Ministro diz que consignado do auxílio foi "medida perversa" de Bolsonaro

Ministro diz que consignado do auxílio foi “medida perversa” de Bolsonaro

Ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, ratificou que não vai liberar consignado para usuários do Bolsa Família

“Medida eleitoreira e perversa”. Foi com esses termos que o ministro do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias (PT) classificou a liberação do consignado para usuários do Auxílio Brasil. A medida em questão foi tomada ainda durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que não respondeu as críticas.

“É uma medida eleitoreira e perversa, de gente do mal. Eu não tenho outra palavra que me perdoe aqui pra lhe colocar”, disse o ministro em entrevista ao portal Uol Notícias na tarde desta quarta-feira (27).

“Tenta imaginar, no caso da saúde, uma pessoa sofreu um acidente, está precisando ali de um dinheiro, de um apoio para ali uma hemorragia. E aparece alguém e viabiliza ali essa condição, esse dinheiro. Imagine-se, ela resolve ir lá para um consignado, tá certo? Numa hora dessa. Aqui eu estou falando de UTI da fome”, seguiu o ministro.

Consignado para Bolsa Família não vai voltar

Desde a última semana, o ministro já vinha deixando claro que o seu ministério não retomaria a liberação do consignado para usuários do Bolsa Família. A decisão ocorre mesmo depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar que não há inconstitucionalidade no ato de liberar empréstimos para pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Para Dias, o STF cumpriu o seu papel de analisar a questão do ponto de vista legal, mas frisou que o seu ministério teria a obrigação de analisar o caso do ponto de vista social. Para ele, a liberação do consignado para este público poderia trazer grandes problemas sociais para os atendidos. “Não concordamos com o consignado para o Bolsa Família”, disse ele.

“Atendemos famílias abaixo da linha da pobreza. Se você comprometer um valor mensal do Bolsa Família com pagamento de prestação, você pode comprometer o principal objetivo do programa que é alimentação.”

Ao contrário dos usuários do Bolsa Família, os segurados do Benefício de Prestação Continuada (BPC) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) estão liberados para solicitar o consignado. Ainda na última semana, o presidente da autarquia, Alessandro Stefanutto, assinou uma instrução normativa confirmando esta liberação.

Avaliação da CGU

Na última semana, a Controladoria Geral da União (CGU) divulgou um relatório de avaliação sobre a liberação do consignado do Auxílio Brasil no ano passado. Segundo o órgão, há um indício de uso eleitoral do empréstimo, já que 93% das concessões foram dadas justamente entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais do ano passado.

O que a gente pode dizer é que no período eleitoral, falando só do impacto direto que esses auxílios criados, de maneira, digamos, inusitada, próximo do período eleitoral, foram 3,7 milhões de pessoas impactadas“, disse o ministro da CGU, Vinicius Marques de Carvalho.

Ministro diz que consignado do auxílio foi "medida perversa" de Bolsonaro
Ministro da CGU apresentou relatório na sexta-feira, 22. Imagem: Agência Brasil

Além do consignado

Além da questão do consignado, o Ministro Wellington Dias também falou sobre o polêmico pente-fino que está excluindo alguns usuários do Bolsa Família nos últimos meses. De acordo com ele, tais exclusões seriam importantes porque o sistema estaria encontrando pessoas que não deveriam estar recebendo o dinheiro.

“É pago com tributos, são R$ 175 bilhões disponibilizados. Estamos olhando para todos os pagamentos que fazemos. A gente só vai ter um cadastro eficiente em dezembro. São 94 milhões de pessoas, você tem que ir a 42 milhões de residências, de gente que mora na rua, gente que mora na floresta, enfim, para poder fazer essa atualização do cadastro”, disse o ministro.

De acordo com ele, mais de 3 milhões de pessoas que estavam supostamente em situação de irregularidade foram excluídas do Bolsa Família. “A gente já afastou, por ilegalidade, gente com salário de R$ 20 mil recebendo os R$ 600 do Auxílio Brasil. É um negócio meio perverso”, disse ele.

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