Deputado do PT detona arcabouço fiscal de Haddad: “Pacto com o diabo”
Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que texto do arcabouço fiscal desconsidera situação da economia e pode gerar impopularidade ao presidente
Você já ouviu a frase: “santo de casa não faz milagre”? O ditado popular muito usado em boa parte do país, pode servir para descrever a atual situação do Ministro da Economia, Fernando Haddad (PT). Desde que ele apresentou a sua nova proposta de arcabouço fiscal, o chefe da pasta econômica vem recebendo elogios de agentes do mercado e críticas de aliados do PT.
O mais novo questionamento dentro do mundo do Partido dos Trabalhadores veio do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, ele disse que o texto de Haddad pode ser comparado a um “pacto com o diabo”. Ele fez referência a um famoso trecho do livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa.
“Eu me lembro do ‘Grande Sertão: Veredas’, em que Riobaldo tenta vender a alma ao diabo e o diabo nem responde. É mais ou menos o que está acontecendo com o arcabouço”, disse o deputado, ao indicar que a intenção do governo era usar o arcabouço para tentar reduzir a taxa de juros, mas o Banco Central (BC) já indicou que este não será o caminho seguido.
Impopularidade
Para Farias, o arcabouço fiscal pode se tornar uma grande armadilha, considerando que, na visão dele, a economia está desacelerando. No final das contas, o deputado acredita que todo este processo pode se reverter em altos índices de impopularidade para Lula.
“A grande força do Lula é muito ancorada no que foram seus governos. Houve crescimento econômico, geração de emprego, distribuição de renda. Estamos muito preocupados com a desaceleração da economia. Bolsonaro deixou uma armadilha. Entregou uma economia ladeira abaixo”, disse o deputado.
“Nós precisamos colocar a agenda do crescimento e da geração de empregos como prioridade. Já não temos a política monetária. Em um momento como este, qualquer política fiscal que signifique restrição de investimentos e gastos sociais pode aprofundar a crise e derrubar mais a economia.”
“Juntar o aperto monetário a um aperto fiscal é uma tempestade perfeita. A gente quer contribuir, ajudar a melhorar. Saiu essa proposta do governo. Vamos ver quando chegar escrita. É tentar fazer alterações, emendas, para melhorar o projeto e para atenuar riscos.”
Farias também disse que a bancada do PT no Congresso Nacional não chegou a ser consultada antes da divulgação final do desenho do arcabouço fiscal.
“Não chegou na bancada. O PT não se reuniu para discutir esse tema. Vai ter muito debate no Congresso. Vai ter líder de partidos aliados que vai querer emendar por um lado. É natural que o PT também apresente sugestões e emendas. Queremos melhorar o projeto do governo.”
O arcabouço fiscal
O texto oficial do arcabouço fiscal ainda não foi oficialmente apresentado. Na última semana, o Ministro Fernando Haddad apresentou o desenho geral da proposta. De acordo com ele, a ideia é criar um teto e um piso de gastos para o Governo Federal.
De uma maneira geral, a União poderá gastar mais quando o país conseguir gerar mais receita. Críticos afirmam que, por esta lógica, o país pode não conseguir se desenvolver caso não cresça o suficiente no decorrer dos próximos anos.