Home office: a hora de retornar

Com o avanço da vacinação, muitos países como os Estados Unidos começam a convocar seus funcionários de volta ao escritório. O Brasil, embora ainda lutando contra os efeitos na pandemia, logo também terá suas empresas enfrentando essa questão.

O experimento do trabalho remoto começa a dar seus resultados. Com isso, a verdade absoluta de que para produzir e colaborar de maneira eficaz as pessoas precisam estar juntas no mesmo espaço e ao mesmo tempo, começa a ser questionada.

O que pensam as grandes corporações

A Apple, uma das companhias mais valiosas e inovadoras do mundo, foi criada por Steve Jobs, que acreditava muito nos encontros cara a cara. Ele juntava diferentes times toda semana , em uma mesma sala, para falar sem uma pauta formal. “A criatividade se dá por meio de encontros espontâneos, discussões aleatórias – disse ele em uma de suas últimas entrevistas, ao biógrafo Walter Issacson. “Você vê alguém, pergunta como está, e logo começa a mirabolar todo o tipo de ideias.”

A atual sede da Apple, que custou US$ 5 bilhões para ser feita, foi elaborada para promover a interação e comunicação entre os 12 mil funcionários. Isso aconteceu até Março de 2020. Após um bom tempo em silêncio, o prédio se prepara para receber os funcionários de volta, graças ao avanço da vacinação no país. O atual presidente mundial, Tim Cook, falou recentemente sobre seu desejo de ver os escritórios cheios. “Ainda é importante que estejamos fisicamente próximos, porque colaboração nem sempre é uma atividade planejada” , – declarou em uma entrevista.

A Amazon, fundada por Jeff Bezos, também se mantem conservadora neste respeito. Em um comunicado enviado aos funcionários em home office, a empresa anuncia que deve voltar a sua cultura centrada no escritório como base. Trabalhar presencialmente, conforme foi dito na mensagem, ajuda a “inovar, colaborar e aprender conjuntamente de modo mais eficiente”.

Já na Google, será adotado um esquema híbrido, intercalando o trabalho presencial com o home office. Um percentual deles terá a possibilidade de trabalhar dois dias por semana em casa – mas deverá negociar isso com seus chefes. Na Microsoft, o desejo também é de adotar um modelo híbrido, com alguns dias mantendo funcionários em suas casas. O Facebook fará um processo escalonado, colocando quase metade de seus funcionários trabalhando em qualquer parte do mundo, mas com calma na transição. Seu fundador Mark Zuckerberg falou recentemente ao The Wall Street Journal que “a cultura é construída no dia a dia ao longo de décadas, e por isso, é preciso ter uma abordagem de longo prazo.”

O que dizem as pesquisas

O principal argumento a favor do trabalho remoto é reforçado pelas estatísticas de produtividade.

A pesquisa Work Trend Index, realizada pela Microsoft com 31 mil profissionais de 31 países, mostra que 73% dos trabalhadores querem que o trabalho remoto continue, e 46% dos funcionários se dizem dispostos a mudar de emprego para manter esta condição.

E quanto á produtividade? Os brasileiros, assim como muitos no mundo, parecem ter notado a diferença. Uma pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral (FDC) com 1075 profissionais, 25,4% acham que sua produtividade não mudou, enquanto 59% notaram uma melhora. “É interessante notar que estas estatísticas vem acompanhadas de comentários sobre sentimentos de exaustão, especialmente na média gerência. Para se manterem neste modelo, empresas e profissionais precisam encontrar o equilíbrio” – complementa Fabian Salum, professor de estratégia competitiva na FDC.

Problemas no home office

Mas nem tudo são flores. Apesar de que a maioria dos funcionários gostaria que a empresa os permitisse trabalhar em casa com mais frequência (91% deles, segundo a pesquisa do site Robert Half), esse modelo gera alguns desafios, para os dois lados.

  • Falta de interações espontâneas

Longe dos colegas, as relações de confiança se enfraquecem e a troca de ideias fica prejudicada. A solução para isso seria criar pequenos momentos de engajamento, como cafés virtuais e reuniões não estruturadas. Até existem alguns aplicativos corporativos com esse fim, estimular grupos de afinidades de funcionários em tornos de interesses pessoais.

  • Saúde mental prejudicada

O confinamento e as incertezas da vida atual causam um alto nível de estresse nas equipes. Sobre isso, as empresas poderia realizar curtas pesquisas, mas com frequência diárias, para monitorar a saúde mental dos funcionários. Muitas já estimulam práticas saudáveis, como meditação e exercícios físicos.

  • Excesso de reuniões virtuais

O mundo virtual possibilita reuniões com intervalos de minutos entre elas. O psicólogo Jeremy Bailenson, da Universidade de Stanford, nos EUA, realizou uma pesquisa, divulgada em Fevereiro, aonde chama de “Zoom Fatigue” (fadiga do Zoom) o cansaço causado por repetitivas videoconferências realizadas pelos profissionais.

Espaçar os intervalos entre as reuniões, não faze-las na hora do almoço e avaliar a necessidade delas ajuda a não sobrecarregar os profissionais.

  • Exaustão

Sobretudo para quem trabalha em casa e ainda precisa cuidar de crianças ou idosos, a falta de rotina estruturada torna a jornada do trabalhador longa e exaustiva. Algumas empresas programam folgas escalonadas, como forma de recuperar as energias. A Google, por exemplo, adotou três sextas-feiras livres durante este ano.

Exemplos brasileiros

Em uma pesquisa feita para a CNN pela empresa internacional de serviços Deloitte apontam que a maioria das empresas brasileiras já contava com tecnologia para fazer sua transição ao home office, quando surgiu a necessidade. Agora, é hora das organizações olharem além da resposta imediata à crise, buscando estratégias para acelerar a recuperação dos negócios. O ideal é que usem essa oportunidade para repensar o futuro do trabalho.

A startup Enjoei, um brechó virtual, criou um aplicativo para seu funcionários que funciona como um jogo. Ali, cada um com seu avatar, pode circular em um ambiente que simula a empresa, e entrando em um ambiente, pode conversar por vídeo com os colegas que estão ali. Deu tão certo que a Enjoei decidiu devolver o escritório que ocupavam na Zona Sul de São Paulo e colocar seus 300 funcionários para trabalhar em home office.

Varias empresas brasileiras anunciam diariamente suas vagas remotas. A Hotmart, especializada em produtos digitais educacionais, recentemente anunciou 400 vagas para profissionais na área de tecnologia. O CEO e cofundador da Hotmart, João Pedro Resende, afirma que a empresa também está dedicada a tornar os escritórios ambientes mais atraentes. “Nossa ideia é criar escritórios tão incríveis que, mesmo sem obrigatoriedade, muitos vão querer estar lá, próximos uns dos outros. Mas isso não será uma imposição da empresa”, afirma ele para a CNN.

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