Os brasileiros não estão muito dispostos a deixarem seu dinheiro na caderneta de poupança em 2023. Entre janeiro e outubro, as pessoas retiraram R$ 98,3 bilhões da poupança. O Banco Central (BC) divulgou as informações nesta sexta-feira (10). A propósito, a série histórica teve início em 1995.
Esse resultado mostra que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta nos dez primeiros meses de 2023. Embora a retirada líquida esteja muito elevada, os números estão menores que os observados no mesmo período do ano passado, quando as pessoas retiraram R$ 102,1 bilhões da poupança entre janeiro e outubro.
Confira abaixo o volume de retirada da poupança em cada um dos meses de 2023:
- Janeiro: R$ 33,63 bilhões;
- Fevereiro: R$ 11,52 bilhões;
- Março: R$ 6,08 bilhões;
- Abril: R$ 6,25 bilhões;
- Maio: R$ 11,75 bilhões;
- Julho: R$ 3,58 bilhões;
- Agosto: R$ 10,1 bilhões;
- Setembro: R$ 5,83 bilhões;
- Outubro: R$ 12,16 bilhões.
A única exceção foi junho, cujos depósitos superaram os saques em 2,59 bilhões. Embora o resultado daquele mês tenha sido bastante expressivo, não conseguiu influenciar de maneira significativa o volume de recursos retirados da caderneta no acumulado de 2023.
Retirada líquida em outubro bate RECORDE
No mês passado, houve uma saída líquida de R$ 12,2 bilhões da poupança. Esse é o maior volume já retirado da caderneta em meses de outubro desde o início da série histórica, em 1995. Aliás, a retirada líquida em outubro foi a terceira consecutiva para o décimo mês, seguindo as saídas registradas em 2021 (R$ 7,4 bilhões) e 2022 (R$ 11 bilhões).
Nos últimos dez anos, os únicos resultados positivos registrados no mês de outubro ocorrem em 2013 (R$ 4,5 bilhões), 2014 (R$ 0,2 bilhão) e 2020 (R$ 7 bilhões). Nestes anos, os depósitos superaram os saques na poupança. Contudo, todos os demais resultados ficaram negativos, refletindo a retirada de recursos da caderneta.
Caso o ritmo de saques fique ainda mais acelerado em novembro e dezembro, a retirada líquida em 2023 poderá bater recorde anual. A propósito, o volume retirado entre janeiro e julho neste ano foi recorde para o período.
Contudo, a saída líquida registrada em agosto foi 53,7% menor que a observada no mesmo mês de 2022 (R$ 22,015 bilhões). Aliás, o recorde de retiradas líquidas nos oito primeiros meses de um ano ainda pertence a 2022, assim como o acumulado nos nove e nos dez primeiros meses de todos os anos.
Segundo o BC, a caderneta de poupança encerrou 2022 com uma retirada líquida recorde de R$ 103,237 bilhões. E os dados de 2023 podem ser ainda maiores, caso os saques se mantenham elevados até o final do ano, ainda mais com a redução dos juros no país, já que os juros altos elevam o rendimento da caderneta.
Depósitos bateram recorde em 2020
Esses resultados são completamente diferentes do registrado em 2020. Aquele ano ficou marcado pela pandemia da covid-19, que afetou todo o mundo, afundando a economia global em uma recessão que não era vista há décadas.
Em 2020, a poupança registrou uma captação líquida recorde de R$ 166,31 bilhões. Os depósitos na caderneta nunca haviam superado os saques de maneira tão significativa quanto naquele ano, e isso não se repetiu desde então.
Os principais fatores que contribuíram para o resultado foram a instabilidade no mercado de títulos públicos e o pagamento do auxílio emergencial. Como o governo disponibilizou valores bilionários a milhões de pessoas, e o depósito desse valor ocorria diretamente na caderneta de poupança, as captações dispararam no ano.
Entenda a saída líquida da poupança em 2023
O volume expressivo de retiradas líquidas nos nove primeiros meses deste aconteceu devido a uma junção de fatores. Em síntese, os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Isso sem contar que muitos consumidores acabam parcelando as compras do final do ano anterior, bem como os custos com viagens de férias.
Tudo isso ajudou a impulsionar os saques da caderneta nos primeiros meses de 2023, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. O cenário provoca uma diminuição dos depósitos na caderneta, enquanto os saques aumentam.
Redução dos juros contribui com os saques
Além disso, o Banco Central reduziu em 1,5 ponto percentual (p.p.) a taxa básica de juro da economia, a Selic, entre agosto e novembro. A expectativa é que haja mais uma redução de 0,5 p.p. em dezembro, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em 2023.
Quanto mais baixos os juros estiverem, menor a rentabilidade da renda fixa, da qual faz parte a caderneta de poupança. Esse é mais um motivo para os saques, que devem continuar expressivos também ao longo do ano.
O BC revelou que o volume total aplicado na poupança teve uma queda em outubro, passando de R$ 968,3 bilhões para R$ 961,8 bilhões. Em suma, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada neste ano, apesar da melhora dos resultados, já que a inflação também está menor no país.