setembro cotado a R$ 4,94.
Nesta segunda-feira (4), a moeda americana também está recuando na sessão. Às 13h, o dólar caía 0,64% no pregão, cotado a R$ 4,91. O otimismo entre os investidores está prevalecendo na sessão, mas resta aguardar para ver se o movimento seguirá assim até o final do dia.
Analistas estão atentos ao Orçamento de 2024
Em setembro, o cenário político também deverá prender a atenção dos investidores, assim como ocorreu em agosto. Na última quinta-feira (31), o Governo Federal enviou o Orçamento de 2024 para o Congresso Nacional.
Em síntese, o governo afirmou que irá zerar o déficit público em 2024, mas os analistas consideram esse objetivo muito ousado. Na verdade, isso só poderá acontecer se o governo elevar a arrecadação federal. Entretanto, o governo está trabalhando para reduzir os gastos, tentando livrar a população mais pobres de impostos, mas ainda não se sabe como isso acontecerá.
Por falar nisso, o mercado ainda repercutiu a medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 28 que cria alíquotas de 15% e 20% sobre os rendimentos dos mais ricos.
Trata-se da tributação dos fundos exclusivos e o capital aplicado em offshores, cuja tema será votado pelo Congresso Nacional. Caso isso aconteça, os grandes investidores poderão tirar seus recursos do Brasil para fugir da alta carga tributária, afetando a economia.
Dólar vai subir ou cair em setembro?
Os fatores internos deverão prender a atenção dos investidores em setembro. No entanto, o mercado também ficará de olho no exterior, principalmente nos Estados Unidos e na China, as duas maiores economias do mundo, que estão enfrentando diversas dificuldades para crescer.
Caso o cenário internacional fique mais negativo, o pessimismo entre os investidores poderá impulsionar ainda mais o dólar, fazendo a moeda americana voltar a superar a marca dos R$ 5,00. Contudo, caso os fatores internos aumentem o otimismo de uma recuperação mais firme da economia brasileira, isso poderá ser suficiente para derrubar a divisa americana.