Redução do Auxílio Emergencial não compensa perdas financeiras dos beneficiários
Com o Auxílio Emergencial, a economia foi movimentada e os beneficiários puderam contar com uma ajuda humanitária em um período de fome. Muitas pesquisas analisam os impactos na economia com o advento do benefício.
Grande maioria dos participantes receberão valor de R$ 150 de auxílio emergencial
A grande maioria dos participantes da nova rodada de pagamentos do Auxílio Emergencial terá acesso ao menor valor do benefício, RS 150,00 mensais. Cerca de 19,994 milhões de famílias estão cadastradas e classificadas como famílias unipessoais, ou seja, formadas por um só constituinte. A classificação representa um valor de aproximadamente 43,6% do total do público participante no pagamento da nova rodada.
Assim, cerca de 16,373 milhões de famílias que possuem mais de um integrante terão o valor de R$ 250,00 creditados em sua conta poupança digital, enquanto 9,47 milhões, representados por mulheres provedoras de renda em seu lar, receberão o valor de R$ 375,00. O novo Auxílio Emergencial foi divido em 4 novas parcelas, tendo o pagamento da primeira parcela se iniciado na última terça-feira, dia 6 de abril.
Durante o início do auxílio, em abril de 2020, as parcelas ofertadas tinham valor de R$ 600, sofrendo uma diminuição para R$ 300 entre setembro e dezembro do mesmo ano.
Muitos especialistas consideram os valores oferecidos atualmente insuficientes, pois não tem a capacidade de atender as necessidades básicas de alimentação, higiene pessoal e limpeza de um conjunto familiar.
Por meio de pesquisa, o jornal O Estado de S. Paulo, mostra que o custo médio de uma cesta básica para uma família de quatro membros é de aproximadamente R$ 1.014,00. O valor médio do Auxílio Emergencial constitui em menos de 25% do custo total do valor determinado por meio de pesquisa.
De acordo com integrantes da cúpula do governo, o cálculo das novas parcelas foi feito com base em um “hiato“ entre a renda habitual de colaboradores e o valor recebido de maneira efetiva. O hiato, assim chamado, é composto pela renda perdida durante a pandemia por questões de impacto do distanciamento social.
Mudanças no programa
O critério adotado pelos idealizadores do auxílio que mais o afastou dos trabalhadores foi o da adoção da regra de restrição do recebimento de somente uma cota do valor previsto por família. Durante o ano de 2020, cada família poderia ter até dois membros participando do programa de renda. Por meio dessa mudança, foram excluídos 6,567 milhões de beneficiários.
A redução dos valores creditados por meio do auxílio também fez com que cerca de 2,875 milhões de participantes do programa Bolsa Família optassem por permanecer no programa. Isso porque o mesmo oferece maiores vantagens financeira quando comparado ao valor das novas parcelas do Auxílio Emergencial, acarretando, segundo o Ministério da Cidadania, uma economia de R$ 1,5 bilhão.
O ministério responsável pela pasta, afirma que a mudança nos termos do programa era necessária, e por meio dela, foi possível limitar o custo do auxílio, que até 2020 foi de R$ 322 bilhões e em 2021 possui teto orçamentário reservado de R$ 44 bilhões.
Redução do auxílio não compensa perdas de 43% dos participantes
Aproximadamente 43% dos beneficiários que terão acesso as parcelas de R$ 150 do novo Auxílio Emergencial não alcançarão a compensação de suas perdas. Está é a conclusão apresentada através de um estudo realizado pelo Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira (CEMIF) da Fundação Getúlio Vargas, realizado por Lauro Gonzalez e Leonardo Oliveira.
O estudo mostra que em casos em que o beneficiário recebe o valor de R$ 150, não ocorrerá uma compensação financeira na maioria dos estados do país, com exceção das regiões Norte e Nordeste.
Porém, mesmo com valor reduzido, o auxílio ainda consegue gerar um resultado positivo quando comparado a renda pré-pandemia nestas regiões, devido aos altos índices de desigualdade social. Logo, aumenta o valor da renda total em cerca de 17% para os homens e 19% para as mulheres.
Novo Auxílio Emergencial deverá causar um impacto oito vezes menor no comércio
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) o novo Auxílio Emergencial deverá causar um impacto oito vezes menor na rede de comércio varejista quando comparado ao ano passado. O órgão entende que apenas 31,2% do valor total sacado pelas famílias serão aplicados no setor do comércio.
Durante o ano de 2020, o comércio faturou cerca de R$ 103,8 bilhões com recursos vindos do auxílio emergencial. Tal valor, portanto, equivale a 35,4% da parcela total destinada a população. De acordo com o órgão, o valor injetado nas redes de comércio, principalmente as varejistas, foi de grande importância pois possibilitou sua retomada econômica em meio a primeira fase da pandemia. Ademais, durante a nova rodada de pagamentos, realizada neste ano, cerca de R$ 12,75 bilhões devem ser gastos no comércio.
O auxílio de 2020 teve parcelas iniciais de R$ 600, que posteriormente sofreram redução para R$ 300. Neste ano, de acordo com o governo, o valor médio recebido será de R$ 250. Ao todo o programa já contribuiu com R$ 295 bilhões no ano passado e deverá, durante 2021, transferir mais R$ 44 bilhões aos beneficiários.
José Roberto Tadros, presidente do CNC, menciona que mesmo com a redução sofrida, o programa de renda ainda é uma medida positiva, pois tem a capacidade de movimentar e gerar estímulo à economia.
Tadros também afirma que a variação do poder econômico durante o ano de 2020 também está relacionada a outros fatores e que os períodos mais críticos para os comerciantes foram os de lockdown. Isso se dá, segundo ele, por ser um fator que impacta fortemente a capacidade de consumo de toda a população.
Fábio Bentes, economista e pesquisador, no entanto, afirma que o novo auxílio, por ser mais restrito e contingencial que o oferecido em 2020, oferece uma baixa margem para possíveis perspectivas de consumo. Segundo ele, as famílias provavelmente deverão se deparar com uma situação de escolha de gastos, onde se deve priorizar os gastos básicos, como alimentação ou até mesmo, se possível, reservar este dinheiro para algum momento futuro de maior necessidade.
Nesse sentido, também, a pesquisa da USP, relativa à baixa do PIB brasileiro revela que a queda de 4,1% em 2020 teria sido duas ou três vezes maior sem o Auxílio Emergencial. Assim, sua importância é reafirmada, já que com esse valor, as famílias podem movimentar a economia.