A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 51,23 bilhões no primeiro trimestre de 2023. Isso quer dizer que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta nos três primeiros meses deste ano.
No trimestre, os depósitos somaram R$ 908,37 bilhões, enquanto os saques totalizaram R$ 959,6 bilhões. Ao subtrair estes valores, o saldo da poupança ficou negativo, como vem acontecendo nos últimos tempos.
Em resumo, a retirada líquida observada foi a maior para os primeiros trimestres desde o início da série histórica, em janeiro de 1995. A propósito, os valores são nominais, ou seja, não há atualização pela inflação, mas apenas a divulgação dos números referentes aos depósitos e saques.
Vale destacar que, as retiradas da poupança superaram os depósitos em R$ 45,14 bilhões nos dois primeiros meses de 2023. Esse valor também foi recorde para o período e refletiu a busca cada vez maior dos brasileiros por recursos da poupança.
Confira abaixo o volume retirada da poupança em cada mês de 2023:
- Janeiro: R$ 33,63 bilhões;
- Fevereiro: R$ 11,52 bilhões;
- Março: R$ 6,08 bilhões.
De acordo com o Banco Central (BC), responsável pela divulgação dos dados, a caderneta de poupança encerrou 2022 com uma retirada líquida recorde de R$ 103,237 bilhões. Em outras palavras, os brasileiros nunca retiraram tanto dinheiro da poupança em 28 anos quanto o fizeram no ano passado. E os dados de 2023 estão seguindo o mesmo caminho.
Entenda a saída líquida da poupança no início do ano
O BC explicou que os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Março ainda pode ficar marcado por pagamento de compras parceladas do final do ano passado ou de viagens de férias.
Tudo isso ajuda a impulsionar os saques da caderneta, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. Com isso, há uma redução expressiva dos depósitos na caderneta, enquanto os saques aumenta, e isso explica a saída líquida recorde no início deste ano.
Com o acréscimo do resultado de março, o volume total aplicado na poupança caiu de R$ 968 bilhões para R$ 967,4 bilhões. Em síntese, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada em fevereiro deste ano.
Apesar das retiradas líquidas, a caderneta de poupança vem registrando saídas menos significativas com o passar dos meses. Isso é um indicativo que os resultados podem chegar ao campo positivo em pouco tempo, caso as retiradas percam ainda mais força no país.
Cenário atual do Brasil
Os resultados de março refletem o cenário atual do Brasil. Segundo o BC, o endividamento das famílias com bancos chegou a 44,2% em março, no acumulado dos últimos 12 meses. A título de comparação, a taxa ficou 7,6 pontos percentuais superior ao nível registrado no mesmo mês do ano passado.
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,3% da população estava endividada no país em março.
Por sua vez, a taxa de inadimplência atingiu 29,8% das famílias do país no mês passado. Em suma, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Diante desse cenário, muita gente acaba sacando o dinheiro que tem guardado na poupança para pagar contas e se livrar das dívidas, ou pelo menos reduzi-las.
Ao mesmo tempo, a elevada taxa de juros no país também ajuda a aumentar os saques da poupança. Embora a caderneta esteja rendendo mais devido à taxa Selic elevada, outros investimentos oferecem retornos bem mais interessantes. E isso vem atraindo muitas pessoas, que retiram o dinheiro da poupança e o aplicam em outros fundos.
Rentabilidade da poupança
A poupança não é mais sinônimo de rentabilidade há muito tempo. Em resumo, a aplicação financeira mais tradicional do país vem registrando resultados pouco positivos nos últimos anos.
Por isso, os brasileiros que pensam em investir dinheiro na aplicação financeira com o objetivo de ver o valor “render alguma coisa” devem repensar suas ações.
Como os juros altos no país tendem a aumentar o rendimento dos ativos da renda fixa, a poupança acaba beneficiada. Contudo, existem vários outros ativos que estão rendendo bem mais que a caderneta.
De acordo com um levantamento de Einar Rivero, da consultoria TradeMap, o retorno financeiro líquido de várias investimentos superou o da poupança em 2022:
- IHFA: 7,45%;
- IDIV: 6,49%;
- CDI: 6,24%;
- Ima Geral: 3,66%;
- Poupança: 2,00%.
Por fim, vale destacar que o IHFA, que apresentou a maior rentabilidade em 2022, é um índice do mercado financeiro que calcula a média do desempenho dos fundos de investimento multimercado.