Ensaio: Conheça o gênero textual de escrita pessoal e opinativa
Ensaio é um dos gêneros textuais assim como a fábula, a notícia e o diário, por exemplo. Apresenta características próprias em que destaca-se a opinião do autor no texto por meio de argumentações. Assim, no ensaio é permitido expor o ponto de vista sobre determinado assunto.
Registra-se que os primeiros ensaios foram escritos no século XVI, com ênfase para “Ensaios”, de Michel Montaigne, no ano de 1580.
Como identificar um ensaio
O ensaio pode ser encontrado como um texto formal ou informal. Pode haver críticas explícitas ou subliminares, é de fácil leitura, sem necessidade de provar o que se diz.
Não existe uma estrutura fixa para este gênero, mas normalmente é encontrado com tema, título, corpo do texto e bibliografia. O ensaio caracteriza-se por ser discursivo, argumentativo e expositivo.
Como escrever um ensaio
Todo texto, independentemente do seu gênero, deve ter clareza, coesão e coerência. No ensaio não é diferente. A estrutura de um texto do tipo ensaio assemelha-se à estrutura de uma dissertação, aquele cobrado em redações na maioria das provas de vestibular.
Antes de começar a escrever um ensaio é preciso saber para quem será redigido e qual linguagem será adotada.
Estrutura
Tema: assunto abordado e problematizado no texto.
Título: palavra ou frase relacionada com o tema que será abordado.
Corpo de Texto: desenvolvimento do texto, composto pela argumentação do autor. Tem introdução (apresentação do tema que será desenvolvido); desenvolvimento (redação com reflexão, argumentos e crítica – se houver) e conclusão (encerramento com final original).
Bibliografia: são as obras consultadas colocadas em lista, no fim do texto, e ordem alfabética, obedecendo às regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Michel de Montaigne (1533 – 1592)
O jurista, filósofo, político e escrito francês Michel de Montaigne é considerado o inventor do gênero ensaio. Nas suas obras ele costumava analisar instituições, opiniões e costumes da sociedade, expondo sua visão crítica sobre os princípios morais e comportamentais da sua época. Normalmente, seu objeto de estudo abrangia a humanidade.
Montaigne escreveu apenas “Ensaios”, uma obra constituída por três volumes com diversos artigos como “Dos canibais”, “Sobre a Vaidade”, “Sobre a Amizade”, “Dos livros” e “Jornal de Viagem”.
Seus textos caracterizam-se por conter “dois pontos” em demasia, uso de muitas vírgulas e ausência de parágrafos. Em algumas edições da obra é possível encontrar modificações no estilo como presença de parágrafos, contrariando a forma original da obra.
Voltaire (1964 – 1778)
Voltaire é o pseudônimo de François-Marie Arouet, escritor e filósofo iluminista da França. Ele escreveu diversas obras, tendo preferência por produções épicas e trágicas. Suas escritas espalharam-se e ficaram famosas por toda a Europa.
Além da postura filosófica e autoral, Voltaire foi considerado o porta-voz dos iluministas. Pregou a liberdade de imprensa, a tolerância religiosa dentre outras campanhas durante a Revolução Francesa.
Voltaire escreveu uma coleção de ensaios chamados “Cartas Filosóficas” baseados nas suas experiências vividas enquanto estava na Inglaterra. Estas obras foram publicadas na França e Inglaterra, no ano de 1734.
Por meio de observações, Voltaire conta com detalhes como são os aspectos culturais da nação inglesa, além de escrever sobre o governo da época e a sociedade.
A obra Cartas Filosóficas divide-se em 24 ensaios, sendo:
- Carta I: Sobre os Quaker
- Carta II: Sobre os Quaker
- Carta III: Sobre os Quaker
- Carta IV: Sobre os Quaker
- Carta V: Sobre a igreja da Inglaterra
- Carta VI: Sobre os Presbiterianos
- Carta VII: Sobre o Socianismo, ou Arianos, ou Anti-trinitários
- Carta VIII: Sobre o Parlamento
- Carta IX: Sobre o Governo
- Carta X: Sobre o Comércio
- Carta XI: Sobre a Inoculação da Vacina
- Carta XII: Sobre Lord Bacon
- Carta XIII: Sobre Sr. Locke
- Carta XIV: Sobre Descartes e Sir Isaac Newton
- Carta XV: Sobre a Atração
- Carta XVI: Sobre a Óptica de Sir Isaac Newton
- Carta XVII: Sobre os Infinitos na Geometria, e a Cronologia de Sir Isaac Newton
- Carta XVIII: Sobre a Tragédia
- Carta XIX: Sobre a Comédia
- Carta XX: Como a Nobreza Cultivou as Belas Letras
- Carta XXI: Sobre o Conde de Rochester e o Sr. Waller
- Carta XXII: Sobre o Sr. Pope e alguns outros famosos poetas
- Carta XXIII: Sobre a Consideração que se Deveria ter para com um Homem de Letras.
- Carta XXIV: Sobre a Academia Real Inglesa e outras Academias.
Nesta obra, Voltaire faz uma abordagem crítica sobre religião, teatro, medicina, política e ciência em comparação entre a França e a Inglaterra. Ele aborda as diferenças entre os dois povos e ressalta que a conduta das pessoas interfere no futuro das nações.
José Saramago (1922 – 2010)
O escritor português José Saramago publicou mais de 20 obras, sendo os ensaios os seus destaques literários. São de sua autoria as famosas obras “Ensaio sobre a Lucidez”, “Ensaio sobre a cegueira” e “Ensaio sobre a guerra”.
Saramago tinha um jeito único de escrever. Seus textos apresentam frases e períodos compridos e pouco ou quase nenhum travessão nos diálogos. Um ensaio de grande sucesso foi “Ensaio sobre a cegueira”, obra que foi traduzida para diversos idiomas e ganhou até adaptação para cinema a partir do cineasta brasileiro Fernando Meirelles.
Na obra Ensaio sobre a cegueira, publicada em 1995, Saramago critica os problemas sociais e as relações humanas. A cegueira presente no enredo é uma metáfora para a falta de visão das pessoas para os problemas do cotidiano. Assim, ele demonstra, metaforicamente, a natureza humana e o desinteresse pelo coletivo.
No dia do lançamento da obra, Saramago descreveu o livro como “terrível”, uma tortura violenta e uma experiência dolorosa. Ele disse, ainda, esperar pelo sofrimento do leitor. O motivo de tanta depreciação parte do que é descrito nos seus textos. Ele debruçou-se sobre o egoísmo humano, a inércia das pessoas e os problemas sociais enfrentados.
Esta obra deu sucessão para o livro “Ensaio sobre a lucidez”, publicado em 2004, em que José Saramago aborda a sua visão sobre o voto em branco, com críticas implícitas às instituições políticas. Ele o faz por meio dos mesmos personagens do livro “Ensaio sobre a cegueira”.