Gari que estudava com livros achados no lixo conclui doutorado

Ensino a distância e determinação foram fundamentais para Cícero conquistar o diploma em Teologia

O gari Cícero Rodrigues Ferreira, de Crato, município brasileiro do estado do Ceará, é mais um daqueles personagens inspiradores que representam a importância de uma educação universal e gratuita para todos. Do lixo coletado na ruas da cidade, ele desenvolveu um hábito pouco comum aos olhos de seus colegas de trabalho: guardava todos para estudar em casa.

No final de 2019, o esforço resultou em uma grande conquista: o diploma de doutorado em Teologia. Mais velho de cinco filhos, Cícero divide a vida profissional entre a limpeza pública e as aulas ministradas em faculdades locais há quatro anos.

Mas quem pensa que foi fácil esse percurso, se engana. Quando criança, o doutor morava em uma casa de apenas um cômodo com os quatro irmãos e seus pais. Passou a vida estudando em escolas públicas. Desenvolveu o gosto pelo inglês por influência do cantor Bob Marley, o que lhe rendeu uma atuação como professor secundário de inglês básico.

Seu primeiro emprego foi aos 18 anos como gari. Ele conciliava o trabalho com os estudos para concluir o Ensino Médio. Chegava em casa quase meia noite e, mesmo cansado, não deixava de se dedicar aos trabalhos escolares.

Em 2000, Cícero concluiu o Ensino Médio, mas largou os estudos para ficar apenas no trabalho como gari. Em 2015 ele ingressou no seminário para estudar Teologia. Foram mais de três anos de aulas, que depois foram validadas como bacharelado por uma faculdade do estado.

Depois de cinco anos nas ruas, ele foi promovido. Hoje cuida da parte administrativa, o que lhe possibilitou mais tempo para conseguir o diploma de Bacharel em Teologia.

Foi por meio do Ensino a Distância (EaD) que Cícero abriu uma nova fase no seu caminho dos estudos, pois iniciou o mestrado na área. Depois de conquistar o diploma, ele se tornou professor e chega a ministrar aula na disciplina Grego Instrumental, idioma que aprendeu sozinho.

“Foi uma necessidade, pois o Novo Testamento foi escrito em grego”, conta à reportagem do Diário do Nordeste. Além do inglês e do grego, o gari e doutor compreende e fala um pouco de hebraico.

A partir do grego ele iniciou sua pesquisa no doutorado, que começou dois anos e meio atrás, também por ensino a distância. A conclusão ocorreu no final de 2019, onde defendeu a canonicidade do Novo Testamento.

Agora doutor, ele está apto a lecionar 16 disciplinas, que inclui, por exemplo, Antropologia da Religião. Sua trajetória não foi fácil, mas ele diz que sente muito orgulho do caminho que percorreu até o momento.

*Com informações do Diário do Nordeste

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