A Síndrome de Burnout (em inglês, esgotamento), também chamada de Síndrome do Desgaste Profissional, é um distúrbio emocional de caráter depressivo, caracterizado por exaustão física, emocional e mental, causadas por condições de trabalho desgastantes, ou que demandam muita responsabilidade e competitividade.
O tema emergiu com a situação da pandemia da Covid-19, principalmente em como tem afetado os profissionais de saúde, exauridos pelas jornadas múltiplas e atordoados pela falta de recursos. Também lidam cotidianamente com emoções intensas e situações estressantes.
Um sinal de alerta
O periódico medicinasa.com.br divulgou uma pesquisa realizada pelo medico Eduardo C. de Moura em Setembro de 2020. A pesquisa chamada “Burnout durante a Pandemia de Covid-19″ constatou que 78% dos profissionais de saúde apresentaram sintomas da Síndrome durante a pandemia. A prevalência foi de 79% entre médicos, 74% entre enfermeiros e 64% entre técnicos de enfermagem.
A pandemia tem afetado principalmente os profissionais que trabalham em linha de frente, isto é, diretamente no combate à doença. A pesquisa indicou que a prevalência da doença é de 83% entre médicos que atuam na linha de frente do combate à Covid-19, contra 71% naqueles que não têm trabalhado diretamente com a doença.
O Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) relatou ao site de noticias Agência Brasil que a “Síndrome de Burnout tem sido associada a um aumento de erros médicos e de custos para os profissionais de saúde além de desfechos adversos, de longo prazo, para a saúde. Os profissionais que trabalham em UTIs estão particularmente mais expostos a situações de alto estresse e burnout, o que, potencialmente, traz consequências dramáticas para a saúde e o tratamento de pacientes.”
O trabalhadores brasileiros, de modo geral, estão entre os mais afetados pelo estresse crônico causado pela jornada de trabalho.
Como identificar a Síndrome de Burnout?
Ronald Fischer, psicólogo responsável pela pesquisa do IDOR salientou que a síndrome pode estar relacionada à outras doenças: “Burnout não é classificado como doença, mas uma síndrome de estresse dentro do trabalho”, explica. “Temos medicamentos e terapias que são indicados para depressão e ansiedade. Se não olharmos o nível do burnout, talvez, diagnostiquemos uma pessoa com ansiedade, que na verdade não é ansiedade, mas apresenta alguns sintomas que parecem. Por outro lado, se olharmos só o burnout e não a ansiedade e a depressão, não identificaremos os sintomas que podem ser tratados com medicamentos e terapias”.
A Síndrome de Burnout deve ter seu diagnóstico feito por um profissional especializado. O psiquiatra e o psicólogo são os mais indicados para identificar e orientar a melhor forma de tratamento conforme cada caso.
Estes são alguns dos fatores no local de trabalho que favorecem o desenvolvimento da doença:
- Ambientes de cobrança excessiva;
- Responsabilidade excessiva;
- Pressão constante;
- Longas jornadas de trabalho;
- Conflito com colegas de trabalho;
- Pouco repouso.
E entre os principais sintomas da doença, podemos citar:
- Falta de motivação;
- Dificuldade para dormir;
- Sensação constante de cansaço;
- Não consegue se concentrar;
- Se irrita facilmente;
- Apatia e desanimo;
- Alta insatisfação com o trabalho.
- Distanciamento emocional.
É comum conhecermos aquele profissional super animado, que fazia seu trabalho com muita satisfação, e que, com o tempo, começou a ficar prostrado e apático, sempre tomado por uma sensação de impotência. Logo, ele começa a se perguntar se não foi um erro a carreira que escolheu, com uma grande vontade de jogar tudo pro alto.
Geralmente, o profissional gosta do que escolheu para fazer, mas a condição pela qual está passando o conduz a dúvidas, insatisfação e pouca esperança no futuro.
Agora, se essa situação acima descreve você, procure ouvir a opinião de seus familiares, amigos e colegas: Quem tem burnout, muitas vezes não percebe.
Uma evolução nos direitos do trabalhador
O Ministério da Saúde (2002) define a Síndrome de Burnout como sendo um tipo de resposta prolongada a estímulos emocionais, incluindo-o na relação de doenças interpessoais, a qual é classificada como um transtorno mental do comportamento relacionado ao trabalho como Z73.0, conforme Código Internacional de Doenças da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Recentemente, a OMS aprimorou a definição da Síndrome de Burnout, e registrou o transtorno no grupo 24 do CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), que entrará em vigor em 2022.
É primordial que haja o correto diagnóstico da doença, devendo o médico atestar de forma clara e objetiva do que se trata da Síndrome de Burnout. Se esta síndrome estiver associada a outras doenças, é importante ressaltar todas no diagnóstico.
No Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) está apta a oferecer, de forma integral e gratuita, todo tratamento, desde o diagnóstico até os medicamentos.
O afastamento pode ocorrer depois do 16° dia de atestado médico, sendo necessário fazer uma perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para que seja constatado a incapacidade para exercer o labor e a concessão de um benefício previdenciário com o intuito de tratamento médico.
Um fato interessante é que, no caso do afastamento por Síndrome de Burnout, quando o profissional retorna ao emprego, ele tem a garantia de estabilidade por 12 meses. Para ter essa garantia, não é necessário comprovar que a causa da doença foi o ambiente de trabalho, porque, no caso dessa doença psicossocial, essa é a única causa possível. Isso não acontece com outras doenças, como a depressão, que pode ter várias causas.
Como tratar a Sindrome de Burnout
O tratamento deve ser orientado por um psicólogo ou psiquiatra, e geralmente envolve a combinação de terapia e medicamentos.
O tratamento da Síndrome de Burnout é feito de ações tomadas dentro e fora do trabalho. Seguem algumas sugestões:
- Avalie quanto as condições de trabalho estão interferindo em sua qualidade de vida e prejudicando sua saúde física e mental;
- Veja se pode propor uma nova dinâmica para as atividades diárias e objetivos profissionais;
- Reduza o consumo de alcool e outras drogas,
- Faca atividades relaxantes. Exercicio fisico é altamente recomendado;
- Diminua seu nivel de cobranca pessoal e perfeccionismo;
- Cuide da qualidade de seu sono.
A médica Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP), destaca a mudança mais importante, dizendo: “Se a pessoa praticar somente relaxamento e depois voltar para o mesmo ambiente e as mesmas condições de trabalho, estamos apenas adiando uma solução. O ideal é realmente poder influenciar nessas circunstâncias”, explica Carmita. “Solicitar melhores condições de trabalho na volta e recursos como um todo pode não ser factível às vezes, mas é o ideal” finaliza.