De acordo com especialistas, a redução de 20% do imposto de importação feita pelo governo federal não deve impactar o preço dos alimentos. Segundo informações, a oferta externa dos alimentos que tiveram o imposto reduzido é restrita nesse período, enquanto o Brasil possui produção para abastecer o mercado interno.
Vale lembrar que essa redução de impostos é apenas para produtos trazidos do exterior (de países que fazem parte do Mercosul). Em novembro de 2021, o governo também reduziu 20% das taxas de importação, no entanto, a medida não foi o suficiente para frear a inflação no país.
Imposto no valor do feijão
O presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders, acredita que a melhor alternativa nesse momento seria o governo estimular a produção do feijão nacional e não diminuir a alíquota. De acordo com o IBGE, o feijão carioca teve uma alta de 14,6% em apenas 12 meses.
Para especialistas, o Brasil não tem de onde importar o feijão do tipo carioca (o mais consumido e produzido nacionalmente). Vale informar que o Brasil importa da Argentina os tipos: rajado, branco, preto e vermelho. Esses grãos já possuem a tarifa zerada, tendo em vista um acordo do Mercosul entre ambos os países.
“Cerca de 70% do feijão colhido no Brasil é do tipo carioca, o que é um problema, porque, se a gente produz mais que o consumo interno, não tem para onde mandar, porque só o brasileiro come. E, quando falta, você não tem de onde trazer, porque nenhum país do mundo produz”, disse Marcelo Lüders. “Portanto, nem que o governo zerasse a alíquota de importação faria alguma diferença”, complementou.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que nesta safra, a expectativa é de que o Brasil colha 3,14 milhões de toneladas de feijão. Essa quantidade é suficiente para atender o mercado interno, previsto em 2,85 milhões de toneladas.
Saiba mais sobre a produção de outros alimentos
De acordo com a diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva, o Brasil é autossuficiente na produção de arroz, além de importar uma parte de outros países do Mercosul. Segundo Alves, do Cepea, nos últimos 12 meses (encerrados em abril de 2022), houve uma redução de 25,5% na compra do cereal de outros países.
A soma da produção, importação e estoque de arroz no Brasil é de 12,9 milhões de toneladas. “É um cenário, portanto, que contribui para a redução de preços e que faz do arroz nacional um produto mais atrativo”, disse Alves.
O especialista ainda pontuou que somente 9% do arroz produzido no mundo é comercializado entre os países. “Realmente não dá para entender a redução de tarifa. Parece algo mais político do que algo que tem algum impacto econômico efetivo”, acrescenta.
Ao falar sobre a redução do imposto no preço da carne bovina, especialistas também acreditam que a medida deve ter pouco efeito. “O setor de carnes aqui no Brasil é focado em exportar e não tem necessidade de trazer de fora. O que a gente compra, geralmente, são cortes nobres para abastecer churrascarias, restaurantes. Então, a importação não parece ser alternativa nesse momento”, disse Iglesias, do Safras.