A revista Veja que entrou em circulação na última sexta-feira, dia 21, trouxe na capa a imagem de vários foguetes decolando. Cada foguete representava um país, entre eles, Estados Unidos, Inglaterra, Japão. Somente um último foguete tímido, representando o Brasil, ainda estava em terra. A legenda explicava a razão: “Adiantados no processo de vacinação, diversos países iniciam uma retomada econômica pós-pandemia. Com um patamar ainda elevado no numero de mortes, e sem a perspectiva de aprovação de importantes reformas, o Brasil corre o risco de ficar de fora.”
Mas o que os países prósperos fizeram de diferente? E no que o Brasil deixou à desejar?
Ações mundiais visando a recuperação
O que existe em comum em todos os países que sairão fortes da pandemia são investimentos de alto valor em planos de estímulos econômicos, ao mesmo tempo que investiram em programas de vacinação eficientes. O Reino Unido, por exemplo, foi o primeiro país do mundo a aplicar a primeira vacina da Pfizer, em dezembro de 2019, e conseguiu imunizar 55% de sua população com a primeira dose. Os Estados Unidos, que atingiram o índice de imunização de 47%, já pensam em doar as vacinas excedentes aos outros países.
A revista Infomoney publicou as previsões que o FMI (Fundo Monetário Internacional) tem a respeito do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Ela relata que, segundo o FMI, para cada país, a cada 10% à mais de população vacinada, o PIB será revisado para cima em 0,13 pontos, tendo como base as 30 maiores economias do planeta.
Quanto ao Brasil, apesar do Governo brasileiro ter revisado as estimativas de crescimento do PIB para 3,5% em 2021, comparando com a queda de -4,1% em 2020, a volta ao patamar pré-pandemia só deve ser alcançada em 2022, com o crescimento previsto em 2,6%. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com o Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), mostra que o Brasil precisa vacinar 2 milhões de pessoas por dia para controlar a pandemia em até um ano. Segundo a revista Veja já citada, esse plano está estagnado em 700 000 doses diárias, devido à falta de matéria-prima para os imunizantes no Brasil, e o atraso na compra de insumos vindos de outros países.
O Chile, vizinho do Brasil, se aproxima dos 50% da população vacinada, e vê seus negócios em varejo local crescerem. O economista Otaviano Canuto, ex- diretor do FMI, fala do Brasil em comparação ao país sul-americano: “Em relacao ao Chile, o Brasil falhou, por exemplo, ao não investirmos fechamentos das atividades e na vacinação rápida. O Chile apostou em um lockdown severo e fechou contratos arriscados com as fabricantes de vacinas. Hoje o país vê uma luz no fim do túnel”.
Mau desempenho econômico antes da pandemia
As principais causas da crise econômica que se arrasta por anos no Brasil já são bem conhecidas, e com a pandemia, só agravaram. São elas: a situação fiscal insustentável com alta dívida pública, o desemprego e uma grave incerteza política.
Desde 2013, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil não apresenta crescimento anual superior a 2%. Ao mesmo tempo, os últimos anos foram marcados por recessões e crises políticas. E agora, com a aproximação do processo eleitoral, promover reformas trabalhistas e tributárias vai ficando mais difícil.
Como consequência, toda essa incerteza macroeconômica afasta a disposição de empresários em investir, o que compromete o ritmo de retomada e criação de postos de trabalho.
“Temos uma dificuldade em lidar com o dinheiro público”, fala Armínio Fraga, ex presidente do Banco Central. “A prioridade deveria zelar pelo futuro do país. Essa balança está desequilibrada. O Brasil não consegue se organizar politicamente para crescer mais rápido e encostar no padrão das economias e sociedades mais avançadas”, lamenta ele.
O que o Brasil vêm fazendo
A equipe econômica do Brasil segue repetindo a estratégia que adotou em 2020: tentando proteger o mercado formal e o setor produtivo, através de programas de estimulo, ainda que considerados modestos. O Auxilio Emergencial atingiu 68 milhões de pessoas desde que foi implantado, e distribuiu 336 bilhões de reais. O BEm, Programa Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda, já foi reeditado e aderido por muitas empresas. Porém, o Pronampe, financiamento concedido às pequenas empresas garantido pelo Tesouro Nacional, ainda tramita pelo Congresso, sem previsão de aprovação.
O Ministério da Economia procurou sincronizar as ações de enfrentamento à Covid-19 com a vacinação. Segundo José Pastore, professor de Relações do Trabalho da USP, este “é um plano bom, com programas que se mostraram efetivos, mas haveria uma segurança maior se houvesse mais previsibilidade na vacinação”, analisa.
O grande desafio para a equipe da economia do Congresso Nacional é garantir que as empresas e trabalhadores resistam aos próximos meses de pandemia em condições de promoverem a retomada, ainda que uma terceira onda atinja a população. O secretario da economia Adolfo Sachsida afirma que o principal é não permitir que um choque transitório, como o da pandemia, traga efeitos permanentes. “E, para isso, nós temos que insistir na agenda de reformas pró-mercado e na consolidação fiscal”, complementa.
Uma esperança: a exportação
O número de países que dependem da exportação de matérias-primas atingiu seu nível mais alto em 20 anos, segundo novo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Ela considera um país dependente de commodities quando estes produtos respondem por mais de 60% do valor de suas exportações de bens.
A alta da demanda mundial por produtos originados do agronegócio, as chamadas commodities, aumentou as exportações brasileiras elevou a expectativa do PIB brasileiro para 3,21%. Ainda em 2020, o Brasil registrou recordes de volumes embarcados de suas principais commodities, com destaque para o petróleo, açúcar, soja, carnes e café.
Segundo o economista Alex Araújo, ainda é preciso aguardar para observar se esse movimento se consolidará nos próximos meses. “Ainda precisamos ter a confirmação se estamos vivendo um novo ciclo ou se isso é uma repercussão da pandemia. Houve uma demanda crescente para reforçar estoques e a questão logística global faz com que haja muita especulação”, analisa ele no site Diário do Nordeste.