Novos estudos demonstram o impacto positivo de benefícios sociais na renda e no combate à extrema pobreza no Brasil.
Nesse sentido, pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizou uma simulação para entender quais seriam os dados, caso não existissem os benefícios sociais. O resultado, então, indica que a extrema pobreza seria cerca de 80% maior, elevando o percentual de 5,9% para 10,6%.
Com relação à pobreza, os impactos da ausência dos benefícios de programas sociais governamentais seriam um pouco menores. Isto é, levando ao crescimento de 12% da parcela, passando de 31,6% para 35,4% durante o ano de 2022.
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Portanto, a análise demonstra a importância destas iniciativas ao manter uma renda maior para as famílias brasileiras.
Reconstrução do Bolsa Família trouxe bons resultados
Em março de 2023 ocorreu a publicação da Medida Provisória que recriou o Bolsa Família.
Assim, foi possível trazer algumas mudanças no benefício que havia se transformado no Auxílio Brasil na gestão anterior.
Desse modo, em setembro de 2023, pesquisadores da FGV (Fundação Getulio Vargas) e do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) demonstraram o impacto destas mudanças.
De acordo com o estudo, foi possível perceber resultados positivos no combate à pobreza.
O professor da FGV Daniel da Mata entende que o Benefício Primeira Infância foi muito importante para estes resultados. Isto é, trata-se do valor a mais de R$ 150 por criança de até seis anos.
“O primeiro resultado significativo é que, com a implementação do Benefício Primeira Infância, houve um aumento do valor médio do programa de 30% para aquelas famílias que têm crianças entre zero e seis anos”, declarou o pesquisador.
Assim, este valor impactou na renda geral das famílias.
“Isso representou um incremento da renda total das famílias de 23%”, explicou.
Com esta redução, portanto, ocorreu a diminuição também do nível de pobreza das famílias do Bolsa Família. Além disso, o benefício conseguiu dar um maior apoio a famílias com crianças.
“Antes do novo benefício, 64% das famílias com crianças de zero a seis anos estavam protegidas da pobreza. A partir de março, o número foi subindo até atingir, em agosto, 84% das famílias com crianças na primeira infância”, declarou o pesquisador.
Nível de extrema pobreza cai no Brasil
O IBGE divulgou a Síntese de Indicadores Sociais no final de 2023.
Assim, verificou-se que o percentual de pessoas que vivem em condição de extrema pobreza no país alcançou a marca de 5,9% em 2022. Isto é, após chegar a 9% da população do país em 2021.
Já em relação aos cidadãos que se encontram em situação de pobreza, também ocorreu uma retração, passando de 36,7% para 31,6%.
Durante o levantamento, o instituto se baseou nos parâmetros do Banco Mundial de US$ 2,15 diários para a condição de extrema pobreza e US$ 6,85 por dia para pobreza.
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“Na linha de extrema pobreza não há uma diferença significativa entre os valores da linha antiga e da linha atualizada ao longo da série, pois ela é basicamente de consumo para subsistência e sua atualização se dá principalmente por uma questão de preços. Já a linha de pobreza mostra uma diferença maior, ligada a dinâmica do rendimento e padrões de consumo mais heterogêneos de países de renda-média alta”, pontua André Simões, analista da pesquisa.
Extrema pobreza atinge mais mulheres negras
Outro ponto que a pesquisa identificou é que mais de 70% da parcela da população em situação de extrema pobreza e pobreza é de cidadãos pretos e pardos.
Entre as mulheres pretas ou pardas, os índices chegaram a 41,3% de pobres e a 8,1% de extremamente pobres.
Além disso, os níveis de pobreza são maiores nos domicílios que contam com a presença de crianças.
Entre as pessoas com até 14 anos de idade, 49,1% eram pobres e 10,0% eram extremamente pobres. Isto é, um percentual muito maior do que o da população que conta com 60 anos ou mais: 14,8% de pobres e 2,3% extremamente pobres.
Mais ricos concentram cada vez mais renda no país
Outro levantamento sobre renda no Brasil é o do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Levando em consideração dados do Imposto de Renda, então, vê-se que a população rica do Brasil está concentrando cada vez mais renda.
Entre os indicativos se destaca o aumento recente da renda desta parcela da população, o qual cresceu a um ritmo de duas a três vezes mais do que a média de 95% dos brasileiros.
“O que, ao que tudo indica, a confirmar-se por estudos complementares, elevou o nível de concentração de renda no topo da pirâmide para um novo recorde histórico, depois de uma década de relativa estabilidade da desigualdade”, destaca trecho da pesquisa.
“E o que se vê é que, além dos mais ricos terem, em média, maior crescimento de renda do que a base da pirâmide, a performance é tanto maior quanto maior é o nível de riqueza”, conclui o IBRE/FGV.
Desta forma, enquanto a grande maioria dos cidadãos adultos do Brasil alcançaram um crescimento nominal médio de 33% em sua renda dentro do período de cinco anos, a variação encontrada nos mais ricos ficou entre 51% a 87%.
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Entre os 15 mil milionários, ou seja, cerca de 0,01% da população, o crescimento foi ainda maior, chegando a 96%.
Má distribuição de renda é global
A pesquisa indica, ainda, que a concentração de renda é uma questão global.
No geral, uma comparação com base na relação desigualdade social X concentração de renda indica o crescimento do modelo econômico que favorece quem possui maior renda.
Durante o último domingo, 14 de janeiro, saiu um relatório da organização Oxfam Brasil. Assim, o documento indica que os ricos do mundo estão ficando cada vez mais ricos, possuindo uma maior concentração de renda com o passar dos anos.
De acordo com o relatório, a riqueza dos cinco homens mais abastados do planeta teve um crescimento de 114% entre os anos de 2020 a 2023. Se, antes, a riqueza representava um montante de 405 bilhões de dólares, o valor teve um aumento exponencial chegando à marca de 869 bilhões de dólares.
Ademais, outro ponto do estudo é que 0,1% dos mais ricos do mundo concentram cerca de 43% da renda global.