Cenário internacional AUMENTA incerteza econômica no Brasil
O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) subiu 4,1 pontos em outubro deste ano, na comparação com o mês anterior. Com isso, o índice chegou a 110,9 pontos, voltando à faixa desfavorável.
A saber, o IIE-Br atingiu em julho o menor nível em quase seis anos (103,5 pontos). Contudo, subiu em agosto, caiu em setembro, e voltou a subir em outubro, ou seja, está apresentando um movimento de alternância entre os meses.
Ao ultrapassar a marca de 110 pontos, o indicador voltou à faixa desfavorável, refletindo o aumento da incerteza no país. Aliás, o IIE-Br seguiu abaixo dessa marca nos últimos quatro meses, mas voltou a alcançá-la.
A propósito, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), responsável pelo levantamento, divulgou as informações nesta semana.
Entenda o indicador de incerteza da FGV
Em resumo, taxas superiores a 100 pontos indicam que há algum grau de incerteza econômica no país, enquanto valores abaixo dessa marca refletem o contrário, ou seja, o país se mostra confiável com a economia brasileira.
Na verdade, a faixa de 100 pontos reflete neutralidade do indicador. Assim, a marca atingida em outubro, de 110,9 pontos, indica um grau razoável de incerteza no país, e não mais superficial.
Vale destacar que o grau de incerteza vinha se mantendo em um patamar relativamente estabilizado nos primeiros meses de 2023. Embora o indicador tenha avançado no início do ano, as altas não foram muito expressivas e não elevaram o grau de incerteza de maneira significativa.
Já no segundo e no terceiro trimestres, as quedas prevaleceram, e não foram apenas superficiais. Por isso que o IIE-Br caiu para o um nível baixo, algo que não era visto há anos, mas as incertezas com o cenário internacional impulsionaram as preocupações no país.
Componente de Expectativas derruba incerteza no país
De acordo com a economista do FGV IBRE, Anna Carolina Gouveia, os fatores externos exerceram forte impacto no IIE-Br em outubro. As preocupações vindas do exterior impulsionaram a incerteza econômica no país, e isso se refletiu na alta do indicador.
“A alta da incerteza em outubro foi influenciada principalmente por fatores externos como o conflito no Oriente Médio e, em menor grau, pelas eleições na vizinha Argentina“, disse a economista.
Cabe salientar que o IIE-Br possui dois componentes, o de Mídia e o de Expectativas. Em outubro, os componentes seguiram a mesma trajetória, exercendo impactos que puxaram o indicador para cima.
Em síntese, o componente de mídia exerceu o maior impacto no IIE-Br, ao subir 4,1 pontos e influenciar a incerteza do país em 3,6 pontos. “Ambos os componentes do indicador subiram, com a maior influência dada pelo componente de Mídia, que mede o nível de incerteza através das notícias econômicas“, disse Anna Carolina.
Por sua vez o componente de expectativas teve uma alta de 2,4 pontos, impactando o indicador em 0,5 ponto, já que exerce menor influência no IIE-Br.
“O componente de Expectativas subiu motivado pelo aumento modesto das dispersões para as previsões da inflação 12 meses à frente, influenciado pelo impacto do conflito, mesmo que temporário, no preço do barril de petróleo e a possibilidade de um menor espaço para o corte das taxas de juros no Brasil“, explicou a economista.
Incerteza disparou no início da pandemia
O cenário atual é completamente diferente do observado nos últimos anos. Em suma, a incerteza econômica no Brasil disparou em 2020 devido à pandemia da covid-19.
Em março daquele ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia, e isso fez o IIE-Br subir impressionantes 52 pontos, para 167,1 pontos. No mês seguinte, houve outra disparada da incerteza, e o indicador subiu mais 43,4 pontos, alcançando 210,5 pontos em abril, maior nível da série histórica.
A título de comparação, antes da pandemia, o recorde do indicador havia sido alcançado em setembro de 2015, quando o IIE-Br chegou a 136,8 pontos. Em outras palavras, o novo recorde, registrado em abril de 2020, ficou 53,9% superior ao maior patamar observado antes da crise sanitária.
O que esperar para os últimos meses do ano?
Embora o IIE-Br venha apresentando dados voláteis, mas ainda com o predomínio das quedas, o exterior preocupa e pode fortalecer ainda mais a incerteza no país nos próximos meses.
“O cenário internacional desafiador vem gerando volatilidade do indicador desde agosto, interrompendo a sequência de quedas que vinham ocorrendo desde abril“, disse Anna Carolina.
A maior preocupação, do ponto de vista econômico, refere-se ao aumento nos preços do petróleo, caso os conflitos entre Israel e o grupo islâmico extremista Hamas durem por muito mais tempo.
Em resumo, preços mais elevados do petróleo tendem a encarecer os combustíveis. Como estes itens exercem muita influência na inflação dos países, o temor entre os analistas é que haja uma elevação global da taxa inflacionária. Portanto, não teria como o Brasil fugir dos impactos do conflito, assim como boa parte dos países.