A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 80,3 bilhões nos oito primeiros meses deste ano. Isso quer dizer que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta entre janeiro e agosto de 2023.
De acordo com o Banco Central (BC), responsável pela divulgação dos dados, essa é a segunda maior retirada líquida registrada para esse período desde o início da série histórica, em 1995. Em resumo, isso aconteceu porque sete dos oito primeiros meses deste ano registraram saída líquida, ou seja, os saques superaram os depósitos.
Confira abaixo o volume de retirada da poupança em cada um dos meses de 2023:
- Janeiro: R$ 33,63 bilhões;
- Fevereiro: R$ 11,52 bilhões;
- Março: R$ 6,08 bilhões;
- Abril: R$ 6,25 bilhões;
- Maio: R$ 11,75 bilhões;
- Julho: R$ 3,58 bilhões;
- Agosto: R$ 10,1 bilhões.
A única exceção foi junho, cujos depósitos superaram os saques em 2,59 bilhões. Embora o resultado tenha sido bastante expressivo, não conseguiu reduzir o volume de recursos retirados da caderneta no acumulado de 2023.
Saques superam depósitos em agosto
No mês passado, os brasileiros depositaram R$ 321,6 bilhões na poupança, mas as retiradas somaram R$ 331,7 bilhões. Isso quer dizer que houve uma saída líquida de R$ 10,1 bilhões em agosto. Vale destacar que esse é o segundo resultado negativo, após a primeira e única entrada líquida registrada em 2023.
Caso o ritmo de saques fique ainda mais acelerado nos últimos meses deste ano, a retirada líquida em 2023 poderá bater recorde anual. A propósito, o volume retirado nos sete primeiros meses foi recorde para o período.
Contudo, a saída líquida registrada em agosto foi 53,7% menor que a observada no mesmo mês de 2022 (R$ 22,015 bilhões). Aliás, o recorde de retiradas líquidas nos oito primeiros meses de um ano ainda pertence a 2022. Isso porque, no ano passado, entre janeiro e agosto, os brasileiros retiraram R$ 85,16 bilhões, valor 5,9% menor que o observado neste ano.
Segundo o BC, a caderneta de poupança encerrou 2022 com uma retirada líquida recorde de R$ 103,237 bilhões. E os dados de 2023 podem ser ainda maiores, caso os saques se mantenha elevados até o final do ano.
Depósitos bateram recorde em 2020
Esses resultados são completamente diferentes do registrado em 2020. Aquele ano ficou marcado pela pandemia da covid-19, que afetou todo o mundo, afundando a economia global em uma recessão que não era vista há décadas.
Em 2020, a poupança registrou uma captação líquida recorde de R$ 166,31 bilhões. Os depósitos na caderneta nunca haviam superado os saques de maneira tão significativa quanto naquele ano, e isso não se repetiu desde então.
Os principais fatores que contribuíram para o resultado foram a instabilidade no mercado de títulos públicos e o pagamento do auxílio emergencial. Como o governo disponibilizou valores bilionários a milhões de pessoas, e o depósito desse valor ocorria diretamente na caderneta de poupança, as captações dispararam no ano.
Entenda a saída líquida da poupança em 2023
O volume expressivo de retiradas líquidas nos oito primeiros meses deste aconteceu devido a uma junção de fatores. Em síntese, os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Isso sem contar que muitos consumidores acabam parcelando as compras do final do ano anterior, bem como os custos com viagens de férias.
Tudo isso ajudou a impulsionar os saques da caderneta nos primeiros meses de 2023, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. O cenário provoca uma diminuição dos depósitos na caderneta, enquanto os saques aumentam.
Redução dos juros contribui com os saques
No início de agosto, o Banco Central reduziu a taxa básica de juro da economia, a Selic, de 13,75% para 13,25% ao ano. Quanto mais baixos os juros estiverem, menor a rentabilidade da renda fixa, da qual faz parte a caderneta de poupança. Esse é mais um motivo para os saques, que devem ser expressivos também ao longo do ano, já que a expectativa é de mais reduções dos juros no país.
O BC revelou que o volume total aplicado na poupança teve uma queda em agosto, passando de R$ 970,3 bilhões para R$ 969,1 bilhões. Em suma, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada neste ano, apesar da melhora dos resultados.
Cabe salientar que as retiradas líquidas em janeiro e fevereiro foram bem maiores que as de março e abril. Entretanto, o valor voltou a subir em maio, assim como neste mês de agosto, ou seja, a expectativa de perda de ritmo não se confirmou.