Os novos capítulos do escândalo contábil da Lojas Americanas estão ainda mais intensos. A saber, a “novela” envolvendo a varejista teve início há pouco mais de uma semana, e os novos desdobramentos estão dando ainda mais o que falar.
Em síntese, a varejista reportou “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões. No entanto, apesar desse enorme valor, o total de dívidas da companhia soma R$ 43 bilhões entre cerca de 16,3 mil credores. Isso quer dizer que a dívida da Lojas Americanas é duas vezes superior ao valor reportado há quase dez dias.
Vale destacar que a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro, que aceitou o pedido. Assim, a Americanas entrou no chamado “prazo de blindagem”, período de 180 dias marcado pela suspensão de todas as suas dívidas.
Em resumo, a Americanas reportou a existência de operações de financiamento de compras que não estavam “adequadamente refletidas” nas contas de fornecedores. Essas inconsistências foram observadas nas demonstrações financeiras do terceiro trimestre do ano passado.
O escândalo foi tão grande que fez o presidente da Americanas, Sergio Rial, deixar o cargo. Da mesma forma, o diretor de relações com investidores da companhia, André Covre, também renunciou ao cargo. Ambos os executivos assumiram seus postos em 2 de janeiro, ou seja, há menos de dez dias.
“O conselho de administração decidiu, ainda, criar um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos”, disse a Americanas em nota.
Essas inconsistências contábeis intensificaram o processo de desvalorização da Americanas. A saber, o rombo bilionário aconteceu devido à uma operação conhecida como “risco sacado”. Aliás, esta linha de crédito envolve a empresa, seus fornecedores e instituições financeiras.
Como a Americanas não registrou essas operações de maneira correta nos balanços contábeis, dúvidas sobre a solvência da empresa começaram a surgir. Ao mesmo tempo, as incertezas em relação ao grau de endividamento da companhia ajuda a trazer ainda mais insegurança aos investidores.
Em síntese, a operação “risco sacado” pode funcionar de duas maneiras. A primeira delas consiste no fornecedor como tomador de crédito, ou seja, ele que irá se dirigir ao banco e oferecer notas fiscais que ainda tem a receber, solicitando a antecipação do pagamento.
Já na segunda maneira, a empresa que é a tomadora de crédito, e foi justamente isso que aconteceu no caso da Americanas, pelo menos é isso o que se sabe. Assim, a empresa se dirige ao banco e pede uma espécie de alongamento da dívida.
Com isso, o banco quita a dívida com o fornecedor em nome da empresa. A partir desse momento, a companhia passa a dever a quantia ao banco, dessa vez com a cobrança de juros, mas também com um prazo maior para o pagamento do débito.
“O que parece é que, quando a Americanas foi reconhecer a operação no balanço após o pagamento ao banco, ela tirou a dívida que tinha com o fornecedor das ‘contas a pagar’, mas não reconheceu os juros da operação de crédito devidamente no balanço”, explicou um analista ao portal de notícias g1, em anonimato.
Em suma, esse lançamento errado foi equivalente à quantia de R$ 20 bilhões e se refere às “inconsistências contábeis” relatadas pela companhia.
A saber, a Lojas Americanas reportou R$ 20 bilhões como dívida bruta no terceiro trimestre de 2022. No entanto, quando entrou com o pedido de recuperação judicial à Justiça, revelou que o valor das suas dívidas na verdade somava R$ 43 bilhões, valor duas vezes maior que o citado anteriormente.
De acordo com especialistas, esse montante ficou bem superior aos R$ 20 bilhões devido justamente às “inconsistências contábeis”. Em síntese, os R$ 43 bilhões se referem à dívida bruta da Americanas, acrescida do valor referente ao erro no lançamento dos dados contábeis.
Em outras palavras, os R$ 43 bilhões se referem a todo o valor que a companhia deve às instituições financeiras.
Por fim, a expectativa é que a Americanas apresente a primeira versão de um plano de reestruturação no prazo de até 60 dias. Esse documento deverá conter as principais medidas que a varejista irá tomar para balancear sua estrutura de capital.