Professora grava aula em casa com ajuda de saco de feijão - Notícias Concursos

Professora grava aula em casa com ajuda de saco de feijão

"Eu sei dar aula, faço isso há quatro décadas, mas nessa situação é como se eu tivesse me formado ontem", diz professora do Rio de Janeiro

Uma cena inusitada chamou atenção de quase 80 mil pessoas no Twitter. Uma professora em casa tenta equilibrar um bastão de selfie com seu celular, com ajuda de um saco de feijão e uma caixa de leite. Em tempos de pandemia, Maria Aparecida da Silva Biggon, ou Cida como é conhecida, é uma das educadoras que nunca tiveram afinidade com recursos tecnológicos, mas está precisando se reinventar para continuar dando aulas.

Cida tem 59 anos e passou 40 deles em salas de aula. Ela lá passou pelo ensino primário, e hoje leciona português e espanhol para alunos de 11 a 14 anos de duas escolas particulares de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Afastada fisicamente das escolas, ela utiliza o seu próprio celular para gravar vídeos com os conteúdos e conta com a ajuda da filha e coordenadores das escolas.

“Eu sei dar aula, faço isso há quatro décadas, mas nessa situação é como se eu tivesse me formado ontem. Eu já usava celular, mas confesso que o computador pra mim sempre foi uma ferramenta que me causa bastante dificuldade. Coisas simples eu tentava fazer, mas coisas mais complexas meus filhos me ajudavam. Quando eu me vi precisando dar aula online foi um susto, tudo é muito complicado pra mim”, disse em entrevista à ÉPOCA.

Antes da pandemia, Cida só usava o WhatsApp para enviar e receber mensagens e raramente entrava no Facebook para ver fotos. O Instagram, uma das maiores redes sociais do mundo, ela não acessa. Ela conta também não saber usar recursos do computador, como o Power Point.

A imagem que viralizou nas redes sociais foi um flagra da filha, que achou a situação engraçada. Cida estava sentada na mesa, tentando gravar uma folha de papel com a matéria da aula. O genro ajudou a ajustar o foco e a iluminação para que o saco de feijão e a caixa de leite que ajudaram no apoio não aparecesse nas imagens.

“Essas dificuldades me causam até ansiedade, dor no estômago, porque é algo muito novo pra mim. Quando não temos domínio para fazer certas coisas, gera total insegurança e nervosismo. Tá sendo um período difícil, uma pedrada, mas posso dizer que quando isso tudo passar vou levar esse momento duro como um aprendizado para a vida”, declarou.

Uma das escolas que Cida dá aulas oferece a possibilidade de gravar as aulas com os professores, presencialmente. Na outra, os educadores precisam utilizar as ferramentas que têm em casa para produzir o conteúdo necessário para os alunos. A professora lembrou que, como ela, nem todos possuem aparelhos com os recursos necessários para essas atividades. Nesse cenário, a criatividade é fundamental: sem um quadro branco, a professora utilizou a porta de um armário branco para ensinar gramática aos alunos.

Outra novidade para a educadora foram palavras que, até então, estavam muito distantes do vocabulário cotidiano dela. Situações e ações como “rolar o chat”, “o microfone bugou” e “a internet caiu” são as novas barreiras do processo aprendizagem, intrínsecas às ferramentas da educação a distância.

“Isso vai mudar minha vida, fico pensando quanto tempo eu perdi de não ter investido em mais conhecimento tecnológico. Pensava que como já estava próxima da aposentadoria, não faria tanta diferença na minha vida profissional mas agora é assim ou nada. Se alguém me falasse há um ano que estaria gravando aulas por vídeo, não acreditaria”.

Cida ainda afirmou que alguns pais ainda não compreendem a dificuldade do professor para preparar as aulas. Segundo a educadora, muitos acham que estão fazendo pouco ou mal feito, mas lembra que esse novo processo trouxe dificuldades extras. Apesar disso, ela agradeceu todo o apoio das escolas e as dicas que recebe dos alunos nas aulas. Fonte: ÉPOCA.

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