Pela primeira vez, desde o início do plano real, o presidente da república deixará o seu mandato com o salário mínimo valendo menos do que quando entrou. Além de Jair Bolsonaro, nenhum governante neste período, seja no primeiro ou segundo mandato, entregou um mínimo que tivesse perdido poder de compra. Pelos cálculos da corretora Tullett Prebon Brasil, a perda será de 1,7%.
A perda só será essa caso a inflação não acelere mais do que o previsto pelo mercado no Boletim Focus, do Banco Central, base das projeções da corretora. As previsões vêm sendo revisadas para cima há 16 semanas. Deste modo do salário mínimo cairá de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022, descontada a inflação.
Dois fatores explicam essa perda inédita. Um deles é o ajuste fiscal, pelo peso do salário mínimo na indexação do Orçamento da União, ou seja, reajustes no piso têm impacto em uma gama de outras despesas, como benefícios sociais e gastos com Previdência. O segundo motivo para essa perda característica é a aceleração da inflação.
Além disso, já fazem três anos que não há reajuste do piso acima da inflação, o que causa essa queda no salário base. O último reajuste ocorreu em 2019, quando ainda prevalecia a regra de correção que considerava a inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.
Além do citado anteriormente, o projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2023, enviado no dia 14 de abril ao Congresso Nacional, o salário mínimo em 2023 será de R$ 1.294 e não terá aumento acima da inflação, indo em contradição com o que está acontecendo atualmente.
O reajuste segue a projeção de 6,7% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) para este ano. A estimativa também consta do PLDO. O projeto também apresentou previsões de R$ 1.337 para o salário mínimo em 2024 e de R$ 1.378 para 2025. As projeções são preliminares e serão revistas no PLDO dos próximos anos.
De acordo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a perda do poder de compra do salário mínimo se dá por conta da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia, iniciada no fim de fevereiro com sua invasão pela Rússia.
“Fomos atingidos por essas duas guerras, uma da comida e energia (devido à guerra na Ucrânia) e a outra da crise sanitária. A verdade é que essa geração pagou pela guerra. Nós pagamos pela guerra. Nós fizemos sacrifício, ficamos sem aumento de salário, tivemos uma recuperação econômica forte”, informou Guedes.
Em sua fala, Guedes destacou que o Brasil conseguiu fazer as reformas e está lentamente recuperando a capacidade de investimento. Ele afirmou que o mundo foi atingido por duas guerras: a pandemia e “outra guerra que aumentou os preços de comida e energia”.
Além disso, o ministro informa que, “não houve aumento de salário mínimo porque durante uma guerra o normal é até perdas importantes, e nós estamos lutando para preservar pelo menos o salário mínimo, para resguardar os empregos, para manter a capacidade de investimento do país”