Os brasileiros receberam uma notícia preocupante nesta quarta-feira (11). A saber, o percentual de endividamento das famílias do país se manteve estável em setembro, após dois meses de queda. Isso mostra que a quantidade de pessoas sofrendo com dívidas e contas atrasadas não está crescendo no país.
Contudo, isso não quer dizer que os números estejam baixos. Pelo contrário, o endividamento atingiu 77,4% das famílias do país em agosto. Apesar de ser o menor patamar desde junho de 2022, ou seja, em um ano e três, o resultado ainda é muito preocupante.
No ano passado, o Brasil teve o maior percentual de endividados já registrado pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), mas a situação financeira das famílias do país parece estar melhorando gradativamente neste ano, ou, ao menos, não está piorando.
Endividamento continua elevado no país
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela Peic, o endividamento perdeu força no país nos últimos meses, mas continua muito elevado.
Confira abaixo as taxas de endividamento dos brasileiros em todos os meses de 2023:
- Janeiro: 78,0%;
- Fevereiro: 78,3%;
- Março: 78,3%;
- Abril: 78,3%;
- Maio: 78,3%;
- Junho: 78,5%;
- Julho: 78,1%;
- Agosto: 77,4%;
- Setembro: 77,4%.
Em resumo, o percentual de endividamento cresceu fortemente no Brasil em 2021, refletindo o impacto da pandemia da covid-19, e a trajetória continuou subindo em 2022, até alcançar o seu ponto máximo em setembro do ano passado(79,3%).
O cenário desafiador em que o país se encontrava, com a inflação elevada, pressionou o Banco Central (BC) a aumentar os juros no país, reduzindo o poder de compra do consumidor.
Entre março de 2021 e agosto de 2022, o BC elevou 12 vezes consecutivas a taxa básica de juro da economia, a Selic. Com isso, a taxa chegou a 13,75% ao ano, maior percentual desde novembro 2016. Contudo, no início de agosto, o BC realizou o primeiro corte dos juros em três anos, e promoveu o segundo corte em setembro.
Variação do endividamento entre as faixas de renda
Segundo a Peic, os consumidores que tiveram as maiores taxas de endividamento em setembro foram os de renda mais baixa. Por outro lado, os consumidores com os rendimentos mais elevados tiveram percentuais menores no mês passado, mas ainda bastante elevados.
Veja os percentuais de endividamento por faixa de renda em setembro:
- Renda de 0 a 3 salários mínimos: 79,4%;
- Renda de 3 a 5 salários mínimos: 77,9%;
- Renda de 5 a 10 salários mínimos: 74,3%;
- Renda superior a 10 salários mínimos: 74,9%.
No mês passado, o destaque foi a queda de 1,1 ponto percentual (p.p.) da taxa de endividamento entre as pessoas que recebiam de 5 a 10 salários mínimos, na comparação com agosto (75,4%). O percentual de famílias endividadas também recuou entre os consumidores com renda de 3 a 5 salários mínimos (-0,5 p.p.).
Em contrapartida, as famílias com renda de até 3 salários mínimos não se beneficiaram com redução do endividamento, já que a taxa cresceu 0,3 p.p. Por sua vez, as famílias com renda superior a 10 salários mínimos mantiveram o mesmo percentual de dívidas de agosto.
O presidente da CNC, José Roberto Tadros, disse que a estabilidade do endividamento no Brasil é um sinal positivo e muito importante. “No entanto, preocupa o aumento do índice nas faixas de renda mais baixas e, inclusive, com a tendência de aumento da inadimplência dessas famílias“, explicou.
Inadimplência cresce em setembro
Embora o endividamento tenha ficado estável em setembro, o número de famílias inadimplentes cresceu no país. Segundo os dados da Peic, três em cada dez famílias estavam com dívidas atrasadas no país.
A taxa chegou a 30,2% no mês passado, superando a inadimplência registrada em agosto (30%). Segundo a CNC, essa é a taxa mais elevada desde novembro de 2022, ou seja, em dez meses.
Segundo Tadros, os desafios econômicos para os brasileiros ainda são muito elevados, principalmente por causa dos juros elevados do cartão de crédito. Em suma, esta é a principal modalidade de endividamento dos brasileiros.
“Uma pesquisa inédita da CNC revelou que 90% do varejo tem suas receitas provenientes de compras parceladas sem juros no cartão de crédito, pelo menos parcialmente, o que evidencia também a inclusão das pessoas de renda média e baixa no mercado de consumo“, disse Tadros.
Cabe salientar que a pessoa inadimplente é aquela que possui dívidas ou contas em atraso. Existem alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Cartão de crédito impulsiona endividamento
A Peic ainda revelou quais foram os principais tipos de dívidas dos consumidores do país em setembro. Veja abaixo os percentuais registrados:
- Cartão de crédito: 86,2%;
- Carnês: 17,0%;
- Crédito pessoal: 9,1%;
- Financiamento de carro: 7,7%;
- Financiamento de casa: 7,5%;
- Crédito consignado: 5,2%;
- Cheque especial: 4,3%;
- Outras dívidas: 2,6%;
- Cheque pré-datado: 0,5%.
Por fim, a CNC destacou que cartão de crédito foi a única modalidade de dívida que voltou a ganhar espaço em setembro, na comparação com agosto, de 0,7 p.p. Nas demais modalidades, a taxa de endividamento recuou ou se manteve estável.