Entregadores de app são maioria na área de trauma da USP

Entregadores de app são maioria dos internados na área de trauma craniano da USP

Relatório indica que entregadores de app representam de 60% a 70% dos pacientes nesta situação no Hospital das Clínicas

Cerca de 70% dos pacientes em estado grave no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP atualmente são trabalhadores de aplicativo. A informação faz parte do relatório final da CPI dos Aplicativos, apresentado na Câmara de São Paulo na segunda-feira (12). A informação foi divulgada pelo site The Intercept.

Os números estão crescendo rapidamente. Em entrevistas, membros do Hospital das Clínicas afirmam que entre os anos de 2015 e de 2016, o número de atendimentos de entregadores de aplicativo representava algo em torno de 20%. A explosão aconteceu de lá até aqui, sobretudo depois da pandemia do coronavírus.

“Peço desculpas pelo discurso indignado, de quem está na linha de ponta vendo os incapacitados e o que isso acarreta às pessoas e famílias, mas estou (aqui) para dar o maior apoio a qualquer atividade, a qualquer ação que realmente traga soluções para isso”, disse Julia Maria D’Andréa Greve, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora técnica do Laboratório de Estudos do Movimento do Hospital das Clínicas.

Ela disse ainda que para além do prejuízo humano para o cidadão que se acidenta, há também um custo para o estado. “Um indivíduo com fratura exposta, se fizer o tratamento durante seis meses, por exemplo, representa um gasto de quase R$ 300 mil em procedimentos, remédios e cirurgias”, disse a professora.

Esta comissão analisa a possível culpabilidade das empresas de app em relação aos números. Eles argumentam que boa parte destes empregadores não se preocupariam com a saúde destes entregadores, e muitos também não estariam ajudando no processo de diminuição da jornada de trabalho, já que muitos destes empregados acabariam trabalhando no trânsito cansados.

A relação

Toda a discussão envolvendo empregadores e trabalhadores de aplicativos passa pela questão do vínculo de trabalho. Empresas afirmam que não possuem este vínculo com os trabalhadores, e alguns empregados dizem que o vínculo existe.

A discussão ocorre porque se a Justiça do trabalho decidir que há um vínculo de trabalho entre as partes, as empresas passariam a ter que arcar com uma série de obrigações. Uma delas é justamente o controle da jornada de trabalho do cidadão, que hoje não existe.

Por outro lado, existe o argumento de que o trabalhador não tem vínculo com a empresa e que ele está trabalhando porque assim desejou. Logo, o empregador não precisaria se preocupar com boa parte dos chamados direitos trabalhistas.

A CPI dos entregadores de app

No caso específico da cidade de São Paulo, os resultados da CPI fizeram com que os vereadores pedissem a prefeitura da cidade e ao Congresso Nacional para que trabalhem juntos na construção de uma regulamentação deste tipo de trabalho.

“Não é ofertado sistema de assistência à saúde dos motoristas, de modo que os acidentes envolvendo motoristas também tendem a onerar o Sistema Único de Saúde (SUS), causando outro prejuízo ao erário do qual as empresas se isentam sem qualquer constrangimento, o que não se pode mais admitir”, afirma o relatório.

Algumas empresas de app se pronunciaram sobre a publicação do documento. Foi o caso, por exemplo, do Ifood. “O iFood valoriza o processo em andamento e segue comprometido em manter o diálogo aberto para buscar avanços e oportunidades para todos os 200 mil entregadores que trabalham e geram renda com a nossa plataforma.”

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