Economia

Empréstimo Consignado do Auxílio Brasil: veja os riscos

A partir de setembro, os beneficiários do Auxílio Brasil poderão aderir ao crédito consignado já aprovado pelo governo federal. O programa terá um limite de comprometimento da renda de até 40%, mas muitos economistas consideram o mecanismo como arriscado.

Assim como os economistas, vários bancos privados têm receio da iniciativa e informaram que não deverão operar o empréstimo. Dentre eles, grandes nomes como Bradesco, Santander e Itaú já demonstraram desinteresse no crédito consignado ao Auxílio Brasil.

Até então, apenas bancos públicos como o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem oferecer a modalidade, mas o ministro da Cidadania, Ronaldo Bento, informou que há 17 instituições homologadas no sistema. Além disso, para a aprovação total do mecanismo, o governo ainda tem de estabelecer os limites para as taxas de juros que poderão ser cobradas.

Preocupação dos economistas

O que mais preocupa os especialistas na medida é o risco de endividamento das famílias mais vulneráveis. Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo, informa que “hoje, quase 80% da população está endividada. A maioria sofre com os altos reajustes da inflação e o aumento do custo de vida. Por isso, contrair mais uma dívida, por menor que pareça ser, pode se transformar em uma bola de neve”.

Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Grupo Boa Vista, o desemprego e a diminuição de renda são às duas principais causas da inadimplência no primeiro semestre de 2022, com 28% e 24% das respostas da pesquisa, respectivamente. O estudo apontou também que 63% dos entrevistados possuem três ou mais contas em atraso, além de dívidas a cima de R$ 3 mil.

Alleman informa que para o atual momento é muito importante possuir cautela e organizar os gastos para não acabar adquirindo dívidas nos próximos meses. “Muitas pessoas utilizam o empréstimo para aumentar a renda, porque existe uma falsa noção de que você tem mais dinheiro para gastar. Mas vale lembrar que o auxílio é temporário, enquanto o empréstimo é algo que você tem que quitar até o final”, alerta.

Além disso, a educadora financeira informa que o dinheiro do Auxílio Brasil não deve ser utilizado para fazer novas dívidas. “Caso haja a necessidade, esse recurso deve ser usado para quitar compromissos anteriores”, orienta Allemann.

Detalhes da educadora sobre o consignado do Auxílio Brasil

A especialista informa que o consignado do Auxílio Brasil pode, sim, valer a pena para alguns casos, como quando alguém tem uma necessidade urgente, contrário da utilização para compras no dia-a-dia. Isso porque fora destes casos, os juros altos tendem a comprometer a renda disponível do beneficiário a longo prazo, reduzindo as reservas para gastos essenciais como a alimentação.

“Antes da liberação de crédito, é preciso organizar o orçamento de forma consciente. O Auxílio Brasil deve ser utilizado com prioridade para o bem-estar e alimentação da família e, caso sobre dinheiro, use-o para pagar dívidas”, afirma.

Em outro momento, Allemann ressalta que, como a parcela do empréstimo é descontada diretamente do Auxílio Brasil, não há a possibilidade de uma renegociação da dívida. “Uma alternativa é fazer a portabilidade desse empréstimo para outro banco, com condições mais vantajosas. O interessado deve observar bem as condições oferecidas pelas instituições, especialmente com a expressão a partir de”, alerta Allemann.