Trabalhar e não receber o pagamento pelo serviço prestado nunca é uma experiência tranquila, mas é mais comum do que se pode imaginar. Neste momento, por exemplo, este é o grande problema de milhares de professores brasileiros, que ajudaram no processo de correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Eles afirmam que estão sendo vítimas de um calote.
Os profissionais em questão foram contratados oficialmente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que foi supervisionada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O trabalho dos profissionais nada mais foi do que corrigir centenas de milhares de provas do Enem no decorrer dos meses de dezembro do ano passado e janeiro deste ano.
Quase quatro meses depois do serviço prestado, os alunos já receberam as suas notas e alguns já estão até mesmo cursando o ensino superior. Contudo, os professores que ajudaram a corrigir as suas redações no Enem ainda não receberam o dinheiro referente ao serviço prestado. Deste modo, eles decidiram realizar protestos nas redes sociais para cobrar pelos pagamentos.
O trabalho dos professores consistiu basicamente em corrigir de 100 a 200 redações do Enem do último ano por dia. Como pagamento, eles devem receber o patamar de R$ 3 por prova corrigida. Os profissionais afirmam que se trata de um trabalho exaustivo, que exige muita concentração para que nenhum aluno seja prejudicado.
Os professores dizem ainda que precisaram passar por um longo e rigoroso processo de seleção antes de começarem a fazer parte do time de profissionais que corrigem as redações do Enem. Na prática, eles tiveram que dedicar muito tempo de suas vidas profissionais para garantir a boa realização do trabalho de correção das provas.
O que diz a FGV
Ainda no final do último mês de abril, a FGV informou que ainda não tinha recebido nenhum repasse do Inep para os pagamentos dos professores que atuaram nas correções das provas do Enem referente ao ano de 2022. Eles afirmam que sem o dinheiro que deveria ser enviado pelo Ministério da Educação, não tem como realizar os repasses para os profissionais.
“A Fundação Getulio Vargas informa que, em função de pendências provenientes da gestão do Enem de 2022, ainda da administração passada, até a presente data não recebeu os valores referentes à correção das redações do exame”, alega a instituição de ensino em nota.
Na mesma nota, a FGV diz que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria empenhado em resolver a questão dos pagamentos para os professores que ajudaram nas correções das provas do Enem. A Fundação frisa ainda que este sistema de liberação ainda é referente ao processo de seleção que foi realizado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Em relação ao Enem 2022, a troca de governos causou pequeno, mas incontornável, reflexo no cronograma de conclusão do processamento do exame”, diz a nota.
Procurado, o Inep disse que a responsabilidade sobre os pagamentos dos profissionais que atuaram como corretores é da FGV.
Protestos de corretores do Enem
As notas da FGV e do Inep, no entanto, parecem não ter convencido os professores. Nas redes sociais, a hastag #FGVCaloteira está entre os assuntos mais comentados de diversos sites de compartilhamento de mensagens. Nos posts oficiais da Fundação Getúlio Vargas também há uma série de comentários de professores cobrando uma solução rápida para o problema.
“Os avaliadores do Enem prestaram um serviço de excelência e entregaram seus serviços no prazo. Façam a parte de vocês e paguem os colaboradores”, disse um dos internautas nos comentários de uma postagem oficial da FGV no Instagram.
“Vergonha, FGV, o que vocês estão fazendo é uma vergonha! Não respondem em nenhum dos canais e até hoje não pagaram os corretores do Enem. Que situação absurda e feia para uma instituição como vocês, sinceramente”, criticou um segundo internauta que também está com os pagamentos em atraso.