O ano de 2023 ficou marcado pelos saques na poupança. Os brasileiros não se mostraram dispostos a deixar seu dinheiro na caderneta e, entre janeiro e novembro, a retirada líquida chegou a R$ 101,591 bilhões da poupança. O Banco Central (BC) divulgou as informações nesta sexta-feira (8).
Esse resultado mostra que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta nos 11 primeiros meses de 2023.
6iEmbora a retirada líquida esteja muito elevada, os números estão menores que os observados no mesmo período do ano passado, quando as pessoas retiraram R$ 103,237 bilhões da poupança, pior ano da série histórica do BC, que teve início em 1995.
Confira abaixo o volume de retirada da poupança em cada um dos meses de 2023:
- Janeiro: R$ 33,63 bilhões;
- Fevereiro: R$ 11,52 bilhões;
- Março: R$ 6,08 bilhões;
- Abril: R$ 6,25 bilhões;
- Maio: R$ 11,75 bilhões;
- Julho: R$ 3,58 bilhões;
- Agosto: R$ 10,1 bilhões;
- Setembro: R$ 5,83 bilhões;
- Outubro: R$ 12,16 bilhões.
- Novembro: R$ 3,305 bilhões.
A única exceção foi junho, cujos depósitos superaram os saques em 2,59 bilhões. Embora o resultado daquele mês tenha sido bastante expressivo, não conseguiu influenciar de maneira significativa o volume de recursos retirados da caderneta no acumulado de 2023.
Veja os números de novembro
Segundo os dados do BC, os brasileiros depositaram R$ 326,57 bilhões na caderneta de poupança em novembro. Por outro lado, os correntistas sacaram R$ 329,88 bilhões, valor que superou às entradas e fez o resultado mensal ficar negativo.
Vale destacar que o volume líquido retirado foi menor do que o verificado em novembro de 2022, quando os brasileiros sacaram R$ 7,42 bilhões a mais do que depositaram na poupança. Já em relação a outubro deste ano, a diferença foi ainda maior, já que houve uma saída líquida de R$ 12,16 bilhões naquele mês.
Novembro foi o quinto mês consecutivo que a caderneta da poupança registrou mais retiradas que depósitos. A propósito, os rendimentos creditados nas contas de poupança somaram R$ 5,41 bilhões no mês passado.
Depósitos bateram recorde em 2020
Os resultados dos últimos anos são completamente diferentes do registrado em 2020. Em suma, aquele ano ficou marcado pela pandemia da covid-19, que afetou todo o mundo, afundando a economia global em uma recessão que não era vista há décadas.
Em 2020, a poupança registrou uma captação líquida recorde de R$ 166,31 bilhões. Os depósitos na caderneta nunca haviam superado os saques de maneira tão significativa quanto naquele ano, e isso não se repetiu desde então.
Os principais fatores que contribuíram para o resultado foram a instabilidade no mercado de títulos públicos e o pagamento do auxílio emergencial. Como o governo disponibilizou valores bilionários a milhões de pessoas, e o depósito desse valor ocorria diretamente na caderneta de poupança, as captações dispararam no ano.
Entenda a saída líquida da poupança em 2023
O volume expressivo de retiradas líquidas em 2023 está acontecendo devido a uma junção de fatores. Em síntese, os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Isso sem contar que muitos consumidores acabam parcelando as compras do final do ano anterior, bem como os custos com viagens de férias.
Tudo isso ajudou a impulsionar os saques da caderneta nos primeiros meses de 2023, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. O cenário provoca uma diminuição dos depósitos na caderneta, enquanto os saques aumentam.
Redução dos juros contribui com os saques
Além disso, o Banco Central reduziu em 1,5 ponto percentual (p.p.) a taxa básica de juro da economia, a Selic, entre agosto e novembro. A expectativa é que haja mais uma redução de 0,5 p.p. em dezembro, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em 2023.
Quanto mais baixos os juros estiverem, menor a rentabilidade da renda fixa, da qual faz parte a caderneta de poupança. Esse é mais um motivo para os saques, que devem continuar expressivos também ao longo do ano.
O BC revelou que o volume total aplicado na poupança teve uma queda em outubro, passando de R$ 961,8 bilhões para R$ 958,5 bilhões. Em suma, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada neste ano, apesar da melhora dos resultados, já que a inflação também está menor no país.