Horas depois de o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) anunciar detalhes sobre o programa de barateamento de carros populares, foi a vez do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) falar sobre o assunto. Entre outros pontos, ele defendeu que o projeto em questão não será longo, e terá duração apenas de alguns poucos meses.
A declaração acabou pegando muitos brasileiros de surpresa, que esperavam que o projeto fosse ficar em vigência por um longo período de tempo, para que eles pudessem ter um prazo maior para a compra deste veículo. Na visão de Haddad, o programa vai funcionar até que o Brasil consiga reduzir os juros.
“Estamos começando o ciclo de redução dos juros brevemente, o próprio presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto) tem dito que as coisas estão se alinhando nesse sentido”, afirmou o ministro, em entrevista à Globo News no final da última semana. Ele foi perguntado sobre este assunto.
“Estamos falando de um programa que pode durar três ou quatro meses, não é estrutural”, declarou o ministro, afirmando ainda que a duração ainda está em definição. Dentro do Governo Federal, ainda há uma discussão sobre este período de vigência do projeto. A ala mais ligada ao vice-presidente ainda defende que as medidas tenham uma duração maior.
Não é o que as montadoras esperam
A declaração de Haddad não foi bem aquilo o que os representantes de montadoras queriam ouvir. Em entrevistas recentes, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, disse que espera que o Governo siga com as medidas anunciadas por um período de, no mínimo, 12 meses.
Na avaliação de Lima Leite, com as medidas, as empresas poderiam passar a vender de 300 mil a 400 mil carros a mais do que o normal. Este patamar só seria atingido considerando um cenário em que o Governo Federal mantenha a redução de impostos por um período de 12 meses, no mínimo.
Críticas
Mesmo antes da entrevista concedida à Globo News, o Ministro da Fazenda já vinha recebendo uma série de críticas de agentes do mercado financeiro por causa da adoção deste projeto de redução nos preços de carros populares. Parte dos críticos chegou a afirmar, por exemplo, que a ideia iria de encontro ao que defendia Fernando Haddad.
Desde o início deste ano, o Ministro vem fazendo duras críticas às isenções fiscais que são concedidas aos grandes empresários no Brasil. De acordo com ele, este sistema permitiria que o Governo deixasse de arrecadar boa parte do seu orçamento. O Ministério, aliás, já está trabalhando para encontrar e acabar com estas renúncias fiscais.
No projeto de barateamento de carros anunciado pelo Governo Federal, há a ideia de que a União poderia deixar de arrecadar R$ 8 bilhões por ano. Contudo, o Ministro contesta esta projeção, e afirma que o valor da renúncia não vai chegar nem em um quarto deste valor.
O Ministério da Fazenda tem um prazo de 120 dias para anunciar os detalhes deste processo de desoneração. Haddad afirma que a pasta vai divulgar o documento ainda nesta semana. É justamente neste momento que o país vai saber como o Governo pretende tapar o buraco deixado por estas novas isenções.
O programa de barateamento dos carros
Na última semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou as medidas que serão tomadas para o barateamento dos carros populares no Brasil. Entre elas está justamente a redução de impostos como IPI e Pis/Cofins.
“Vamos ter uma metodologia combinando o preço mais barato (dos carros mais populares), eficiência energética e densidade industrial, para colocar esse desconto no preço do veículo”, disse Alckmin, frisando ainda que veículos que custam mais de R$ 120 mil não serão atingidos.
“Acima de R$ 120 mil não tem nenhuma mudança, e a proposta de estímulo é transitória e para esse momento, que a indústria está com muita ociosidade. Leva em consideração algumas questões, a primeira é o carro acessível, hoje o carro mais barato é quase R$ 70 mil”, completou o vice-presidente.