O uso do cartão de crédito sempre atingiu patamares elevados no Brasil. Essa é a principal modalidade de compra dos brasileiros, principalmente porque permite o pagamento parcelado, muitas vezes sem juros.
Em outubro, assim como acontece todos os meses, a modalidade liderou o ranking nacional de tipos de dívidas que os consumidores possuíam. Inclusive, no ano passado, a modalidade alcançou o maior valor já registrado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), iniciada em 2010.
Em resumo, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela Peic, revelou que 87% das famílias do país tinham alguma dívida com cartão de crédito em outubro. A taxa superou o volume registrado em outubro de 2022, ano em que 86,2% dos consumidores estavam endividados nesta modalidade.
Endividamento no cartão de crédito
O percentual de endividamento registrado em outubro deste ano refletiu o crescimento do uso do cartão de crédito entre os brasileiros. O endividamento das famílias brasileiras caiu no mês, na comparação com setembro, mas o percentual de dívidas no cartão de crédito cresceu no período.
Vale destacar que a proporção de pessoas com dívidas no cartão de crédito cresceu quase 12 pontos percentuais nos últimos dez anos no país. Isso porque, em 2013, o percentual de endividados estava em 75,2%, taxa que já era muito alta.
Vale destacar que o crescimento desse percentual de endividamento na modalidade se concentrou nos dois últimos anos. Segundo a Peic, a taxa estava em 78,0% em 2020, ou seja, a proporção de endividados no cartão de crédito disparou 9,0 p.p. em apenas dois anos, e isso aconteceu, principalmente, por causa da pandemia da covid-19.
Em síntese, a crise sanitária impulsionou a inflação em todo o planeta, inclusive no Brasil. Para segurar a taxa inflacionária, o Banco Central (BC) elevou os juros ao maior patamar em seis anos, reduzindo o poder de compra do consumidor. E isso encareceu o crédito, impulsionando o endividamento e a inadimplência no país.
Cartão de crédito lidera dívidas no país
De acordo com a Peic, a proporção de dívidas com cartão de crédito liderou o ranking nacional de débitos em setembro deste ano. O resultado não é uma surpresa, visto que esta é a modalidade mais utilizada pela população, pois permite o pagamento em data posterior. Aliás, a proporção de dívidas nas outras modalidades é bem menor que a do cartão de crédito.
Veja abaixo os principais tipos de dívidas dos brasileiros em setembro de 2023:
- Cartão de crédito: 87%;
- Carnês: 17%;
- Crédito pessoal: 9,4%;
- Financiamento de casa: 8,0%;
- Financiamento de carro: 7,8%;
- Crédito consignado: 5,3%;
- Cheque especial: 4,6%;
- Outras dívidas: 2,7%;
- Cheque pré-datado: 0,5%.
A saber, a proporção de dívidas no cartão de crédito cresceu pelo segundo mês, sucedendo duas quedas. Aliás, em agosto, o número de endividados nesta modalidade havia caído para o menor patamar em um ano, mas a proporção voltou a subir em setembro, e isso também se repetiu em outubro.
Já as demais modalidades registraram estabilidade ou redução da proporção de dívidas feitas pelas famílias brasileiras, no geral. Isso só não aconteceu com o crédito especial e o consignado, cujos percentuais cresceram 1,0 p.p. e 0,3 p.p., respectivamente, em relação a outubro de 2022.
Dívidas no cartão de crédito crescem entre as faixas de renda
Os dados da Peic mostraram que as famílias do país utilizam com muita frequência o cartão de crédito para realizar compras. A modalidade é buscada por muitos consumidores por causa das facilidades que oferece, como pagamento parcelado e sem juros. Contudo, nem sempre isso acontece.
De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, os desafios econômicos para os brasileiros ainda são muito altos, principalmente por causa dos juros elevados do cartão de crédito, quando as pessoas não têm condições de pagar a parcela do cartão. Em suma, esta é a principal modalidade de endividamento dos brasileiros.
Segundo o levantamento, o endividamento no cartão de crédito cresceu 1,0 p.p. na base anual para os consumidores de rendas média e baixa, para 86,9%. Por sua vez, o percentual cresceu 0,4 p.p. entre os consumidores de renda alta, atingindo 88%.
Por isso, o presidente da CNC reforça que há uma necessidade enorme em relação à manutenção do parcelamento sem juros. Essa afirmação foi feita devido às recentes polêmicas envolvendo a modalidade, pois o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que a compra parcelada poderá passar a ter juros para desincentivar a população a fazer tantas compras parceladas.