De acordo com dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), nesta segunda-feira (7), o número de famílias que possuem dívidas em seus nomes registrou em janeiro sua primeira queda após 13 meses de alta. Contudo tal queda veio na esteira da alta dos juros, que encareceu o crédito e fez os consumidores evitarem tomar empréstimos.
A quantidade de dívidas e a alta nos juros fez com que o mercado imobiliário também sofresse defasagem. Cerca de 3 milhões de famílias deixaram de ter acesso ao financiamento imobiliário desde janeiro do ano passado por conta do maior custo do crédito para compra do imóvel próprio.
A alta dos juros e o sonho da casa própria
Segundo cálculos realizados por Alberto Ajzental, coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da FGV (Fundação Getulio Vargas), no mês de janeiro de 2021, os juros estavam em 2% ao ano. Contudo, no dia 2 de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar a taxa para 10,75% ao ano. Este aumento do juro básico é o oitavo aumento seguido.
De acordo com Ajzental, a cada variação de 2,5% da Selic, há o aumento de um ponto percentual no Custo Efetivo Total (CET) envolvido na contratação de um financiamento. E este aumento de um ponto, resulta em 1 milhão de famílias, aproximadamente, perdendo a condição financeira de comprar um imóvel.
O professor acrescenta que os dados não consideram a inflação e o desemprego, que provocam uma corrosão ainda maior no poder de compra da população. Deve-se ter em vista que estes fatores também assumem um grande fardo negativo para a demanda no setor.
Contudo, além do encarecimento do crédito imobiliário, Ajzental lembrou que o aumento do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), que acelerou 0,64% em janeiro, também elevou o preço da construção dos imóveis, o que por sua vez acabou prejudicando ainda mais o setor como um todo.
Aumento de dívidas
De acordo com a pesquisa realizada pela CNC, 76,1% das famílias relataram estar endividadas neste começo de ano, levando em consideração que em dezembro, eram 76,3%, patamar recorde do levantamento da CNC. O percentual segue bem acima do registrado um ano antes, de 66,5%.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, informou em nota que: “o endividamento segue em patamar elevado, e essa redução [do próprio endividamento] é reflexo de um cenário desfavorável, em que o encarecimento do crédito pelos juros mais altos afeta a dinâmica de contratação de dívidas dos consumidores”.
Um dos efeitos da alta dos juros é o número de famílias com dívidas ou contas em atraso, durante os meses de dezembro a janeiro este valor passou de 26,2% para 26,4%, valores estes que representam um maior nível desde agosto de 2020 e a maior proporção para meses de janeiro observada na série histórica da pesquisa.
Na avaliação por faixas de renda, a CNC apontou que a população com dívidas caiu entre as famílias com renda mais baixa, enquanto se moveu na direção contrária entre os que ganham mais. Entre as famílias com ganhos até dez salários mínimos, o percentual de endividados recuou de 77,7% em dezembro para 77,4%. Já entre os que ganham acima desse patamar, a taxa passou de 70,9% para 71,2%.