Os consumidores brasileiros nunca estiveram tão confiantes em 2023 com a economia do país quanto em maio. Diversos fatores impulsionaram o otimismo das pessoas no mês, como o novo reajuste do salário mínimo e a desaceleração da inflação.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 1,4 ponto em maio, após registrar uma leve queda no mês anterior. Com isso, o indicador chegou a 88,2 pontos, maior patamar desde outubro de 2022 (88,6 pontos), ou seja, em sete meses.
Embora tenha avançado em maio, a confiança do consumidor continua em um nível historicamente baixo, longe da marca dos 100 pontos, que reflete neutralidade. A saber, níveis inferiores a 100 pontos indicam pessimismo dos consumidores, enquanto valores superiores a essa marca representam otimismo.
“Após acomodar no mês passado, a alta da confiança dos consumidores foi motivada pela melhora das expectativas para os próximos meses, desenho que aconteceu também de forma disseminada entre as faixas de renda, com exceção às famílias de maior poder aquisitivo, cuja perspectivas futuras pioraram“, explicou Anna Carolina Gouveia, economista do FGV IBRE.
Expectativa com futuro impulsiona confiança
Em maio, o avanço do ICC foi impulsionado pelas perspectivas em relação ao futuro, apesar da diminuição da confiança sobre a situação atual do país. Em suma, o ICC possui dois componentes, o Índice de Situação Atual (ISA) e o Índice de Expectativas (IE), que seguiram direções opostas neste mês.
Segundo o levantamento, o ISA caiu 0,8 ponto, para 71,3 pontos, após crescer mais de 2,0 pontos em março e se manter estável em abril, mês em que atingiu o melhor resultado desde outubro de 2022 (74,5 pontos).
Por sua vez, o IE voltou a subir no país, após a queda de 0,4 pontos registrada em abril. A forte alta de 2,8 pontos, para 100,4 pontos, fez o indicador alcançar o maior nível desde março de 2019 (101,1 pontos).
Além disso, o IE voltou a superar a marca de 100 pontos, indicando otimismo dos consumidores com o futuro. Por outro lado, o indicador referente à situação atual do país continua muito abaixo de 100 pontos.
Entretanto, a economista do FGV IBRE disse que “o cenário de alto endividamento das famílias, crédito caro e incertezas econômicas ajudam a manter o indicador em patamar baixo e sensível a flutuações constantes, tornando difícil uma sinalização mais clara de uma recuperação sustentada da confiança“.
Salário mínimo, inflação e mercado de trabalho
Segundo Anna Carolina, as perspectivas para o futuro estão bastante otimistas. Há três principais fatores para o aumento da confiança para os próximos meses:
- Novo reajuste do salário mínimo;
- Desaceleração da inflação no Brasil;
- Resiliência do mercado de trabalho do país.
No final de 2022 e início de 2023, a inflação e os juros elevados derrubaram a confiança dos consumidores. Ao mesmo tempo, as projeções para o mercado de trabalho do país não eram tão favoráveis. Contudo, o cenário do Brasil já está bem diferente.
No caso dos juros, a taxa Selic continua em 13,75% ao ano, maior patamar desde novembro de 2016. No entanto, as expectativas para uma redução dos juros nas próximas reuniões do Banco Central (BC) animam o mercado, que já acredita em uma aceleração da atividade econômica brasileira.
A desaceleração da inflação também animou, mas vale destacar que a taxa ainda está mais alta do que deveria. Diante disso, o BC continua atento à inflação do país, mas deverá começar a reduzir os juros já na próxima reunião.
Ao mesmo tempo, o novo salário mínimo, que entrou em vigor no dia 01/05/2023, aumentou a confiança dos consumidores.
Em suma, o piso nacional subiu de R$ 1.302 para R$ 1.320, aumento de 1,8%. Já na comparação com o salário mínimo de 2022 (R$ 1.212), o reajuste chegou a 8,9%, elevando o poder de compra do consumidor.
Por sua vez, o mercado de trabalho brasileiro ainda enfrenta dificuldades. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desocupação cresceu. Entretanto, esse resultado já era esperado, pois o movimento de queda da ocupação e de expansão da procura por trabalho é característico dos primeiros meses dos anos.
Confiança cai entre famílias de renda alta
No mês de maio, a confiança entre as faixas de renda cresceu de maneira expressiva. A única exceção foi a faixa mais elevada, cuja queda indicou redução do otimismo tanto com o presente quanto com o futuro.
Confira abaixo o índice de confiança dos consumidores por faixa de renda:
- Até R$ 2.100: 86,6 pontos;
- Entre R$ 2.100,01 e R$ 4.800: 83,1 pontos;
- Entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600: 94,3 pontos;
- Acima de R$ 9.600: 90,5 pontos.
Cabe salientar que o maior crescimento da confiança veio das famílias de menor rendimento (+6,1 pontos), cujo indicador estava em 80,5 pontos em abril. Em seguida, ficaram as faixas de renda entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600 (+3,4 pontos) e entre R$ 2.100,01 e R$ 4.800 (+2,7 pontos).
No caso das famílias de maior rendimento, o índice de confiança caiu 1,4 pontos. De todo modo, as quatro faixas de renda continuam com taxas inferiores a 100 pontos, indicando pessimismo no país.