As pessoas estão cada vez mais acostumadas a contratar um empréstimo para adquirir todo tipo de produtos ou serviços. Faz algumas décadas, os créditos apenas eram procurados na hora de comprar uma casa, um carro ou, no caso de empresários, para fazer investimentos num projeto.
Hoje em dia, quase tudo pode ser comprado com financiamento, desde roupa, telefones, aparelhos eletrônicos e viagens, entre outros. Um dos aspectos destacados neste ano é o incremento na procura por créditos para o financiamento de estudos. De acordo com a fintech Lendico, se comparado com o mesmo período de 2020, em julho deste ano a demanda por este tipo de crédito cresceu 24%.
O levantamento identificou alguns dos principais motivos:
- Estamos na época de matrículas e rematrículas nas instituições de ensino superior, tanto públicas como particulares.
- Em muitas cidades, as instituições têm anunciado a volta à presencialidade das aulas motivadas pela queda nos indicadores de contágios e mortes assim como os levantamentos das restrições.
- O forte avanço na campanha de vacinação contra a covid-19, com 74,2 milhões de brasileiros com duas doses ou dose única da vacina.
Ainda que todas sejam boas notícias, a procura de créditos para estudos nos jovens reflete também uma realidade preocupante, que é a da situação econômica deles. Acontece que, com a chegada da pandemia e as medidas restritivas dispostas, os jovens foram afetados, não só nos mecanismos de aprendizado – foi preciso uma forte adaptação para se voltar à virtualidade -, mas também na disponibilidade de recursos para manter os estudos.
O crescimento do desemprego e a queda na renda fez com que muitos jovens tivessem que procurar por um trabalho para colaborar na casa, o que diminui o tempo para estudar assim como o dinheiro para poder custear o curso.
A Pesquisa Juventude e Pandemia, desenvolvida pelo Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) em parceria com outras instituições como a Unesco, mostra o quanto a crise econômica agravada pela pandemia gerou consequências perversas sobre as gerações mais novas. Na passagem de 2020 e 2021, o número de estudantes que não trabalhavam, e nem procuravam trabalho, caiu. Na mesma linha, houve um crescimento importante nos alunos que atualmente estão procurando emprego: no caso do ensino médio, eram 33% em 2020, já em abril deste ano passaram para 42%. A maioria deles (44%) está na rede pública.
O fato de procurar por um trabalho para poder pagar a faculdade, também prejudica a própria capacidade de estudo, pois o dia só tem 24 horas e agora, quem tinha como plano se focar 100% na sua formação, precisa dividir o seu tempo com as horas de emprego. Para muitos jovens, isto atrapalha a possibilidade de uma boa preparação. De fato, a pesquisa mostra que 70% dos jovens declararam não estar conseguindo se preparar como gostariam para o ENEM (Exame de Ensino Médio) 2021, considerado o maior vestibular do país.
A insegurança também se refletiu nos dados oficiais do ENEM. 2021 teve o menor índice de inscritos no exame, com 3.109.762, desde 2005.