Com alta do gás de cozinha, lenha se torna protagonista nas cozinhas brasileiras
A lenha está sendo utilizada em grande parte das cozinhas brasileiras durante a pandemia. Esse é o resultado da crise que colocou o gás de cozinha na faixa dos R$ 100 e que, agora, corrói o orçamento das famílias. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2020, o consumo de restos de madeira aumentou 1,8%, em comparação com 2019.
Nesse contexto, algumas famílias apenas estão utilizando o botijão de gás em caso de emergências e, outras até venderam o fogão para fazer dinheiro. O resultado disso é que algumas famílias estão necessitando recorrer à lenha e ao carvão vegetal para cozinhar, o que representa um retrocesso em saúde e qualidade de vida.
Até meados da década de 70, 80% dos lares brasileiros utilizavam pedaços de lenha para cozinhar e se aquecer. Porém, o quadro se alterou com a massificação da eletricidade e do gás liquefeito de petróleo (GLP), o tradicional gás de cozinha. Hoje, a eletricidade é a principal fonte de energia dos lares brasileiros, mas mesmo assim, a lenha ainda ocupa a segunda colocação na matriz residencial.
Dessa maneira, o gás estava sendo mais consumido na cozinha do que a lenha até 2017, quando o preço do botijão começou a subir sem parar. O disparo dos preços começou após a Petrobrás alterar sua política de preços e começar a reajustar o GLP toda vez que a cotação do petróleo e o câmbio subiam, assim como já fazia com a gasolina e o óleo diesel.
Disparo do preço do gás de cozinha
Com a valorização da commodity no ano passado, o gás de cozinha disparou de preço no Brasil. Como resultado, houve um grande aumento no consumo de lenha em 2020, acoplados ao aumento da inflação e deterioração do mercado de trabalho no país. As estatísticas do ano de 2021 ainda não estão disponíveis.
Segundo a projeção do órgão de planejamento energético do governo, o uso de lenha vai encolher apenas com “a retomada do crescimento da economia e o aumento da renda”. É esperado que a partir de 2022, a economia retome em escalada.
“Até a metade do século 18, a lenha era a energia predominante, antes da invenção da máquina a vapor. Com o avanço tecnológico, o carvão e, depois, o petróleo e o gás assumiram a dianteira como fonte de energia. O avanço da lenha no Brasil representa um retrocesso em 200 anos”, afirma Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
Sem fuga dos altos preços
A demanda por lenha segue entre os mais pobres do país, que é a fatia da população que mais sofre com o aumento dos preços e a alta inflação. Para essa fatia da população, o peso da inflação nos gastos do dia a dia é 32% maior do que para os mais ricos, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Apenas neste ano, a Petrobras já reajustou o preço do gás de cozinha em 47,53%. Sendo assim, desde o início de 2020, a alta acumulada é de 81,5%. O aumento mais recente, de 7%, foi anunciado na sexta-feira (8), após 95 dias de estabilidade e forte pressão política para segurar o preço.