Há cerca de um mês atrás, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu um processo contra o Google sob a alegação de monopolizar os anúncios e serviços que oferece aos consumidores nos dispositivos e plataformas. De acordo com a documentação levantada pelo órgão norte-americano, composta por 155 páginas, o Google está sendo acusado de monopólio porque chegou ao topo muito rápido e permaneceu assim por muitos anos, mesmo com outros concorrentes em vigor, como o Yahoo, o AOL (América On Line) e até a entrada do Facebook, em 2014.
LEIA MAIS: Anúncios no Google podem esconder ciberataques
O processo do Departamento de Justiça foi acompanhado por mais oito estados do país e pede para que o Google abra mão de sua divisão de publicidade. Ainda há a acusação de que o gigante de buscas corrompeu o mercado de publicidade online ao absorver a maior parte dos lucros, ao invés de distribuir entre os produtores de conteúdo.
O principal argumento do processo são as “aquisições anticompetitivas” feitas pelo Google. Os promotores usam a aquisição da DoubleClick, companhia de serviços de publicidades, como exemplo. Feita em 2008, a compra dessa empresa permitiu que o Google tivesse as condições para estabelecer um monopólio no mercado de publicidade digital, segundo o Departamento de Justiça.
Um porta-voz do Google disse que o processo “tenta escolher vencedores e perdedores no altamente competitivo setor de tecnologia de publicidade”, de acordo com o portal Olhar Digital. Para a empresa, o argumento do Departamento de Justiça norte-americano é falho e retardaria a inovação da empresa, além de aumentar as taxas de publicidade.
Ainda em 2022, em uma tentativa de evitar o processo, a Alphabet (dona do Google) sugeriu retirar o negócio de publicidade digital do Google e colocar sobre outra empresa, ainda que do mesmo grupo. A medida não seria o bastante para o órgão norte-americano, que busca a saída da empresa desse setor mediante a venda.
Impacto no mercado de publicidade
Para o consultor em anúncios digitais, Gustavo Coelho, a princípio, não há motivo para que os anunciantes se preocupem com o processo. Ele não vê um impacto direto nos anúncios aqui no Brasil, “até porque, com o tamanho e a complexidade do processo, essa ação ainda deve demorar muito até que defina alguma coisa ou que alguma alteração seja feita na ferramenta”.
Ele também não acredita que os anúncios sofrerão impacto no faturamento. “Pela minha experiência como consultor, ao longo dos anos, imagino que, cerca de 90% do faturamento dos anúncios do Google seja feito de forma pré-paga, ou seja, você paga e depois utiliza a ferramenta”, explica.
Enquanto só as grandes empresas e agências conseguem tem esse privilégio de pagar durante ou após o uso, a grande maioria primeiro paga por boleto e cartão de crédito para depois anunciar. Por esse motivo, até mesmo o próprio Google não deve ter mudanças no seu faturamento em razão do processo.
Ele também não acredita que a empresa mude a forma de pagamento e nem prejudique os anunciantes. “Em hipótese, o que pode acontecer é o Google Adsense ser obrigado a mostrar os extratos das parcerias de forma mais clara. Nesse caso, pode ser que a ferramenta precise devolver algum valor, mas isso é imensurável”, diz ele.
“Mas com a minha experiência de 11 anos com a Google, vejo que é uma empresa corretíssima, onde não vemos muitos problemas com ela, como acontece com o Facebook, por exemplo”, opina o especialista.
Como funciona os anúncios no Google
Hoje em dia, o Google tem cerca de 3 milhões de sites parceiros. Esses sites criam uma conta no Google Adsense e liberam espaço para potenciais anúncios. O Google insere os anúncios dos seus clientes dentro desses espaços e, toda vez que algum usuário clicar, o site parceiro ganha uma porcentagem em dólar. O valor é de acordo com o número de anunciantes de um mesmo serviço e região.
Para o consultor, o Google e o Facebook competem de igual para igual, mas em 2022, o primeiro faturou cerca de US$ 200 bilhões, enquanto o segundo chegou perto dos US$ 150 bilhões. Mesmo com a chegada de empresas como TikTok, Pinterest, Twitter e LinkedIn, o Google ainda tem um percentual maior que todas elas reunidas.
De acordo com números publicados pela Alphabet, cerca de 80% de seu faturamento advém da publicidade. Em 2021, a receita reportada pelo Google com a corretagem de anúncios chegou a US$ 31,7 bilhões 12% da receita total da Alphabet. A gigante das buscas distribui cerca de 70% dessa receita para editores e desenvolvedores da web.