O professor José Jovino da Silva, 60 anos, da Escola Professora Porfíria de Araújo, no Sítio Onça, na zona rural de Tacaimbó, no Agreste de Pernambuco, decidiu levar as atividades para as casas dos alunos que não têm internet. Por causa da pandemia do novo coronavírus, as aulas presenciais foram suspensas, mas o problema é que a maioria dos alunos não têm acesso à rede.
“A secretaria [de Educação do município] me comunicou que ia trabalhar online com os meninos. Eu falei: ‘aqui na zona rural não tem internet, só quatro casas têm, são 14 casas. Atendia a quatro casas, e dez? Como fazer? “, questionou.
José Jovino decidiu imprimir as atividades na escola e entregar nas residências. Ele sai de motocicleta e deixa as tarefas nas casas dos pequenos, todo início de semana. O professor também recolhe as já respondidas para corrigir. “Eu tenho observado o interesse que os pais têm em resolver as atividades com os meninos”, destacou.
Para a agricultora Adilma Severina, o acompanhamento é importante neste período. “É muita coisa, os meninos vão desenvolvendo mais um pouco, se ficar parado é pior”, opina.
Desempenho
Mesmo com as dificuldades, o professor, que tem 30 anos de carreira, avalia positivamente os resultados. O próprio José Jovino estudou na escola em que leciona, e foi depois do incentivo de uma professora, optou pelo magistério. “O desempenho está bom, quando eu passo nas casas, tiro fotos deles lendo, uma maravilha. Eu tenho notado que a aprendizagem está indo bem”, afirmou.
Um dos alunos é Vitor Samuel, de cinco anos. Dedicado, o menino conta o que aprendeu: “Gosto dele porque ele me ensinou o nome”. Fonte: Se Liga Belo Jardim
Caminho de 80 km no ES
Em outro exemplo, debaixo de um pé de manga, sentada numa tábua de madeira, num terreno de areia batida, é que a professora Joyce Barcelos Barbosa, 34, leciona português, matemática e tudo mais que Edilson Gomes Monteiro, 15, precisa aprender em Libras no 1º ano do Ensino Médio. A cena se repete semanalmente num sítio de Bananal do Sul, arredado distrito da cidade de Linhares, a 145 km da capital do Espírito Santo.
Para chegar e sair da sala de aula mambembe, Joyce dirige cerca de 80 km. Usa seu carro particular e paga, do próprio bolso, a gasolina necessária desde 27 de abril. Foi quando decidiu que, se não percorresse a via sacra, Edilson, que é deficiente auditivo, ficaria perdido num limbo estudantil, sem aprender enquanto a incerta pandemia da Covid-19 não cessasse.
“Edilson não estava indo para a escola desde o começo do ano, antes mesmo da pandemia da Covid-19. Entrei em contato com a família, que explicou que, por conta de uma forte chuva na região, o transporte não passava por uma ponte, que havia ido por terra abaixo. A mãe precisava de ao menos um jeito de levá-lo até a ponte que caiu, o que dá cerca de 20 km”, conta a professora.