CRISE NA SHEIN HOJE pega brasileiros de surpresa
Segundo pesquisas, importações de pequenos valores caiu pela primeira vez desde o ano de 2020. Shein é uma das vítimas
Pela primeira vez em mais de três anos, as vendas de varejistas asiáticas como Shein, Shopee e AliExpress podem estar caindo. Ao menos é o que aponta um estudo realizado pelos analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, do banco Santander. De acordo com a análise, há uma nítida queda no número de vendas de importados de pequenos valor no Brasil.
O estudo revela, por exemplo, que em abril deste ano de 2023, o volume total de compras de importados foi de US$ 701 milhões. Parece muito dinheiro à primeira vista, mas este montante é 20% menor do que o registrado no mesmo período do ano anterior. Trata-se da primeira queda de vendas para este grupo desde 2020.
No Brasil não existe nenhum tipo de pesquisa oficial que indique o ritmo de vendas de empresas asiáticas. Desta forma, o estudo do Santander teve que se basear em informações da balança comercial brasileira, que são normalmente divulgadas pelo Banco Central (BC). Com a queda consolidada, fica a pergunta: por que os brasileiros estão comprando menos no comércio internacional?
Os motivos da queda na Shein
Analistas apontam que a queda no número de vendas de importados de pequeno valor está ligada a uma situação externa: a polêmica envolvendo empresas como Shein com o Governo Federal. Nas últimas semanas, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) vem dizendo que será preciso fiscalizar a taxação destas vendas.
Na prática, estas fiscalizações ainda não foram iniciadas. O Ministério ainda está fechando os últimos detalhes do chamado plano de conformidade. Entretanto, o fato é que muitos brasileiros já estão desistindo de comprar itens nestas marcas já com medo de ter um aumento de preços em relação ao que se praticava antes.
“À medida que as discussões sobre a tributação do comércio eletrônico internacional se materializam, levando a um aumento nos preços desses produtos, pode haver ventos contrários contínuos para empresas como Shein, Shopee e AliExpress”, diz o texto da análise do banco Santander.
Representantes da Shein se encontraram recentemente com o Ministro da Fazenda. Na ocasião, eles se comprometeram a nacionalizar boa parte da sua produção em um curto espaço de tempo. Além disso, eles também garantiram que poderão criar mais de 100 mil empregos no Brasil. De toda forma, analistas ainda estão céticos quanto a força que a empresa terá no país.
Ao nacionalizar boa parte dos seus produtos, a Shein passaria a ter mais dificuldades de sonegar os impostos brasileiros. Na prática, a empresa teria que pagar os mesmos tributos que varejistas brasileiras como Renner e Magazine Luiza pagam, o que poderia fazer com que os preços dos seus produtos subissem para um patamar igual ao da concorrência.
“Boa notícia”
Ainda de acordo com este novo estudo do Santander, o fato de as vendas internacionais estarem caindo, pode acabar sendo uma boa notícia para a economia brasileira. Os analistas argumentam que as reduções podem significar que o mercado nacional vai ganhar mais clientes em breve.
“Vemos os dados de abril sobre as importações de pequeno valor e a tributação em andamento do comércio eletrônico transfronteiriço como positivos para as empresas locais”, dizem os analistas do Santander.
“Especialmente para os varejistas de vestuário, porque, provavelmente, apontam para uma desaceleração no crescimento da Shein no Brasil, que tem sido visto como uma ameaça para companhias como Renner, C&A e Guararapes (Riachuelo)”, completam.
Até aqui, ainda não há muita diferença. Os números práticos revelam que a C&A, por exemplo, teve prejuízo líquido de R$ 126,3 milhões nos três primeiros meses do ano. A Renner viu este mesmo lucro cair 75% em relação ao mesmo período do ano passado. A Guararapes viu o seu prejuízo mais do que dobrar.