Injustiçado? Conheça César Lattes, o brasileiro que quase ganhou o Nobel

Injustiçado? Conheça César Lattes, o brasileiro que quase ganhou o Nobel

O cientista curitibano César Mansueto Giulio Lattes possui em seu histórico uma série de pesquisas renomadas

A plataforma Lattes é um sistema de currículos virtual para profissionais e instituições que integram as áreas de Ciência e Tecnologia que atuam no Brasil. Você certamente já deve ter ouvido falar nela.

Esse nome, Lattes, não surgiu do nada. Ele foi inspirado em um estudioso brasileiro, apesar da grafia estrangeira. A homenagem é para o cientista curitibano César Mansueto Giulio Lattes, que possui em seu histórico uma série de pesquisas renomadas e uma descoberta que rendeu nada menos do que o Prêmio Nobel de Física.

O que? Mas o Brasil então recebeu um Nobel e ninguém sabia?

Bom, é aí que está a questão. César Lattes é considerado, nos bastidores da área científica, o nome por trás da descoberta da partícula subatômica méson pi (píon), que foi a vencedora do Prêmio Nobel de Física. Mas quem recebeu os louros foi  o norte-americano Cecil Frank Powell, em 1995.

É um caso repleto de controvérsias, as quais você poderá ver no decorrer no artigo.

Carreira de César Lattes

Graduado em física e matemática pela Universidade de São Paulo (USP), tornou-se o queridinho de seu professor ucraniano naturalizado italiano Gleb Wataghin.

Em sua geração, é um dos mais brilhantes físicos brasileiros, junto de outros especialistas renomados, como Mário Schenberg e José Leite Lopes, por exemplo.

Lattes esteve à frente, como apoiador ou mentor, de diversos projetos brasileiros para elevar o nível da pesquisa científica no País.

Podemos citar:

  • Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro, em 1949
  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1951
  • Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em 1952

Descoberta do Nobel de Física

A descoberta de uma das subpartículas que promovem a coesão do núcleo do átomo é importantíssima para o universo da física.

Entre os anseios da época, quando se tratava de física atômica, era entender como os prótons se uniam ao núcleo dos átomos.

Lattes então partiu em sua busca para descobrir exatamente essa resposta. Junto ao seu mestre Giuseppe Occhialini, em 1946, integrou a equipe do laboratório de física da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Esse instituto era presidido por Cecil Frank Powell.

Processo de Lattes para descobrir o méson pi

Lattes decidiu estudar os raios cósmicos e não os aceleradores de partículas como os demais pesquisadores estavam acostumados em fazer.

Dessa forma, em 1947, fez uma viagem ao Chacaltaya, nos Andes Bolivianos, que tem um pico de aproximadamente 5 mil metros.

A ideia era ‘fotografar’ lá do alto o caminho que as partículas provenientes dos raios cósmicos. Daria para enxergar essa trajetória analisando as chapas fotográficas de emulsão nuclear, que é de fato um método criado por Cecil Frank Powell.

César Lattes pediu uma adição de boro a mais nas placas fotográficas emitidas pela Kodak. Após sua experiência, a revelação das chapas exibiu uma nova partícula atômica,  conhecida como méson pi (ou píon).

Um artigo redigido pelo próprio Lattes, denominado ‘Processes involving charged mesons’, e publicado pela revista Nature em 1947, relata todas as fases da descoberta.

A controvérsia após prêmio Nobel

Como foi exposto no início do artigo, todo o estudo realizado por César Lattes, incluindo o que foi feito nos Alpes Bolivianos, não motivou a banca analista do Prêmio Nobel.

 

Em 1950, o comitê premiou Cecil Frank Powell, líder do laboratório inglês no qual Lattes integrava o grupo de pesquisa. A condecoração foi pelo desenvolvimento do método fotográfico para entendimento dos processos nucleares e por estudos relativos aos mésons.

De acordo com os responsáveis pela política interna do Nobel, os prêmios concedidos até o ano de 1960 eram destinados a quem chefiava as equipes de pesquisadores. Nesse caso, Powell era o nome que liderava.

Muitos falam até hoje que César Lattes foi injustiçado por conta dessa política. Alegam que ele deveria ter sido o primeiro Nobel brasileiro – e único da história até agora.

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