Uma mulher jovem está com suspeita de hepatite medicamentosa aguda após usar ivermectina para combater um quadro leve de Covid-19. A paciente teria tomado 18mg da medicação sem eficácia científica contra o coronavírus diariamente durante uma semana, o que fez médicos alertarem sobre os riscos do uso indiscriminado de ivermectina para finalidades não descritas na bula.
O caso foi revelado em um post em rede social do pneumologista Frederico Fernandes, presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia. Depois da postagem, o médico sofreu ataques virtuais e bloqueou suas redes sociais.
“Me solicitaram avaliação para uma paciente com hepatite medicamentosa. Está a um passo de precisar de um transplante de fígado. Ganha um troféu quem adivinhar qual medicação foi a culpada. Pois é. Hepatite medicamentosa por ivermectina. 18 mg por dia por uma semana. Por Covid leve em jovem. Muito triste ver uma pessoa jovem a ponto de precisar de um transplante por usar uma medicação que não funciona em uma situação que não precisa de remédio algum”, dizia o post de Frederico.
Apesar de integrar o chamado “Kit Covid” defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como forma de um suposto “tratamento precoce”, a ivermectina é um vermífugo sem qualquer comprovação científica no combate à Covid-19, devendo ser usado para eliminar parasitas do corpo, conforme indicado na bula da medicação.
“Do coquetel que está sendo usado sem evidências de eficácia para Covid-19, as três medicações (ivermectina, cloroquina e azitromicina), apesar de seguras, têm potencial de evolução para hepatite aguda. É uma ocorrência rara, mas o que nos preocupa é que estão sendo usadas em larga escala, sem prescrições, para uma doença que acomete milhões de pessoas. A complicação pode ter uma frequência maior com o uso exacerbado.”, disse ao jornal O Globo o médico hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
O laboratório Merck, fabricante da ivermectina, chegou a vir a público dizer que o remédio não possui eficácia na prevenção ou tratamento da Covid-19. O comunicado ressalta a preocupação do laboratório com a falta de dados que possam defender o uso da ivermectina para finalidades não aprovadas por agências regulatórias.
“Não acreditamos que os dados disponíveis sustentem a segurança e a eficácia da ivermectina além das doses e dos grupos indicados nas informações de prescrição aprovadas por agências regulatórias”, diz um trecho do comunicado da Merck.