A economia brasileira registrou uma forte queda em abril de 2023. Após iniciar o ano com um forte crescimento, fechando o primeiro trimestre com taxas mais elevadas que o esperado, a atividade econômica do país encolheu 1,2% no quarto mês deste ano.
O forte recuo aconteceu, principalmente, por causa da forte base comparativa. Como a atividade econômica cresceu de maneira robusta nos primeiros meses do governo Lula, superando o desempenho observado nos últimos meses do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o resultado de abril veio dentro do esperado.
Apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ter registrado um resultado negativo na base mensal, não foi isso o que aconteceu na comparação anual. Em resumo, a economia do país cresceu 3,0% em abril, em relação ao mesmo mês de 2022, indicando o bom resultado do início do governo Lula.
Cabe salientar que, em 2022, o PIB brasileiro cresceu 2,9% em relação a 2021. Isso aconteceu por causa da fraca base comparativa, uma vez que o país ainda sofria com os impactos provocados pela pandemia da covid-19 em 2021.
Aliás, a economia global sofreu uma grande recessão em 2020, ano da pandemia de covid-19. No ano seguinte, as nações registraram resultados bastante positivos devido à fraca base comparativa.
No Brasil, o crescimento não ocorreu apenas em 2021, mas também em 2022. Para 2023, a expectativa também é de avanço do PIB, mas o resultado deverá ser um pouco mais tímido que o do ano passado.
Todos estes dados fazem parte do Monitor do PIB-FGV, realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) e divulgado na semana.
Agropecuária perde força e derruba PIB
A saber, o PIB brasileiro cresceu 2,5% em fevereiro e 1,8% em março, na comparação com o mês anterior, após ajuste sazonal. Como a base comparativa estava muito forte, o resultado em abril deste ano não conseguiu ficar no campo positivo.
Embora a queda tenha sido firme, a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece, afirmou que o resultado não deve ser considerado tão pessimista assim. Inclusive, ela fez a mesma afirmação em relação ao resultado do primeiro trimestre de 2023, que foi bem expressivo.
“Assim como o forte crescimento registrado no primeiro trimestre não deve ser analisado de forma tão otimista, a queda de 1,2% da atividade econômica em abril não deve ser analisada de forma pessimista“, disse Trece.
“Esta retração mostra um efeito esperado, tendo em vista que o desempenho econômico em fevereiro e março foram muito elevados devido a produção de soja“, acrescentou.
Para quem não sabe, a soja é o principal grão produzido no país, e sua forte produção ajudou a impulsionar a agropecuária e, consequentemente, a economia brasileira no primeiro trimestre deste ano.
Em suma, a agropecuária cresceu 10,9% nos três primeiros meses de 2023, sendo o único setor a crescer em todos os meses do primeiro trimestre, na comparação com o mês anterior. O setor de serviços e a indústria não conseguiram ter desempenhos tão positivos assim.
“Como a maior parte da colheita deste produto se concentra no primeiro trimestre, e este apresentou grande influência nos resultados positivos registrados nos primeiros meses do ano, a queda em abril sinaliza apenas que a colheita de soja tende a ser menor a partir do segundo trimestre“, explicou a coordenadora.
Desafios para a economia brasileira em 2023
De acordo com Juliana Trece, os dois principais desafios para a atividade econômica do país são os juros elevados e a desaceleração do setor de serviços.
“Apesar de toda essa volatilidade característica da agropecuária estar sendo refletida em toda a atividade econômica, os desafios do país continuam sendo os mesmos. Os juros elevados e o menor fôlego esperado para o setor de serviços, em comparação ao ano passado, ainda são os principais entraves para a economia“, avaliou a coordenadora.
Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reuniu para definir os rumos da política monetária do país. A previsão de analistas é que a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, vai continuar em 13,75% ao ano. Esse é o maior nível dos juros no Brasil desde novembro 2016, ou seja, em mais de seis anos e meio.
A taxa Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação no Brasil. Quanto mais elevados estiverem os juros no país, mais comprometido fica o poder de compra dos consumidores, limitando o crescimento econômico.
Além disso, vale destacar que o setor serviços é o principal motor da economia brasileira e geralmente exerce a maior influência no PIB do país. O setor responde por cerca de 70% da atividade econômica do país. Como a expectativa é de desaceleração do setor em 2023, a economia brasileira também deverá desacelerar.
O FGV IBRE ainda estimou que, nos quatro primeiros meses de 2023, o PIB brasileiro acumulou R$ 3,4 trilhões, em valores correntes.