Inflação da indústria brasileira CAI pelo segundo mês seguido
Queda mensal da inflação é a sétima nos últimos oito meses; IPP também registra deflação no acumulado dos últimos 12 meses
A inflação da indústria brasileira caiu 0,66% em março deste ano, na comparação com o mês anterior. Com isso, a variação acumulada em 2023 passou a ficar negativa (-0,66%), refletindo a queda dos preços neste ano.
Em resumo, o recuo em março é o sétimo nos últimos oito meses. No período, o único resultado positivo ocorreu em janeiro (+0,29%).
Aliás, nos últimos oito meses, a inflação da indústria caiu mais de 8% no país. Os recuos observados nos últimos meses do ano passado fizeram a inflação da indústria chegar a 3,13% em 2022.
Ao considerar os últimos 12 meses até março, a inflação da indústria caiu 2,32%. “Desde setembro de 2019, o IPP não registrava uma deflação acumulada em 12 meses e a taxa registrada em março é a mais intensa em toda a série histórica“, disse o gerente do IPP, Felipe Câmara.
A propósito, todos os dados se referem ao Índice de Preços ao Produtor (IPP), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em suma, o indicador é considerado a inflação da indústria e seus resultados tendem a indicar a trajetória que a inflação ao consumidor seguirá. Assim, quanto menor a variação do índice, melhor para os consumidores.
De acordo com o IBGE, o IPP “tem como principal objetivo mensurar a mudança média dos preços de venda recebidos pelos produtores domésticos de bens e serviços, bem como sua evolução ao longo do tempo, sinalizando as tendências inflacionárias de curto prazo no país”.
“Constitui, assim, um indicador essencial para o acompanhamento macroeconômico e, por conseguinte, um valioso instrumento analítico para tomadores de decisão, públicos ou privados”, informa o instituto.
O IPP analisa o progresso dos preços dos produtos na “porta da fábrica”, sem impostos e frete, medindo a evolução de 24 atividades das indústrias extrativas e de transformação.
Refino de petróleo puxa inflação para baixo
A inflação dos preços em março ficou negativa, mas não de maneira muito disseminada entre os setores industriais. Segundo o IBGE, a taxa inflacionária apresentou variações negativas em 12 das 24 atividades industriais pesquisadas.
Embora apenas metade das atividades pesquisadas tenha apresentado queda nos preços, os recuos foram mais intensos que as altas nos valores. Dessa forma, o IPP acabou caindo, aliviando o bolso dos produtores.
Veja abaixo as atividades com as maiores variações em março:
- Refino de petróleo e biocombustíveis: -4,10%
- Papel e celulose: -2,42%;
- Outros produtos químicos: -1,41%;
- Calçados e produtos de couro: +1,28%.
“Refino é o grande destaque a influenciar o resultado do mês, mas também é central para compreender um movimento mais duradouro de recuo nos preços industriais que vem acompanhando a dinâmica das commodities no mercado internacional“, destacou Felipe Câmara.
O gerente do IPP disse que a trajetória de redução dos preços na indústria teve início na segunda metade de 2022. Além disso, ele ressaltou que o primeiro fator a ser considerado em uma análise da trajetória da inflação industrial é a base comparativa.
Isso porque, no período da pandemia da covid-19, os preços das commodities e insumos importados tiveram altas bastante significativas. Em seguida, houve uma forte redução nas commodities, que se manteve continuamente e vem ocorrendo até hoje.
“Isso ajuda a explicar a deflação na porta da fábrica. O barril do petróleo está em trajetória de queda desde o segundo semestre de 2022. Vale destacar que ele é o principal insumo da indústria de refino. Outras commodities em queda são os fertilizantes, que integram o setor de outros produtos químicos“, disse Câmara.
“Desde meados de 2022, os preços internacionais de fertilizantes e nafta vinham apresentando trajetória de queda, essa combinação foi muito importante em determinar os preços na indústria química (principal responsável pela taxa negativa em 12 meses)“, acrescentou.
Preços dos alimentos caem no país
Os preços dos alimentos na “porta de fábrica” caíram 0,61% em março, segundo recuo consecutivo. Em resumo, a inflação desta atividade ficou negativa, ou seja, os preços dos alimentos caíram no país, ajudando a puxar o IPP para baixo.
De acordo com o IBGE, os preços dos alimentos caíram em março devido a aumentos na oferta de produtos com grande peso no setor. O destaque do setor foram os derivados da cadeia da soja, que pressionaram para baixo os preços ao produtor.
“Os preços do grão, do farelo e do óleo estão em queda, e essa redução pode ser associada ao período de colheita de uma safra expressiva“, explicou o gerente do IPP.
Vale destacar que o setor de alimentos é o de maior contribuição no cálculo do IPP. Em suma, o setor responde por mais de 23% da variação do índice, segundo o IBGE. Por isso que sua variação, apesar de não ter sido muito expressiva, foi suficiente para colocar o grupo em destaque em março.
Por fim, “o IPP investiga os preços recebidos pelo produtor, isentos de impostos, tarifas e fretes, e definidos segundo as práticas comerciais mais usuais”. O IBGE revelou que há uma coleta mensal de cerca de seis mil preços em pouco mais de 2,1 mil empresas.