Depois de vários meses sem falar publicamente sobre o assunto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu dar a sua opinião sobre o projeto que pretende elevar a taxação de impostos sobre produtos importados. O tema está em debate no congresso nacional, e tem potencial de encarecer os preços de itens comprados em lojas como Shein, Shopee e AliExpress.
De acordo com Lula, o governo federal não apoia a ideia de elevar a taxação destes produtos neste momento. Entre outros pontos, ele disse que este é um sistema que atende boa parte da população brasileira, especialmente as mulheres e meninas mais pobres.
“Quem é que compra essas coisas? São mulheres, a maioria, jovens e tem muita bugiganga. Olhe, eu nem sei se essas bugigangas competem com as coisas brasileiras, não sei. Mas nós temos dois tipos de gente que não pagam imposto. Você tem as pessoas que viajam, que são gente que não paga, são gente de classe média”, disse ele.
“Mas como que você vai proibir as pessoas pobres, meninas e moças que querem comprar uma bugiganga, um negócio de cabelo, sabe? Todo mundo compra. Minha mulher compra, a filha do Alckmin compra, a filha do Lira compra. Todo mundo compra. Então, nós precisamos tentar ver um jeito de não tentar ajudar um prejudicando o outro”, seguiu ele.
Resposta a Lira
De uma maneira mais objetiva, é possível afirmar que a declaração de Lula vem como uma espécie de resposta a uma fala do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Em entrevista, o parlamentar citou uma pesquisa para argumentar que as compras em lojas como Shein são feitas majoritariamente por pessoas mais ricas.
“O governo e os partidos de oposição estão querendo discutir o texto (que eleva a taxação das comprinhas). O relator ficou de procurar uma solução alternativa. Mas há uma mobilização grande aí do setor do varejo do Brasil, de todos os setores com confederações, sindicatos, falando da importância do que está acontecendo”, disse o presidente da Câmara.
“Os problemas são sérios. Você não pode usar de razões rasas para justificar. Nós tivemos acesso a uma pesquisa de um instituto (FSB) que demonstra que quase 60% dos consumidores dessas empresas são das classes A e B. Essa questão de dizer que é o menos favorecido que vai perder o poder de compra, você tem que colocar um pouco na balança a manutenção dos empregos, a concorrência com as empresas nacionais”, completou o presidente da Câmara.
O que diz a Shein
Recentemente, a própria Shein falou sobre o assunto. Por meio de uma entrevista, representantes da empresa disseram que o presidente Lula não pode sancionar o novo projeto, sob pena de estar punindo os mais pobres.
“É um impacto muito negativo, você não pode subir 92% dos impostos assim”, avalia o chairman da própria Shein, Marcelo Claure. “Eu não acredito que o presidente Lula permitiria uma barbaridade assim de que o rico não pague imposto e o pobre sim”, disse o representante da empresa em entrevista.
“O aumento da carga tributária nunca beneficia o consumidor final, pelo contrário, ele reduz o poder de compra das pessoas. Falando claramente, o que precisamos é redução da carga tributária atual e do custo Brasil, não o contrário”, seguiu ele.
“O presidente Lula mesmo fala que nós não podemos ser punitivos contra os pobres. Os clientes da Shein são do extrato social C, D e E. Eu não acredito que ele (Lula) deixaria isso acontecer”, diz ele.
Fato é que o governo federal vem sendo pressionado pelo varejo nacional para elevar as alíquotas da taxação da Shein, e de outras empresas estrangeiras que atuam com vendas para o Brasil.