A inflação da indústria brasileira caiu 3,07% em maio deste ano, na comparação com o mês anterior. Com isso, a variação acumulada em 2023 ficou ainda mais negativa, passando de -0,99% para -4,04%. Significa que os preços estão menores do que no mesmo período de 2022.
Em síntese, o recuo em maio é o nono nos últimos dez meses. No período, o único resultado positivo ocorreu em janeiro (+0,29%), mas ainda assim foi bastante leve. Aliás, os recuos observados nos últimos meses do ano passado fizeram a inflação da indústria desacelerar e subir apenas 3,13% em 2022.
Ao considerar os últimos 12 meses até maio, a inflação da indústria caiu 9,20%. Essa é a maior queda da série histórica, ou seja, os preços da indústria do país nunca caíram tanto em 12 meses quanto em 12 meses até maio. Estes dados se referem ao Índice de Preços ao Produtor (IPP), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado nesta semana.
Em suma, o indicador é considerado a inflação da indústria e seus resultados tendem a indicar a trajetória que a inflação ao consumidor seguirá. Assim, quanto menor a variação do índice, melhor para os consumidores.
De acordo com o IBGE, o IPP “tem como principal objetivo mensurar a mudança média dos preços de venda recebidos pelos produtores domésticos de bens e serviços, bem como sua evolução ao longo do tempo, sinalizando as tendências inflacionárias de curto prazo no país“.
“Constitui, assim, um indicador essencial para o acompanhamento macroeconômico e, por conseguinte, um valioso instrumento analítico para tomadores de decisão, públicos ou privados“, informa o instituto.
O IPP analisa o progresso dos preços dos produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e frete, medindo a evolução de 24 atividades das indústrias extrativas e de transformação.
Refino de petróleo derrubara inflação no país
A inflação dos preços em maio ficou negativa de maneira bastante disseminada entre os setores industriais, diferente do que aconteceu em abril, quando apenas metade dos setores tiveram taxas negativas. Em maio, a taxa inflacionária caiu em 20 das 24 atividades industriais pesquisadas.
Veja abaixo as atividades com as maiores variações em maio:
- Refino de petróleo e biocombustíveis: -10,47%
- Indústrias extrativas: -9,32%;
- Outros produtos químicos: -5,78%;
- Papel e celulose: -5,51%.
“Nos últimos cinco meses, vemos uma crescente valorização do real em relação ao dólar. Isso faz com que ocorra uma diminuição dos preços na moeda brasileira, uma das razões que explicam o maior número de atividades com redução de preços. Os setores exportadores, naturalmente, são os mais afetados“, explicou Alexandre Brandão, analista da pesquisa.
O setor de refino de petróleo e biocombustíveis exerceu o maior impacto no índice do mês, de 1,16 ponto percentual (p.p.). A queda nos preços foi a sexta consecutiva e a mais intensa desde abril de 2020 (-20,61%). Em síntese, os preços do setor caíram, principalmente, por causa da diminuição no preço do óleo diesel, que é o produto de maior peso na atividade.
“Há uma ligação direta entre a queda de preço do óleo bruto de petróleo, observada não só no Brasil como no mundo todo, e os produtos de refino. A maior oferta atual de petróleo provoca uma redução de preço“, disse Brandão.
Veja os outros setores cujos preços caíram em maio
O IBGE revelou que os outros setores que também exerceram forte influência no IPP em maio foram de outros produtos químicos (-0,47 p.p.), indústrias extrativas (-0,47 p.p.) e alimentos (-0,42 p.p.).
No caso do setor de outros produtos químicos, o resultado ficou negativo devido a alguns produtos derivados do petróleo, como a nafta, cujos preços caíram em maio e puxaram a inflação do setor para baixo.
“Muitos produtos são derivados da nafta, os petroquímicos. O preço da nafta está em queda no mundo, assim como o do propeno. No caso dos fertilizantes, além da normalização do mercado internacional depois da abertura do porto da Ucrânia, com o final da safra de soja no Brasil, há uma demanda menor pelo produto“, avaliou Alexandre Brandão.
A atividade de indústrias extrativas teve a primeira redução de preços em 2023. Por isso, no acumulado deste ano, a inflação ainda está positiva (4,82%), apesar da forte queda em maio. “A China dita o ritmo do mercado de minério de ferro. Com a diminuição da demanda por lá, houve impacto direto aqui e no resto do mundo“, disse o analista da pesquisa.
Contudo, os preços dos alimentos na “porta de fábrica” tiveram a terceira queda no ano (-1,73%), acumulando uma taxa de -2,06% em 2023. Em síntese, a inflação desta atividade ficou negativa, ou seja, os preços dos alimentos caíram no país, ajudando a puxar o IPP para baixo.
De acordo com o IBGE, o setor de alimentos possui o maior peso entre todas as atividades pesquisadas pelo IBGE, respondendo por 24,66% do indicador. Por isso, as variações do setor costumam se destacar.
Cabe salientar que “o IPP investiga os preços recebidos pelo produtor, isentos de impostos, tarifas e fretes, e definidos segundo as práticas comerciais mais usuais”. O IBGE revelou que há uma coleta mensal de cerca de seis mil preços em pouco mais de 2,1 mil empresas.