Lembra do consignado do Auxílio Brasil? A modalidade de empréstimo voltada para os usuários do programa social foi lançada no segundo semestre do ano passado. Até agora, no entanto, a Caixa Econômica Federal segue fazendo um esforço para não revelar os números de lucros e de possíveis prejuízos que a instituição teve ao liberar o benefício.
Depois de muitas tentativas, o portal de notícias Uol conseguiu um parecer da Controladoria Geral da União (CGU) pela liberação do documento em questão. A partir deste movimento, a Caixa liberou os textos, mas o envio contava com 17 páginas totalmente tarjadas, ou seja, com várias linhas inelegíveis.
Em tese, apenas a Caixa Econômica Federal poderia retirar as tarjas. Contudo, a reportagem do Uol conseguiu o documento sem as marcas e descobriu que o banco tentou esconder informações sobre os alertas de riscos e de perdas que o banco poderia ter, caso aderisse ao consignado do Auxílio Brasil.
O que revelou o documento
Ainda segundo informações do portal Uol, no segundo semestre do ano passado, o banco foi notificado por especialistas de ao menos oito riscos que ele poderia estar contratando ao entrar no sistema do consignado. Além disso, o texto também revela que o governo reconheceu que instituiu o procedimento às pressas.
O documento tarjado também teria revelado que o consignado do Auxílio Brasil foi iniciado no segundo semestre do ano passado ainda “com dúvidas e pendências que representam riscos financeiros e jurídicos”. Vale lembrar que entre os grandes bancos que atuam no país, apenas a Caixa Econômica Federal aceitou entrar no sistema.
No início deste ano, uma outra reportagem mostrou que 99% dos créditos consignados liberados pela Caixa Econômica Federal foram aceitos antes do segundo turno das eleições presidenciais. Logo depois do pleito, que culminou na derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o número de concessões do consignado do Auxílio Brasil desabaram.
Segundo analistas políticos, os dados revelados pela reportagem poderiam servir como mais um indicativo de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia ter usado um banco público para tentar interferir no resultado das eleições presidenciais. Como dito, o consignado do Auxílio Brasil foi liberado entre o primeiro e o segundo turno.
Contudo, o fato é que o atual governo também está atuando para esconder os dados de lucro ou de prejuízo com o consignado do Auxílio Brasil. A avaliação é de que a instituição não quer mostrar para o grande público qual seria a real situação da saúde financeira do banco.
O que a Caixa continua escondendo
Ainda de acordo com informações oficiais, algumas informações ainda não foram repassadas pela atual gestão da Caixa Econômica Federal, mesmo após sucessivos pedidos de diferentes veículos de imprensa. Ainda falta vir a público, os seguintes documentos:
- Documentos internos que explicam por que a Caixa decidiu conceder o consignado do Auxílio Brasil apesar dos problemas apontados pelo próprio banco;
- Documentos internos que explicam por que a Caixa cortou o consignado após a derrota de Bolsonaro.
O consignado do Auxílio Brasil
O consignado do Auxílio Brasil funcionava como uma espécie de empréstimo voltado para as pessoas que faziam parte do benefício social. A ideia era que o usuário recebesse o dinheiro e depois tivesse que pagar a dívida na forma de descontos mensais nas parcelas do programa de transferência de renda.
Depois da mudança no comando da Caixa Econômica Federal, a nova presidente do banco, Rita Serrano, decidiu retirar a instituição da linha. Assim, a Caixa se juntou ao Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Itaú e Nubank, que desde o início tinham se negado a entrar no sistema. Todos eles alegaram que existia um risco para a reputação destas instituições.