A venda de sangue é um assunto controverso que tem sido discutido amplamente no Brasil. Recentemente, os senadores da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) analisaram a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 10/2022, que busca permitir o processamento de plasma, uma parte do sangue humano, tanto por iniciativas públicas quanto privadas. Essa proposta tem gerado muita controvérsia e pode trazer grandes mudanças para o país. Neste artigo, vamos explorar os principais pontos dessa discussão e entender os diferentes argumentos envolvidos.
Antes de mergulharmos na polêmica da venda de sangue, é importante compreender o papel do plasma na saúde. O plasma sanguíneo é a parte líquida do sangue, representando cerca de 55% do seu volume total. É composto principalmente por água, mas também contém sais, proteínas, hormônios e nutrientes. No entanto, não possui células.
Na indústria farmacêutica, o plasma é utilizado no desenvolvimento de medicamentos conhecidos como hemoderivados. Esses medicamentos são utilizados no tratamento de diversas doenças, como complicações renais, câncer e hemofilia. Alguns exemplos de hemoderivados produzidos a partir do plasma são o fator VIII, fator IX, complexo protrombínico, fator de von Willebrand, albumina e imunoglobulinas.
Atualmente, apenas a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), associada ao Ministério da Saúde, tem autorização para processar o plasma e transformá-lo em medicamentos. Quando a produção nacional não é suficiente, o país precisa importar esses medicamentos.
A PEC 10/2022 propõe mudanças significativas na forma como o plasma é processado e utilizado no Brasil. Uma das principais propostas é permitir que empresas privadas também possam processar o plasma e desenvolver pesquisas e medicamentos a partir dele. Isso abriria o mercado para a concorrência e ampliaria as possibilidades de desenvolvimento de novas tecnologias e tratamentos.
Outra proposta polêmica presente na PEC é a comercialização do plasma entre laboratórios privados, inclusive com a possibilidade de venda para o exterior. Em uma versão anterior da proposta, chegou-se a discutir a venda de plasma por parte dos indivíduos, mas essa questão foi deixada para uma futura lei específica, a fim de evitar que a polêmica paralisasse as discussões.
Os defensores da PEC do Plasma argumentam que a atual legislação limita o aproveitamento do plasma doado no Brasil. Segundo eles, milhares de litros de plasma são desperdiçados anualmente. A aprovação da PEC permitiria um melhor aproveitamento desse material, gerando benefícios tanto para a indústria farmacêutica quanto para a população.
Outro argumento é que a entrada de empresas privadas no processamento do plasma poderia impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos. Além disso, a concorrência poderia levar a uma redução nos preços dos medicamentos, tornando-os mais acessíveis para a população.
No entanto, a PEC do Plasma também enfrenta muitas críticas e preocupações. Uma das principais preocupações é a possibilidade de que a comercialização do plasma leve à mercantilização do corpo humano. Existem temores de que a venda de sangue possa criar um mercado lucrativo, no qual os mais vulneráveis ??sejam explorados.
Outra preocupação é a qualidade e segurança dos medicamentos produzidos por empresas privadas. Atualmente, a Hemobrás é responsável por garantir a qualidade e a segurança dos hemoderivados produzidos no Brasil. Com a abertura desse mercado, há o receio de que a fiscalização e o controle de qualidade sejam prejudicados.
É interessante observar que a venda de sangue é proibida no Brasil, assim como a comercialização de tecidos, órgãos e substâncias humanas, conforme estabelecido pela Constituição de 1988. Essa proibição teve como objetivo evitar a mercantilização do corpo humano e a exploração dos mais vulneráveis.
Em contraste, países como os Estados Unidos permitem a venda de sangue, sêmen e óvulos, e possuem um mercado aquecido para esse tipo de comércio. Já o Irã é o único país que permite a venda regulamentada de rins.
A PEC do Plasma continua em discussão e ainda não há uma decisão final sobre sua aprovação. O tema é complexo e envolve questões éticas, sociais e econômicas. É fundamental que essas discussões sejam pautadas em estudos aprofundados e levem em consideração o bem-estar da população e a qualidade dos medicamentos.
Independentemente do desfecho, é importante que a saúde pública seja prioridade, garantindo o acesso à saúde e a segurança dos medicamentos para todos os brasileiros. A regulamentação do processamento e uso do plasma deve ser cuidadosa e rigorosa, buscando sempre o benefício coletivo e a proteção dos mais vulneráveis.
A polêmica da “venda de sangue” presente na PEC do Plasma tem gerado discussões acaloradas e levantado questionamentos importantes sobre a ética, a segurança e a comercialização do corpo humano. Enquanto alguns defendem a ampliação do mercado e a possibilidade de desenvolvimento de novos medicamentos, outros se preocupam com a mercantilização e a qualidade dos produtos. A decisão final sobre a PEC do Plasma ainda está em aberto, mas é crucial que seja tomada com base em um debate responsável e embasado em evidências científicas, priorizando sempre o bem-estar e a saúde da população.