A seca que assola os municípios da região norte do Nordeste está prevista para se agravar até janeiro de 2024, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). O Cemaden, em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e outras instituições vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), monitora a estiagem na região e divulga mensalmente o painel de monitoramento do El Niño, que indica as condições climáticas para os próximos meses.
Influência do Fenômeno El Niño e Aquecimento do Atlântico Tropical Norte
A situação de seca no Nordeste é resultado da combinação de fenômenos que vêm afetando a região desde junho. O fenômeno El Niño é conhecido por causar chuvas abaixo da média no Norte e Nordeste, enquanto provoca precipitações acima da média no Sul do país.
No entanto, cada episódio do El Niño é único, pois o impacto depende da localização e intensidade da anomalia de temperatura das águas no Oceano Pacífico. Neste ano, as maiores anomalias de temperatura do El Niño estão próximas da costa leste do Oceano Pacífico, entre o Equador e o Peru.
Essa configuração pode causar impactos diferentes, dependendo da interação com a situação do Atlântico Tropical Norte. De acordo com o painel de monitoramento, prevê-se que o El Niño atinja o pico de intensidade entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024.
A expectativa é de que o fenômeno mantenha uma classificação forte em termos de temperatura. No entanto, o aquecimento anômalo do Atlântico Tropical Norte tem um efeito negativo significativo nas chuvas do norte do Nordeste.
Previsão de Chuvas Abaixo da Média até Janeiro de 2024
Nos últimos três meses, as chuvas na região têm sido escassas e irregulares, ampliando a área de déficit pluviométrico. A previsão para os próximos três meses indica que a falta de chuva deverá continuar até janeiro.
Segundo o Inpe, os fenômenos continuarão a afetar a região no primeiro semestre de 2024, o que pode contribuir para manter as chuvas abaixo da média durante a estação chuvosa do norte do Nordeste, que ocorre principalmente entre fevereiro e maio.
“A preocupação é que, se não chover na estação chuvosa, as chuvas só deverão ocorrer na próxima estação, que começa a partir de novembro”, afirma Marcelo Seluchi, coordenador-Geral de Operações e Modelagem do Cemaden.
Impactos na Vegetação, Agricultura e Abastecimento de Água
A seca prolongada tem causado impactos significativos na vegetação e na agricultura da região. As altas temperaturas e a baixa umidade do solo contribuem para a degradação da vegetação e o aumento da evapotranspiração.
De acordo com o Cemaden, mais de 100 municípios do Nordeste estão atualmente em condição de seca severa, afetando cerca de 30% das áreas agrícolas e de pastagens. Em algumas regiões, como no extremo oeste da Bahia, a área impactada já chega a 80%.
A situação também pode afetar a qualidade da água para consumo humano e animal. A região Nordeste é caracterizada por minifúndios e pequenos produtores, que dependem da agricultura de subsistência. A redução na produção agrícola pode agravar ainda mais a situação socioeconômica das comunidades afetadas.
Perspectivas Futuras e Cenário de Preocupação
Com uma população de aproximadamente 57 milhões de pessoas e 1.793 municípios, o Nordeste é uma das regiões mais afetadas pela seca. Além do impacto no abastecimento de água e na produção agrícola, a seca prolongada pode resultar em deslocamentos populacionais e aumentar a vulnerabilidade das comunidades mais pobres.
Os reservatórios da região ainda apresentam níveis regulares devido às chuvas do ano anterior, influenciadas pelo fenômeno La Niña. No entanto, a situação caminha para se tornar mais severa nos próximos meses.
Os especialistas do Cemaden alertam para a tendência de piora gradativa da seca, o que demanda medidas de adaptação e mitigação por parte das autoridades e comunidades locais.
Ademais, a previsão de agravamento da seca no Nordeste até janeiro de 2024 traz preocupações para a região. A combinação do fenômeno El Niño e do aquecimento do Atlântico Tropical Norte está afetando as chuvas e a agricultura, aumentando a vulnerabilidade das comunidades e a escassez de água.
É fundamental que medidas de adaptação e mitigação sejam implementadas para minimizar os impactos socioeconômicos e ambientais da seca na região.