Brasil lidera ranking global em uso de celular e especialista alerta perigo para saúde mental
Tempo de brasileiros gasto no aparelho subiu 30% em dois anos, o que pode aumentar incidência de ansiedade
De acordo com levantamento feito pela consultoria App Annie, o tempo que brasileiros usam o celular subiu 30% em dois anos. São mais de cinco horas gastas por dia usando aplicativos. Isso foi o suficiente para colocar o País na liderança do ranking.
O número é superior à Indonésia, cujo povo também passou mais de cinco horas usando o smartphone. O top 5 é composto ainda por Índia, Coreia do Sul e México, respectivamente.
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O neurocientista Fabiano de Abreu lembra que os brasileiros lideram outros rankings de tecnologia, como o consumo de Internet e o de solicitação do selo de verificação de redes sociais. Para ele, a ansiedade é o que leva as pessoas a ficarem mais tempo usando aplicativos.
“É essa necessidade de liberação da dopamina, neurotransmissor da recompensa, a necessidade de satisfação, sair da atmosfera negativa que a ansiedade leva”, considera o especialista. De acordo com ele, os conteúdos mais consumidos por brasileiros são os de comédia enquanto temas intelectuais despertam menos interesse. “Há uma fadiga e um prejuízo de atenção para obrigações ou temas sem interesse ou que fogem a
uma solução imediata que supra a negatividade ou infelicidade.”
Isso explicaria porque o Brasil foi considerado o país mais ansioso em 2019 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a entidade, eram 18,6 milhões de brasileiros com transtorno de ansiedade em 2015. A OMS ainda coloca o País entre os cinco primeiros no índice de depressão, com 5,8% da população depressiva, algo em torno de 11,5 milhões de pessoas.
“O Brasil me obriga a usar o celular”?
Abreu ainda lembra que o País tem vivido uma série de problemas políticos, econômicos e sociais, potencializados pela pandemia de covid-19. “As pessoas acabam somatizando isso e ficando cada vez mais ansiosas. A própria violência mantém a ansiedade sempre alta devido ao instinto pela sobrevivência”, afirma.
Como a Internet tem facilitadores para a liberação da dopamina, como um vídeo fofo de uma criança ou uma curtida em uma foto, acaba fornecendo a sensação de alívio que disfarça e “compensa” a ansiedade. O neurocientista destaca, no entanto, que isso vicia e torna a sensação intermitente. “O uso de celulares e acesso aos aplicativos desencadeiam sensações de bem estar momentâneas, como recompensa e desvio de pensamentos negativos que a ansiedade promove.”
Para ele, o cenário futuro é triste, com a possibilidade de alto número de doenças influenciadas pela ansiedade. “A ansiedade não traz riscos apenas pela ansiedade em si relacionado ao sistema imunológico, também acarreta em perturbações, síndrome, doenças que podem levar à morte. A falta de coerência tem relação direta com essa disfunção no sistema emocional relacionado à ansiedade”, finaliza.
Mercado de apps quebra recorde de receita
Outros países também viram o número de horas gastas no smartphone crescer bastante. Rússia e Turquia se destacaram, com 45% e 40% de aumento, respectivamente. Isso afetou a colocação destas nações no ranking, veja:
Com tanto tempo em aplicativos, o valor deste mercado cresceu consideravelmente e quebrou seu recorde. No segundo trimestre de 2021, o gasto global com aplicativos atingiu US$ 34 bilhões. Um crescimento de US$ 7 bilhões em um ano e de US$ 2 bilhões só na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano.
O aplicativo mais baixado no mundo durante o segundo trimestre de 2021 foi o Skins Tools for ff, que permite obter novas roupas para os personagens do jogo Free Fire. Em seguida, vem o TikTok e um aplicativo de que oferece rede VPN.
Já uma pesquisa Uso de Apps no Brasil, feita pela Opinion Box em parceria com o portal Mobile Time, apontou que os brasileiros estão baixando menos aplicativos. Na comparação entre novembro de 2020 e maio de 2021, 15% estão há mais de 30 dias sem instalar um app, um aumento de cinco pontos percentuais. No entanto, 41% dos entrevistados tinham feito um download há menos de 24 horas da realização da pesquisa.