No final de julho de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Federal 14.945/2024, desencadeando uma reforma significativa no Ensino Médio brasileiro. Esta nova legislação, apresentada pelo deputado federal e ex-ministro Mendonça Filho (União-PE), promete trazer mudanças na estrutura e abordagem do Ensino Médio a partir de 2025. Embora o presidente tenha vetado dois trechos relacionados aos “itinerários formativos”, o impacto geral desta reforma é inegável.
O aumento da carga horária
Uma das principais alterações introduzidas pela nova lei é o aumento da carga horária total do Ensino Médio para 3.000 horas, distribuídas ao longo dos três anos. Diante disso, essa carga horária será dividida da seguinte forma:
- 2.400 horas dedicadas à formação geral básica
- 600 horas destinadas aos itinerários formativos (linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas)
A flexibilidade dos itinerários formativos
Apesar do veto presidencial aos trechos que abordavam os “itinerários formativos”, a ideia central dessa proposta é oferecer aos estudantes a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos em áreas específicas de interesse. Portanto, originalmente, os alunos poderiam escolher entre os seguintes itinerários:
- Linguagens e suas tecnologias
- Matemática e suas tecnologias
- Ciências da natureza e suas tecnologias
- Ciências humanas e sociais aplicadas
Essa flexibilidade também se estenderia às inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), onde o conteúdo programático da prova seria ajustado de acordo com o itinerário escolhido pelo aluno. No entanto, o Executivo vetou essa proposta, alegando que tal mudança poderia comprometer a igualdade de acesso ao ensino superior e acentuar as desigualdades existentes.
O Ensino Médio Técnico
A nova legislação também introduz uma abordagem inovadora para o Ensino Médio Técnico. Nesse modelo, 1.800 horas serão dedicadas à formação geral básica, com a possibilidade de adicionar outras 300 horas para aprofundar conhecimentos em disciplinas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) diretamente relacionadas ao curso técnico escolhido. Dessa forma, serão destinadas 2.100 horas para a formação geral, enquanto as 900 horas restantes serão voltadas exclusivamente para o conteúdo específico da formação técnica.
A inclusão de profissionais especializados
Outra novidade é a permissão para que profissionais com conhecimento especializado, reconhecido oficialmente pelos sistemas de ensino, possam ministrar aulas em cursos técnicos de nível médio, independentemente de sua experiência ter sido adquirida em empresas privadas. Essa medida visa enriquecer o corpo docente e trazer uma perspectiva prática aos cursos técnicos.
O ensino noturno
A nova lei também aborda a questão do ensino noturno. Diante disso, a partir de agora, os estados terão a obrigação de manter, em cada sede municipal, pelo menos uma escola pública que ofereça o Ensino Médio no turno da noite, desde que haja demanda local para matrículas nesse período.
A formação continuada dos professores
Reconhecendo a importância da preparação dos educadores para as mudanças propostas, a lei prevê que o Ministério da Educação (MEC) deverá colaborar com os sistemas estaduais de educação para implementar programas de formação continuada para professores. Portanto, esses programas terão como foco principal o desenvolvimento de novas metodologias e abordagens pedagógicas adaptadas ao novo modelo de Ensino Médio.
A transição para as novas regras
De acordo com a professora Ana Cláudia de Ataíde Mota, doutora em Letras e assessora pedagógica da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Tiradentes (Unit), os estudantes que estiverem cursando o Ensino Médio na data de publicação da nova Lei Federal 14.945/2024, passarão por uma fase de transição para as novas regras.
Sendo assim, as novas diretrizes para o aprofundamento das áreas de conhecimento devem ser formuladas até o final deste ano, e todas as regras serão implementadas pelas escolas a partir de 2025.
A importância da presencialidade
Embora a nova lei permita o uso de tecnologias para mediar o ensino em situações excepcionais, a regra geral é que o Ensino Médio seja oferecido presencialmente. No entanto, essa determinação visa preservar a interação direta entre professores e alunos, bem como garantir um ambiente propício para o desenvolvimento integral dos estudantes.
A flexibilidade curricular
Uma das principais características da reforma é a flexibilidade curricular. Portanto, com a introdução dos itinerários formativos, os alunos terão a oportunidade de explorar áreas de interesse específicas, aprofundando seus conhecimentos e habilidades em campos que desejam seguir profissionalmente.
A importância da escolha consciente
No entanto, é fundamental que os estudantes façam escolhas conscientes ao optar por determinado itinerário formativo. Sendo assim, essas decisões devem ser tomadas com base em uma avaliação cuidadosa de suas aptidões, interesses e aspirações profissionais futuras.
Portanto, para auxiliar nesse processo, as escolas deverão oferecer orientação vocacional e aconselhamento de carreira, permitindo que os alunos tenham acesso a informações precisas e atualizadas sobre as diferentes opções disponíveis e suas implicações.
A integração entre Ensino Médio e Ensino Superior
Outra mudança significativa introduzida pela reforma é a maior integração entre o Ensino Médio e o Ensino Superior. Dessa forma, com a flexibilidade curricular e a possibilidade de aprofundamento em áreas específicas, os alunos estarão melhor preparados para ingressar em cursos universitários alinhados com seus interesses e habilidades.
O papel das universidades
Nesse contexto, as universidades desempenharão um papel fundamental, oferecendo orientação e suporte aos estudantes do Ensino Médio. Diante disso, parcerias entre instituições de ensino superior e escolas de Ensino Médio poderão ser estabelecidas, permitindo que os alunos tenham acesso a recursos e experiências enriquecedoras, como palestras, workshops e visitas guiadas.
Além disso, as universidades poderão adaptar seus processos seletivos e currículos para acomodar as novas habilidades e conhecimentos adquiridos pelos estudantes durante o Ensino Médio, facilitando a transição e o sucesso acadêmico.