O varejo brasileiro deve ter um crescimento bastante modesto em 2023. Pelo menos é o que aponta a primeira estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) para este ano.
De acordo com projeções da entidade, o comércio varejista do país deverá crescer 0,6% em relação a 2022. Aliás, as primeiras estimativas da CNC foram informadas após a divulgação da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) com dados referentes a dezembro.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela PMC, as vendas do varejo encolheram 2,6% em dezembro, na comparação com novembro. O segundo recuo consecutivo fez a CNC projetar um ano bem modesto para o varejo brasileiro.
De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, as medidas adotadas pelo governo federal foram muito importantes em 2022. No entanto, o aumento do valor pago pelos programas de transferência de renda e a criação de novos benefícios, por exemplo, não deverão exercer tanta influência nas vendas do varejo neste ano.
“Já era previsto que as medidas de estímulo ao consumo e à recomposição da renda, adotadas no ano passado, não seriam suficientes para acelerar o ritmo das vendas e tampouco deverão contribuir significativamente para o seu avanço em 2023”, disse Roberto Tadros.
“O dado positivo, é que 20 das 27 unidades federativas tiveram crescimento, sendo que dez delas avançaram mais de 4%”, ponderou o presidente da CNC, referindo-se ao resultado observado em 2022.
Embora as vendas tenham encolhido em dezembro, na comparação com o mês anterior, o varejo brasileiro conseguiu acumular ganhos de 1,0% no ano passado. Ainda assim, esse foi o menor avanço em seis anos. E isso contribuiu para que as estimativas da CNC ficassem bem modestas para o desempenho do setor em 2023.
Varejo não supera nível pré-pandemia
Em dezembro de 2022, a queda das vendas foi bastante disseminada, atingindo sete das oito atividades pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela Pesquisa Mensal de Comércio (PMC). E esse tombo fez o setor ficar abaixo do nível de fevereiro de 2020, último mês antes da decretação da pandemia da covid-19.
“Diante do frustrante resultado de dezembro, após 11 meses, o volume de vendas no varejo voltou a se situar abaixo do patamar observado imediatamente antes da decretação da pandemia de covid-19 e ficou em queda de 1,1%”, disse o economista da CNC responsável pela apuração, Fabio Bentes.
Em resumo, a maioria das atividades pesquisadas apresenta perdas em relação a fevereiro de 2020. Aliás, os tombos mais expressivos foram registrados pelos ramos de livrarias e papelarias (-38,3%) e de vestuário, calçados e acessórios (-29,9%).
Vale destacar que o varejo brasileiro apresentou resultados positivos em 2020 (+1,2%), 2021 (+1,4%) e 2022 (+1%). No entanto, segundo Bentes, houve razões distintas para estas performances, apesar de terem sido bastante semelhantes.
“Se, em 2020, a crise sanitária ditou predominantemente o ritmo das vendas, no ano passado, foi a deterioração das condições de consumo que justificou o seu fraco desempenho desde então’, disse o economista da CNC.
Vendas do varejo crescem pelo sexto ano
Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas em 2022, as vendas no comércio varejista cresceram pelo sexto ano consecutivo. Em suma, isso aconteceu, principalmente, por causa da normalização da circulação de consumidores no país. Até porque a pandemia afetou diretamente o setor com a redução dos brasileiros nas ruas.
“Por outro lado, o fraco desempenho das vendas ao longo de 2022 derivou de um cenário pouco propício à expansão das vendas”, ponderou Bentes. De acordo com ele, tanto a desaceleração da inflação quanto a diminuição do desemprego não foram capazes de impulsionar as vendas no varejo no ano passado.
A saber, a inflação desacelerou fortemente graças à atuação do Banco Central (BC), que elevou por 12 vezes consecutivas a taxa de juros do país. Contudo, a taxa inflacionária fechou 2022 acima da meta.
Além disso, o ano passado ficou marcado pelo crescimento do endividamento e da inadimplência dos consumidores. Isso também foi reflexo dos juros elevados, que ajudaram a corroer ainda mais a renda da população, já bastante deteriorada com a inflação ainda em alta.
“Diante das expectativas atuais quanto à inflação ao longo do corrente ano, a perspectiva é que as taxas de juros ao consumidor permaneçam elevadas”, disse Fabio Bentes.
Por fim, os brasileiros também se assustaram com o aumento dos juros bancários em 2022. Em síntese, as taxas para as operações com pessoas físicas dispararam de 45% ao ano para 55,8% ao ano. E isso inviabilizou a aceleração do consumo no país, algo que deverá se manter em 2023.