Economia

Quase 70% dos moradores de favelas não têm dinheiro para comida na pandemia

O levantamento também falou sobre a importância das doações na vida dos moradores da favela para garantir o sustento

O Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Central Única das Favelas (Cufa), fez pesquisa para verificar os impactos da pandemia do novo coronavírus entre os brasileiros que moram em favelas. De acordo com a pesquisa, 68% desse grupo não possuía dinheiro para comprar comida em pelo menos um dia nas duas semanas anteriores a quando o levantamento foi realizado.

O levantamento foi realizado com 2.087 pessoas maiores de 16 anos, em 76 favelas de todas os estados do Brasil, entre os dias 9 e 11 de fevereiro de 2021. A margem de erro do resultado é de 2,1 pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa apontou a falta de dinheiro para comprar alimentos e também que a média de refeições que os moradores de favelas fazem por dia está caindo. Em agosto de 2020, esse grupo fazia uma média de 2,4 refeições por dia. Em fevereiro de 2021, a média de refeições por dia entre moradores de favela caiu para 1,9.

“Os dados são hoje os mais preocupantes desde o início da pandemia. Nós monitoramos, durante o último ano, praticamente todos os meses a situação das favelas e, em nenhuma das pesquisas, o dado foi tão preocupante como esse, seja no número de pessoas sem poupança, seja no número de pessoas com falta de dinheiro para comprar comida, seja na redução do número de refeições”, disse Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e Fundador do Data Favela.

O levantamento concluiu ainda que 71% das famílias hoje em dias estão sobrevivendo com menos de metade da renda que possuíam antes da pandemia do novo coronavírus. Além disso, 93% dos moradores de favela não tem nenhuma reserva em dinheiro guardada.

“O principal impacto é na geração de renda. Como tem um grupo grande de trabalhadores informais, e você teve uma dificuldade no período inicial de chegar o auxílio emergencial lá dentro, o impacto na renda foi gigantesco, e isso trouxe a fome. Mas a fome é consequência da ausência de renda”, explicou Meirelles.

De acordo com a pesquisa, 32% dos moradores da favela estão tentando seguir as medidas de prevenção contra a Covid-19, 33% tentam seguir, mas nem sempre conseguem, 30% não conseguem seguir e 5% nem tentam. Os moradores de favela enfrentam risco maior de se expor à Covid-19 ao sair de casa para garantir o sustento do mês.

“Com o agravamento da crise sanitária e com os recordes de contaminação, nunca foi tão importante o reestabelecimento imediato do auxílio emergencial. São brasileiros que foram obrigados, desde o início da pandemia, a ter que escolher entre o prato de comida ou a proteção da saúde da sua família”, afirmou Meirelles.

“Não é à toa que a maior parte das pesquisas sobre a infecção mostra que o número de contágio na favela é, em geral, o dobro quando comparada às regiões mais nobres”, continuou.

O levantamento também falou sobre a importância das doações na vida desse grupo. De acordo com a pesquisa, nove em cada dez moradores de favelas receberam alguma doação durante a pandemia do novo coronavírus. E oito em cada dez famílias não teriam condições de se sustentarem se não tivessem recebido doações no período.