O Ibovespa caiu pelo terceiro pregão consecutivo, depois de passar boa parte do pregão operando no campo positivo. A sessão ficou marcada pela repercussão do conflitos entre Israel e Hamas e todos os impactos que poderão causar no planeta. À tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, fez declarações que também repercutiram entre os analistas.
Na sessão desta quinta-feira (19), o Ibovespa teve uma leve queda de 0,05%, a 114.004 pontos, menor patamar em duas semanas. Vale destacar que o indicador chegou a subir 0,88% no pregão, mas perdeu força e fechou em queda. A propósito, o Ibovespa é o indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na B3, a Bolsa Brasileira.
Com o acréscimo deste resultado, o índice aumentou as perdas registradas em outubro, que agora estão em -2,20%. Por outro lado, o Ibovespa ainda reserva ganhos de 3,89% em 2023.
Aliás, o avanço acumulado neste ano chegou a superar 11% em julho, mas o indicador caiu em 18 dos 23 pregões realizados em agosto, período em que teve a maior sequência de quedas já registrada na história, recuando por 13 pregões consecutivos e acumulando perdas de 5,1%, no mês.
Conflitos no Oriente Médio estavam em “banho-maria”
Mais uma vez, os investidores estavam deixando em banho-maria as notícias sobre os conflitos no Oriente Médio. A guerra entre Israel e o grupo extremista islâmico Hamas entrou hoje (19) no 13º dia, e a escalada de tensão parece não afetar muito os investidores, que estavam na busca por ativos de risco nas primeiras horas do pregão.
O resultado foi bem diferente do que foi visto na véspera (17), quando o Ibovespa teve uma queda firme, principalmente por causa de um ataque realizado a um hospital no sul da Faixa de Gaza, que causou a morte de centenas de pessoas, incluindo crianças.
O bombardeio foi condenado por diversos países porque ataques a hospitais são considerados crimes de guerra. Israel negou a autoria do ataque e acusou a Jihad Islâmica, que também negou ter atacado o hospital.
Em meio à guerra de narrativas, as negociações diplomáticas ficaram ainda mais difíceis. O temor entre os investidores, do ponto de vista econômico, é que o preço do petróleo dispare, caso outros países do Oriente Médio se envolvam nos conflitos, o que poderia pressionar a inflação em todo o mundo.
Guerra entre Israel e Hamas pode encarecer petróleo
Nos últimos dias, três fatores causaram muita preocupação entre os investidores:
- Participação de potências nucleares nos conflitos, como Estados Unidos, Irã e Rússia;
- Retaliação da Liga Árabe devido ao apoio do Ocidente à Israel, reduzindo a oferta de petróleo;
- Pressão aos juros, caso o petróleo e o câmbio disparem.
Em síntese, o petróleo é uma das principais commodities do mundo, e o aumento do seu preço pode pressionar a inflação global, já que muitos combustíveis são seus derivados e estes itens exercem forte impacto na taxa inflacionária dos países.
Isso sem contar que o Irã também pediu a imposição de um embargo petrolífero a Israel. Caso os conflitos tenham uma escalada ainda maior, há um risco iminente de problemas na cadeia de produção e exportação de petróleo, ainda mais ao considerar que 60% da produção mundial de petróleo se concentra Oriente Médio.
Tudo isso poderia derrubar o Ibovespa, mas os investidores estavam deixando todos estes fatores de lado, sem considerar os impactos econômicos dos conflitos. Contudo, tudo mudou à tarde.
Powell reduz apetite de risco e derruba Ibovespa
Todas as preocupações com o Oriente Médio estavam de lado, mas declarações de Jerome Powell, presidente do Fed, preocuparam o mercado e derrubaram o Ibovespa. Ele disse que a entidade está “procedendo com cuidado” em relação à taxa de juros nos EUA, mas não negou o aumento dos juros no país, caso haja necessidade.
Além disso, Powell também afirmou que o rali dos rendimentos dos títulos norte-americanos não evitará necessariamente a alta dos juros no país. Inclusive, quanto mais valorizados ficam esses papeis, chamados de treasuries, mais os investidores retiram capital de bolsas de valores, como a brasileira, e o alocam nos EUA.
Ainda não há uma definição sobre os juros nos Estados Unidos, mas boa parte dos analistas ainda acredita na manutenção da taxa na próxima reunião do Fed. O problema é que, na última reunião do ano, em dezembro, a porcentagem de analistas que acreditam no aumento dos juros nos EUA cresceu.
45 das 86 ações do Ibovespa sobem na sessão
Na sessão de hoje (19), 45 das 86 ações listadas no Ibovespa subiram, enquanto outros 39 papeis caíram e quatro se mantiveram estáveis. O resultado do indicador poderia ter sido positivo no dia, mas as quedas exerceram maior impacto no índice, que não conseguiu subir na sessão.
A carteira teórica mais famosa do país movimentou R$ 16,5 bilhões no pregão de hoje, 10% abaixo da média dos últimos 12 meses. Em outubro, a média está em R$ 15,9 bilhões, menor montante mensal de 2023. Por outro lado, o valor mais elevado foi registrado em junho, quando a média diária de giro financeiro no Ibovespa chegou a R$ 21,1 bilhões.