O leilão das frequências do 5G ocorreu faz pouco mais de um mês, mas antes mesmo dele, projetos com a tecnologia já eram desenvolvidos no Brasil. Um exemplo está no centro de distribuição da Huawei, fabricante chinesa de produtos de telecomunicações e tecnologia. A empresa conseguiu uma autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para montar uma rede 5G non standalone (NSA) privada, com conexão fornecida pela Vivo.
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O projeto permitiu que a empresa implementasse uma série de inovações em seu centro de distribuição localizado em Sorocaba (SP) e permitir o que chama de Logística 4.0. Em um espaço de 22 mil metros quadrados, a empresa implementou robôs autônomos, Internet das Coisas (IoT), entre outras tecnologias, para integrar o digital ao físico.
O que mais chama a atenção é o AGV (autonomous guided vehicle), um pequeno carrinho autônomo usado para carregar palets e prateleiras com produtos. Capazes de aguentar 800 quilos, ele transporta as cargas do armazém de um lado para o outro de acordo com sua programação, parando quando algo ou alguém aparece em sua frente e indo se carregar sozinho quando necessita de bateria.
Emerson Oliveira, diretor de Logística e responsável pelo CD da Huawei, explica que há uma programação que garante a operação de todos os 12 AGVs em conjunto. Eles trabalham de acordo com a demanda da distribuição e, caso haja muito trabalho, os robôs sabem que precisam carregar apenas um pouco de sua bateria para manter a produtividade.
Tecnologia RFID simplifica processos
Outra tecnologia que mudou o trabalho dentro do armazém foi a etiqueta RFID. Até podem ser menos chamativas que um robô autônomo, mas foi o RFID que ajudou a otimizar e eliminar erros operacionais. Oliveira destaca que a tecnologia é usada tanto no recebimento quanto na expedição, além da contagem de estoque.
No primeiro, tudo que entra no centro de distribuição recebe uma etiqueta, para já entrar no sistema de forma digitalizada. Os palets também são etiquetados e o RFID é lido por um sensor na própria empilhadeira, que vai indicar ao operador onde deve ser guardada a carga.
Essa etiqueta também vai ajudar na hora da contagem, que no galpão da Huawei é feita a cada três meses. O mesmo leitor da empilhadeira vai passar de prateleira em prateleira lendo as etiquetas, o que leva em torno de duas horas para ser feito – quando se leva em conta apenas o estoque de matéria prima.
“Apenas esse processo, levava em torno de dois dias”, conta Oliveira. A contagem de todo o centro de distribuição agora leva metade do tempo para ser realizada. “Caiu de quatro dias para dois”, garante o diretor de Logística.
Por fim, na expedição, as etiquetas RFID garantem que o produto certo está sendo enviado para o cliente correto. Na hora de passar a carga para o veículo a fazer a entrega, leitores RFID dão o ok para o pessoal que está fazendo o transporte. Sem essa autorização, o produto não pode sair do centro de distribuição, o que eliminou o erro no processo.
Oliveira diz que o trabalho da Huawei agora é buscar um fornecedor nacional de RFID. Hoje, as etiquetas vêm da China, mas já há conversas com uma empresa de Sorocaba para que seja possível adquirir o insumo no mesmo preço ou até mais barato.
Empresa aumenta em 25% eficiência do armazém
Os AGVs foram uma das iniciativas que ajudou a Huawei a alcançar uma melhoria de 25% na eficiência operacional geral. Mas o projeto de digitalização como um todo trouxe ainda mais ganhos, como a redução de 30% no ciclo de produção, a melhoria de 20% no giro de estoque e a eliminação total de erros operacionais e do uso de papel.
Outros resultados observados foram: maior controle do armazém e do estoque; monitoramento amplo dos veículos; minimização de problemas com a observação contínua dos veículos que identificaram falhas mecânicas antes que acontecessem e ampliação das conexões sem fio.
Mas por que usar o 5G? Segundo Oliveira, diretor de Logística do armazém, o 5G traz a baixa latência que o Wi-Fi não tem, garantindo a segurança da operação, principalmente dos AGVs. Os robôs autônomos, inclusive, não contam com um chipset 5G, mas com uma CPE 5G, que converte o sinal do 5G em Wi-Fi para eles operarem com maior segurança.
Os próximos passos do projeto começam a ser definidos agora. Em janeiro, empilhadeiras autônomas devem começar a operar no galpão, enquanto o uso de drones para realizar o inventário vai passar a ser estudado. Já a migração para uma rede standalone está descartada, pelo menos por enquanto, segundo Oliveira.